Um comportamento que tenho percebido com certa frequência é a necessidade das pessoas de se sentirem no controle das coisas, mas, obviamente, sem assumir os ônus de estar no controle.

Geração do imediatismo

Parece um mal da minha geração, a galera de “30 e poucos”, essa necessidade de controle imediato de suas vidas e isso se estende a controlar absolutamente tudo. Eu sou assim e várias pessoas que eu conheço, também. Não sou psicólogo para falar com certeza, mas devem existir estudos nesse sentido. A minha visão de leigo, refletindo sobre fatos que ocorreram recentemente, é que tem muita gente perdendo a noção, tentando assumir o controle sem ter a mínima experiência ou responsabilidade, simplesmente por discordar de como as coisas estão caminhando e achando que isso não trará consequências.

Em uma empresa, tentar tomar o controle se chama insubordinação. Antigamente marujos eram obrigados a andar em pranchas e jogados ao mar por motim… Mas, como estamos lidando com seres humanos cada vez mais frágeis, que não admitem ouvir a verdade, obedecer a regras ou seguir ordens, uma hora eles acabam se achando no direito de dominar tudo, tirando até o dono da empresa, se possível… Pare de ser uma criança mimada de merda, mal saiu das fraldas e acha que vai mandar em alguma coisa, porra! Não consegue sustentar uma casa, mora com a mãe e está desesperado por que não sabe o que vai fazer da vida, mas acha que tem um conhecimento divino que te deixa em um nível acima do mundo, a ponto de você ser a pessoa certa para estar no controle? A realidade é uma só, amigo: quem paga a conta escolhe a mesa, ponha-se no seu lugar. Se você não tem culhão para assumir a responsabilidade, não invente a moda de achar que pode mandar em alguma coisa. Não concorda com algo? Argumente. Não concorda de novo? Vai embora, pede demissão, muda de profissão, abre sua própria empresa, começa outro relacionamento, qualquer coisa, mas para de reclamar, porra!

Responsabilidade

Ser dono de uma empresa, montar uma família, ter filhos, essas coisas exigem um nível enorme de responsabilidade, não adianta negligenciar isso, pois a vida vai ser dura contigo. Quando outras pessoas dependem de você, as coisas mudam, pois a sua inércia, procrastinação e falta de responsabilidade terão consequências. Logo, controlar a situação exige um nível de responsabilidade que provavelmente você não tem. Você vai precisar pensar no melhor para todos, ser individualista nesse momento vai penalizar alguém e provavelmente essa pessoa vai sofrer, seja de uma sobrecarga emocional, financeiramente, fisicamente, etc., por sua causa.

A realidade mais dura de todas é que você vai se estressar, perder noites de sono, chorar calado, ter que procurar forças para não desistir, para, no final, a maior parte dessa galera, que você se fudeu para cuidar, estar pouco se fudendo para você. O senso de individualismo prevalece, ninguém quer saber se você está bem, ou se o peso que você segura está te sobrecarregado. O foco delas é ter um pseudo controle de merda de suas vidas a qualquer preço, mesmo que, para isso, joguem todo peso de responsabilidade nas costas de alguém. E isso vai acontecer com funcionários, amigos, familiares, até seus pais e cônjuge, se duvidar. Acho que a cabeça imbecil das pessoas deve pensar “ah, fulano já faz isso para um monte de gente, por que eu não posso também? Vou pedir um aumento sem merecer, vou gastar sem ter, porque ele vai me ajudar, vou gastar com o cartão dele, vou deixar de pagar porque ele tem muito…” Sério que acham isso legal?

Comportamento destrutivo

Se você se identifica, eu vou falar uma coisa muito séria: não sei em quem você joga a responsabilidade, seja nos seus pais, marido, chefe, enfim, não importa, mas uma hora a paciência acaba. Algumas pessoas vão cortando lentamente e te deixando sem possibilidades, outras, como eu, cortam mais que uma Katana. Sempre que faço demissões são em massa, recentemente demiti mais de dez funcionários de uma vez só. Aliás, quem quiser me contratar para demitir pessoas, é só chamar. Já demiti amigos, familiares, até minha mãe e minha esposa (inclusive acho que foram as únicas na minha vida que eu demiti mais de uma vez).

Ter o controle também requer saber a hora certa de eliminar problemas, parar de falar com alguns amigos, demitir pessoas, fechar empresas, cancelar projetos, negociar, processar, pedir ajuda… É chato, triste, mas necessário.

O controle é temporário

Como o ditado fala: não há bem que dure para sempre, nem mal que nunca se acabe. Portanto a vida é sempre um ciclo e ter controle é passageiro. Amanhã você pode precisar ou depender de alguém, aceite isso na sua vida e terá entendido que dividir a carga de responsabilidade e controle das coisas vai te fazer bem. Mas não seja trouxa ao ponto de relaxar demais e outra pessoa te prejudicar de alguma forma, continue atento e foque seus esforços em quem você de fato confia.

Ter pessoas de confiança, que te respeitam, defendem e ajudam a dividir um pouco da carga é fundamental para manter a sanidade.