Um erro comum de vários projetos indie, e mesmo de quem está pensando em entrar no mercado, é achar que, para desenvolver um jogo, você precisa fazer tudo do zero ou ter rios de dinheiro para montar uma equipe com todos os profissionais necessários para desenvolver um jogo.

Engines

A primeira vez que tentei entrar no mercado de desenvolvimento de jogos, lá nos anos 2000, a realidade era completamente diferente. Grandes jogos eram produzidos somente por profissionais de alto padrão, pois era necessário criar literalmente tudo internamente. As produções demoravam muito tempo, já que o “coração” de jogo precisava ser criado antes. Com a engine do jogo criada, as empresas tentavam aproveitar de várias formas todo esforço investido, criando vários mods e spinoffs, até que a tecnologia fosse evoluindo e novas atualizações abrissem outras possibilidades. A mesma engine GoldSource em que foi criado o Half-Life foi utilizada depois para a criação do Counter-Strike; a engine que foi usada para criar o jogo Unreal, hoje é utilizada para desenvolver dezenas de outros jogos. Com o tempo, algumas empresas perceberam que disponibilizar essa tecnologia e ganhar uma comissão por seu uso faz mais sentido do que manter tudo privado e investir em títulos que podem não dar certo. Hoje temos diversas opções de engines de alta qualidade, para atender até os mais exigentes mercados. As mais conhecidas são: Unreal, Unity, Blender e Lumberyard.

Assets

Com o advento das Engines, surgiram também formas de criar, compartilhar e vender soluções para serem usadas dentro delas. Hoje, em marketplaces como Unity Asset Store e Unreal Marketplace, é possível encontrar uma infinidades de plugins, modelos e ferramentas, que torna desnecessário perder tempo e dinheiro contratando uma série de profissionais, sendo que a qualidade desses assets pode chegar ao nível dos utilizados por grandes estúdios, como Blizzard, Ubisoft, entre outros. Frequentemente essas lojas fazem promoções, com pacotes bem acessíveis, até mesmo gratuitos.

Freelancers

Vivemos em tempo que contratar e pagar pelo serviço de freelancers de qualquer lugar do mundo, através de plataformas que garantem a entrega do que foi solicitado, está cada vez mais simples e barato, por isso não faz tanto sentido contratar funcionários para algumas atividades.

Steam, Apps Stores e outras lojas

Antigamente, sem ter um caminhão de dinheiro para investir em marketing, era praticamente impossível lançar um jogo mundialmente, mas hoje temos lojas como Steam, Google Play e Apple Store, que tornam possível publicar e vender jogos de maneira simples. É óbvio que nenhuma delas faz milagres, por isso provavelmente será necessário investimento para compra de usuários em grande parte dos casos, mas só de não ter que pensar em distribuição, launcher, atendimento, reembolso, integrações com gateways de pagamento, etc., compensa os 30% de comissão cobrada pela loja.

Seja realista

Tentar desenvolver um jogo do zero, criar os modelos, programar, produzir áudio, lançar, distribuir, sem experiência nem dinheiro, beira a burrice. Então não tente fazer tudo, siga as dicas de quem tem experiência no assunto e tenha algum êxito nesse desafio. Uma coisa importante de empreender é entender suas limitações, tanto técnicas quanto financeiras, e trabalhar sendo o mais realista possível dentro dessas limitações. Procurar alcançar resultados sólidos em pouco tempo, errar rápido para mudar e melhorar ainda mais rápido. Não perca anos da sua vida desenvolvendo um produto que tem grandes chances de fracassar, jogando no lixo todo tempo e dinheiro investido.

Contato com seus jogadores

Particularmente acredito que o fator determinante para o sucesso de um jogo é a comunidade. Ter pessoas que confiam no seu trabalho e que estão dispostas a investir tempo e dinheiro em seu jogo não é fácil, ouvir a comunidade é fundamental para planejar os próximos passos. Manter a comunidade ativa e demonstrar progresso reduz muito o risco do fracasso. Sem isso, tudo que você idealizou para seu projeto são apenas especulações e gosto pessoal. Antes de tentar ganhar dinheiro com desenvolvimento de jogos, reflita: Quantas vezes você pagou por um jogo ou por conteúdos dentro de jogos? O que te fez gastar esse dinheiro? Você gastaria alguma coisa no seu próprio jogo se ele não fosse seu? Você jogaria seu jogo se ele não fosse seu? Se nem você jogaria seu jogo, ou não gastaria dinheiro nele, por que acha que outras pessoas fariam isso?

Dinheiro é importante sim!

Um erro comum, que até mesmo eu cometo de vez em quando, é não pensar no dinheiro e ser muito idealista. Um dos nossos mentores até fala que eu sou muito apaixonado pelas coisas, e isso nos deixa um pouco míopes. Deixamos de tomar decisões de negócio e paramos de tratar o desenvolvimento como um empreendimento. Sem dinheiro você não faz nada! Não compra os assets, não contrata pessoas, não paga uma boa assessoria de impressa, não divulga… Não vai aparecer um anjo do céu com o bolso cheio de dinheiro para investir no seu projeto, esquece! Investidores no Brasil, na sua grande maioria, só investem em negócios estruturados, que possuem possibilidades reais de potencializar seus investimentos. Separe seus sonhos para fazer como hobbie e trate negócios como negócios. Nem sempre o caminho vai ser o mais legal ou o que você mais gosta, mas ninguém falou que seria. Você provavelmente vai odiar o que faz em algum momento, mas quando as coisas dão certo e milhares de pessoas usam seu produto, a recompensa é enorme, e todos os seus “achismos” não importam mais.