Esse tema sem sido bastante comentado nos últimos tempos, mas quase todo mundo que tenta explicar o que são NFTs não entende porra nenhuma do que está falando.
Para conhecer um pouco melhor o assunto, recomendo que vejam, antes, o post Explicando Blockchain para minha mãe.
Vitalik Buterin
Pra começar, vamos conhecer o menino Vitalik, atualmente com 28 anos, residente de Singapura, bilionário e criador do Ethereum (ETH), a segunda maior “moeda” do universo cripto. E coloco entre aspas porque o Ethereum é muito mais do que uma moeda, e eu demoraria dias tentando explicar o quão complexo é o ecossistema. Mas em resumo, o menino Vitalik teve a ideia que, no meu entendimento, foi a primeira grande evolução do mercado cripto: diferente do Bitcoin, que nasceu para imitar o sistema financeiro, só que de forma descentralizada e com objetivo de se tornar uma moeda de fato, o Ethereum nasceu como uma caixa de ferramenta para que qualquer pessoa possa criar suas próprias “moedas” e possa registrar literalmente qualquer coisa na Blockchain.
Parando para pensar, a Blockchain pode ser usada como um “carimbo do tempo”, uma vez que todas as transações são armazenadas com data e hora e são assinadas digitalmente. Sendo assim, serviços como cartórios, juntas comerciais, contratos de compra e venda de bens, imóveis, carros e quaisquer outros tipos de registro podem ser (e provavelmente serão) feitos por meio de Blockchain. Para tornar isso possível, o sistema precisa suportar pequenos softwares que podem realizar operações de forma independente. Para evitar fraudes, após ser criado na Blockchain, seu código fonte não pode ser alterado, mas precisa ser aberto e auditável.
Foi então que, em 2014, Gavin Wood propôs a criação de uma linguagem chamada Solidity, que foi desenvolvida pela equipe do Ethereum e é o coração desse ecossistema.
Solidity, Smart Contract e padrões ERC
Aqui não vou entrar em questões técnicas envolvendo o Solidity pois é possível escrever um livro somente deste tema. O mais importante a se saber é que essa linguagem permite criação de pequenas aplicações (softwares), que, por sua vez, podem ser enviadas para a Blockchain da Ethereum ou de Sidechains que utilizem a mesma tecnologia, e suas funções internas podem ser acessadas por meio de uma interface (ABI). Portanto os tão famosos Smart Contracts nada mais são do que “mini programinhas rodando dentro da Blockchain”, por isso o nome marqueteiro de “Contratos inteligentes”. Eu discordo muito deste termo, pois o contrato precisa ser feito por um programador, e, caso essa pessoa faça alguma besteira ao desenvolvê-lo, coloca em risco todos os registros presentes. Não me parece que nem todos os contratos são inteligentes, não é mesmo?
Sabendo o quão imbecis ou mesmo mal intencionados alguns programadores podem ser, foram criados os padrões ERC, cujo objetivo é tentar reduzir a possibilidade de falha na hora de criar contratos simples, como Tokens, NFTs, etc. Qualquer desenvolvedor pode propor um padrão ERC, enviando uma proposta (EIP) para o comitê de aprovação do Ethereum. Os padrões mais conhecidos até o momento são ERC-20 (Token), ERC-721 (NFTs), ERC-1155 (Hibrido).
NFTs
Certo, agora vamos ao tema do post… Afinal, que diabos são os NFTs? Se eu fosse comparar com alguma mais tradicional, NFTs são como certificados de originalidade de obras de artes ou pedras preciosas. Quem já teve a experiência de comprar uma moeda/barra de ouro, ou algo semelhante, sabe que junto à moeda vem um certificado de autenticidade e pureza. Sem esse certificado é quase impossível vender posteriormente esse item. A mesma coisa ocorre com quadros, jóias caras, pedras preciosas, relógios de luxo, etc.
É agora que sua cabeça explode sem entender nada do que eu falei, pois tudo que você viu na Internet foram fotos de macacos que valem milhões de dólares… Um NFT nada mais é do que um registro dentro de uma Blockchain, utilizando um Smart Contract no padrão ERC-721 ou ERC-1155 (normalmente), onde, dentro desse contrato, pode existir uma limitação de quantidade e uma numeração única.
Vamos destrinchar o termo NFT: non-fungible token ou Token não fungível. Como falamos anteriormente, o termo “Token” denomina uma aplicação dentro da Blockchain, normalmente criada via um Smart Contract. Já o termo “não fungível” serve para indicar que uma unidade não se equivale a outras unidades desse Token. No caso do padrão ERC-20, uma unidade do Token tem exatamente o mesmo valor de qualquer outra unidade, por exemplo: 1 Bitcoin sempre vai ter o mesmo valor outro 1 Bitcoin. No caso de NFTs, o Token ID 01, pode ter valor diferente do Token ID 02, pois eles são certificados referentes a dois ativos diferentes: o Token ID 01 pode ser uma obra de Picasso e o ID 02 pode ser uma foto de gatinho, e eles podem conviver em harmonia dentro do mesmo Smart Contract.
Mas então é possível ter vários NFTs dentro do mesmo contrato? Sim! Vamos pegar o caso do Axie Infinity: todos os Axies são NFTs dentro de um mesmo contrato (inclusive o código fonte pode ser visto aqui). Ao analisar o contrato, podemos ver que este utiliza o padrão ERC-721, e que ele grava apenas um código numérico, para o qual deram o nome de “Gene”. Esse número define as características do boneco: qual rabo, qual chifre, etc., e a representação gráfica do NFT é montada em tempo real, a partir desse “código do Gene”. Logo, o que está de fato armazenado na Blockchain é uma lista simples, contendo: Wallet do proprietário, ID do NFT e Gene.
Existe outra forma de criar NFTs, onde o contrato recebe uma lista de dados por uma URL anexada ao registro, porém este tipo de contrato requer informações que podem ser manipuladas pelo servidor web responsável pela URL. Inclusive houve um caso recente de um desenvolvedor que foi banido do Open Sea por criar uma NFT cuja imagem mudava de acordo com o IP de quem estava vendo. Para “evitar” esse tipo de prática, existem ferramentas como IPFS, que mantém os metadados imutáveis. Então, caso esteja pesando em comprar um NFT, verifique o contrato e se este utiliza IPFS nos links.
Resumindo, aquelas fotos de macacos são imagens comuns, o que de fato tem valor são seus certificados de autenticidade.
E você, André, o que acha de NFTs?
Eu gosto do conceito e da tecnologia, já quanto ao valor, acho subjetivo. Assim como um quadro de Picasso não é precioso para mim, o valor das coisas é muito relativo. Para uma coisa ter valor precisa ter demanda, logo, se tem alguém disposto a pagar, tem valor; se ninguém quer, não tem valor. Simples assim.
Eu particularmente não tenho investimentos em NFTs, mas caso encontre algum que ache interessante, poderia comprar sem problema, se fizer sentido para minha realidade financeira no momento. Acredito que NFTs colecionáveis em longo prazo vão ser tornar uma espécie de carteirinha de assinante de clube: você adquire para fazer parte de um seleto grupo de pessoas e algumas experiências exclusivas aos membros desse clube é que dão valor ao ativo, assim como já ocorre com algumas coleções.