Existem coisas que os milionários não contam. Vou passar um pouco da minha experiência real, de alguém que saiu do zero e se tornou multimilionário aos 30 anos.
Ninguém está preparado
Se você não veio de família rica e viveu a vida toda em meio à fartura financeira, entenda bem o que eu vou falar agora: VOCÊ NÃO ESTÁ PREPARADO PARA SER MILIONÁRIO. Ter dinheiro requer uma série de disciplinas que você negligenciou a vida toda. O padrão do cidadão brasileiro, e acredito que na maioria dos países, é viver em ciclo de endividamento constante, vivendo do fluxo de recebimento de um emprego. Um percentual mínimo da população guarda alguma coisa, mesmo que pouco. Países mais desenvolvidos têm maiores taxas de poupança e, quando falo poupança, não estou me referindo àquele “investimento” lixo que o governo tenta te empurrar, estou falando de guardar dinheiro. Um amigo meu (muito mais rico do que eu), me falou que o segredo não é quanto você ganha e, sim, quando você gasta, o que faz total sentido, já que ganhar um salário mínimo e guardar R$100 tem o mesmo efeito que ganhar R$10.000 e gastar R$9.900. Mas é normal, você vai fazer muita merda para aprender.
A subida é solitária
Quando se está no processo de subir os degraus rumo ao sucesso, você vai deixar para trás muita coisa. Sua família e seus amigos não vão te acompanhar, você vai parecer maluco, vai sofrer, vai se isolar cada vez mais. A energia negativa vai te afetar e não vai fazer sentido o porquê das pessoas a sua volta não entendem o que para você é simples e óbvio. E, quando você conseguir, tudo vai mudar. Vão te tratar como um guru espiritual, um semideus, você vai ganhar uma tarja na testa escrita BANCO DA FAMÍLIA, muita gente vai se aproveitar e, como você é marinheiro de primeira viagem, vai tentar ajudar todo mundo. Mas a vida é dura e, quando você se negar a ajudar mais, todos vão se afastar e o que te sobra são, no máximo, pai, mãe, filhos e olhe lá. Até mesmo quem realmente te ama vai vacilar contigo, por que o ser humano é individualista, pensa só em si mesmo muita das vezes e não se preocupam com o quanto isso vai te afetar psicologicamente. Para um empreendedor, a coisa mais dura desse processo é ficar isolado depois de ajudar tanta gente, é injusto e cruel. Eu honestamente não sei o que se passa na cabeça do ser humano, mas com o tempo você vai mudar, vai se tornar uma pessoa mais dura, provavelmente com menos paciência para pessoas estúpidas e isso vai ajudar a focar nos seus objetivos e procurar ter contato com pessoas que realmente façam diferença de alguma forma na sua vida.
Medo do retrocesso
Acho que a parte mais complicada, e que particularmente eu tenho procurado respostas na terapia, é por que nosso cérebro nos sabota o tempo todo. Quanto mais você sobe, mais alguns medos frequentemente te assombram. Por mais que você saiba que é capaz e que já superou várias adversidades para sair do zero, o cérebro tende a procurar uma segurança que não existe. Chega ao ponto bizarro de que ter milhões na conta vira sinônimo de “problema”, pois você passa a contar por quanto tempo, mantendo o padrão de vida que está levando, o dinheiro que você possui aguenta e o medo de voltar ao que era antes é tão grande que você surta. Você trabalha dias virado, tomando Ritalina com Red Bull e, quanto mais você estressa seu cérebro, menos ele produz, você come mal, não tem mais hobbies, pois tudo é uma perda de tempo e você não quer perder tempo, até para tomar banho ou comer precisa ser rápido, litros e litros de café, até que vem o burnout.
Burnout
Depois de um longo período nos expondo a extrema pressão, chega uma hora que o cérebro simplesmente para. Inclusive é algo que vivo hoje e, normalmente, ocorre mediante uma grande frustração. A única vontade que se tem é dormir, ficar isolado e ver Netflix. Nem de jogar me dá vontade. E isso vai acontecer com frequência, pode e vai demorar meses para voltar totalmente ao normal, mas, a cada porrada que você toma, esses intervalos ficam menores. Uma hora você precisa procurar outra coisa para fazer. Escrever nesse blog foi uma das formas de voltar a ativar meu cérebro. Parei de tomar energéticos e reduzir as doses diárias de cafeína, mas ainda sofro bastante. Procure terapia, sério!
Ocorreu um caso recente, ano passado para ser mais exato, em que um colega de negócios entrou em um looping destrutivo por conta da pressão e do medo de retrocesso e, infelizmente, ele acabou se matando. Honestamente eu não entendo como ele chegou a esse ponto e às vezes me questiono se havia alguma coisa que pudesse ser feita, mas isso me mostrou o quanto nocivo nosso cérebro pode ser.
O quanto nos iludimos pelo dinheiro
Provavelmente 2021 foi um dos anos mais tristes da minha vida, muitos amigos próximos faleceram. Eu tive o prazer de conhecer o fundador do Reclame Aqui e, infelizmente, tivemos menos contato do que eu gostaria. Era uma pessoa especial, me animava muito a ideia de trabalhar com ele, era uma inspiração, forte, não abaixa a cabeça para ninguém. Quando recebi a notícia do seu falecimento confesso que fui pego de surpresa e, inesperadamente, fiquei triste por um bom tempo, mas hoje levo o aprendizado que ele deixou. Uma das coisas que eu aprendi com o Maurício foi que o propósito e a certeza de que tudo daria certo era tão grande que nada o abalava. Mesmo demorando muitos anos, se manteve inabalável em sua visão. Ele provavelmente se questionou várias vezes durante o processo, mas acabou fundando um dos negócios mais disruptivos, em um dos mercados mais complicados que eu já vi. Hoje o Reclame Aqui é mais importante do que o PROCON, sem sombra de dúvidas, e acredito que em médio prazo será o pioneiro em resolução de conflitos de pequenas causas.
O segundo fato muito marcante de 2021 foi o falecimento do sócio-fundador do Vigia de Preço, Rodrigo. Foi ele quem me incentivou a criar a empresa e foi um grande amigo, sempre muito alegre, me deu forças para continuar a caminhada muitas vezes. E veja como a vida é cruel, uma semana antes de ser internado na UTI, finalizei a venda da empresa e depositei em sua conta o dinheiro que ele nunca viria a usar. Sim, ele nunca encostou no dinheiro da venda da sua própria empresa.
Felipe Neto lamenta a perda de amigo para Covid-19
Acho que foi a reflexão mais profunda que eu já fiz com relação ao que representa tudo que fiz até agora. Nossa empresa sumiu do mapa e todo nosso esforço virou pó, mas a historia é sempre contada pelos vencedores, não é mesmo? Hoje, quando inicio uma nova jornada, penso muito diferente. Dinheiro é importante sim, mas pensar em coisas além disso preenche sua alma. Ter um propósito maior do que simplesmente ganhar dinheiro, e não me venha com essa bullshit de mudar o mundo, é muito mais simples que isso, é gerar empregos, conhecer pessoas que de alguma forma vão mudar sua vida, fazer coisas fodas, deixar uma marca no mundo. Parece simples, mas não é.
Desculpem a vibe triste, mas prefiro escrever o que sinto.