Esta é a primeira parte da transcrição mais informal de uma série de áudios de 2018, quando eu decidi gravar minhas ideias em vez de escrever. Acho que o raciocínio é mais rápido falado que escrito. Eu também tenho um problema sério de escrever as coisas todas que eu penso, pois às vezes me perco no raciocínio quando estou escrevendo. Eu simplesmente tenho o desejo de passar um pouco do, não digo conhecimento, pois acho que meu conhecimento é muito superficial de uma forma geral para tentar passar conhecimento, mas para passar um feedback de toda uma experiência de vida, de trabalho. A idéia é falar sobre empresas, negócios e business e falar um pouco do que é que eu faço e tudo que está implícito nisso, tanto como pessoa quanto como empresa.

Pensando de uma forma objetiva sobre as coisas que eu quero passar, a primeira coisa que eu quero deixar claro, tanto em questão pessoal quanto e questão empresarial, é que eu vejo da seguinte forma: cada indivíduo, cada pessoa, é um ser único. Você pode ter duas pessoas nascendo da mesma mãe, ser gêmeos ou qualquer coisa do tipo, mas, ainda assim, um vai nascer num horário diferente do outro, as decisões que cada um tomar vai fazer com que suas vidas sejam singulares. Então cada indivíduo é único e, da mesma forma, toda e cada empresa na verdade é única.

Cada empresa vai ser o resultado de uma série de variáveis, das quais algumas são passiveis de escolhas, outras simplesmente obras do acaso ou acontecimentos que levaram a chegada de determinados resultados. Então, quando você para pra analisar sob esse prisma de que cada pessoa é única e que cada empresa vai ser mais ou menos um espelho dessas variáveis que levaram a empresa a chegar onde ela está, você joga fora todos os livros de auto-ajuda ou livros de empreendedorismo que ditam as regras, os “dez mandamentos” de como obter sucesso e os gurus, porque não existe uma fórmula, não existe um caminho fixo que você vai seguir e você vai chegar àquele objetivo.

Na verdade, eu acho que a grande busca do empreendedor, do empresário, da empresa, de uma forma geral, é conseguir entender qual o formato que vai fazer você andar pra frente e atingir o próximo objetivo, essa é uma busca contínua, uma busca que nunca acaba. Eu acho que todo bom empresário está sempre procurando melhorar de alguma forma. Por mais que ele já seja um grande empresário de sucesso, sempre tem o que mudar, sempre tem o que melhorar, até porque o ecossistema em volta dos seres, das pessoas, e das empresas ele muda o tempo todo. Você tem variáveis socioeconômicas e políticas que mudam: é uma mudança de governo, uma mudança de posicionamento político da sociedade como um todo, uma mudança de mercado, uma visão diferenciada, que vai fazer com que aquele padrão, talvez, que você seguiu com sucesso até em determinado ponto da sua historia como empresa ou como individuo ,tenha que ser alterado, tenha que ser adaptado, pra poder seguir os próximos passos ou simplesmente acabar. Eu acho que as empresas, assim como os seres, as pessoas, elas sempre tem dois caminhos: ou você vai se adaptar às variáveis que vão mudando durante o percurso da sua vida (ou da sua vida como empresa), ou você morre, você “fale”, e por ai vai.

Eu gosto muito de fazer referências a algumas coisas que eu já ouvi ou já vi, e acho que o que eu tenho de melhor se for analisar, grosso modo, é que eu tenho uma memória muito boa de longo prazo pra lembrar as coisas que eu já vivi, palestras que eu já assisti, vídeos que eu já vi. Eu tenho uma recordação muito clara de tudo que eu já passei, pelo menos de coisas bem antigas. Essa habilidade piora um pouco à medida que isso se aproxima do realtime, por exemplo, às vezes eu tenho que assistir duas, três vezes o mesmo filme pra eu poder captar alguns tipos de informações, mas depois de certo tempo eu lembro em detalhes de algumas coisas que eu nem “lembrava que eu lembrava”, vamos dizer assim… Isso é bastante interessante…

E, quando eu penso em questão de empresa, empreendedorismo, eu vejo que, de certa forma, os valores de você ser um empresário ou de você ter uma empresa estão meio que se perdendo ao longo do tempo. Esse é um raciocínio bem raso, eu nunca parei para olhar estatisticamente ou para buscar dados reais em relação a isso, é puramente por observação pessoal. Se você for olhar empresas mais antigas, você vai perceber que antigamente você entrava numa empresa e você tinha morais na empresa, falando assim: a visão da empresa é essa, a missão da empresa é essa. E isso é muito raro hoje em dia, de você ter empresas, principalmente de tecnologia, onde você tem uma definição clara de valores, visão e missão. E o que eu tenho de opinião sobre isso é que, como você não tem visão, não tem uma missão definida na empresa, principalmente a visão de uma coisa mais lá na frente, de um objetivo a ser alcançado, você não tem foco. Tanto pessoalmente quanto uma empresa, se você não tem missão na sua vida, se você não define o que é que você quer alcançar, você não tem foco.

Tem um trecho do “Alice no País das Maravilhas” que é super interessante, que é uma conversa da Alice com o gato, em que ela pergunta pra ele “qual o melhor caminho?” Não me lembro a citação exata, mas ela quer saber qual caminho tomar e ai o gato pergunta assim “mas aonde você quer chegar?” e ela diz que não sabe. Aí o gato responde que “pra quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho está bom, qualquer caminho! Não importa qual caminho você vai tomar se você não sabe aonde quer chegar.” Então, basicamente a minha visão em relação à falta de foco é essa.

Voltando um pouco em relação à questão da individualidade, de cada pessoa ser única e cada empresa ser única, eu vejo que as empresas, assim como os seres humanos, são mutáveis. O tempo todo elas estão em mutação, o tempo todo você tem que se adaptar às novas realidades, aos novos problemas, todo dia é um problema novo… Ser empresário é praticamente ser um resolvedor de problemas. O tempo todo você tem que estar resolvendo problemas e, quando você não entende que a empresa tem todo um processo de aprendizado e de maturação e de mudanças e isso tem que ocorrer o mais rápido possível, você fica meio parado no tempo.

É muito comum você ver empresas e pessoas querendo empreender que chegam, sentam e fazem um documento que eu acho abominável chamado “business plan”, ou plano de negócios… O que é o plano de negócios? Ele não é um documento que é pra ser feito uma vez e levado pelo resto da sua vida empresarial. O business plan é uma forma de você entender como você está hoje e, se você tem sua visão e você tem seus objetivos bem claros e definidos, o que é que falta para sua empresa chegar ou pra você chegar naquele objetivo que você tem. Então aí a gente tem duas etapas do processo: primeiro é entender aonde você quer chegar e, segundo, onde você está agora. O planejamento ali no começo vai servir pra você entender a sua real situação, onde você se encontra naquele momento, mas se você não tiver um objetivo definido, também não vale de nada.

E você perceber essas mudanças, e perceber que o mundo gira e que você tem que mudar, isso faz com que você entenda um fator importante do empreendedorismo: as empresas que sobrevivem, no caso, não são as empresas que tem o melhor planejamento ou as empresas que tem muito dinheiro (mais pra frente eu vou falar que nem sempre o dinheiro resolve os problemas, eu acho que na maioria das vezes não resolve nenhum problema, o dinheiro é só um caminho pra você chegar aos seus objetivos). Quando você tem um planejamento e você não tem um objetivo, não vai te servir de nada, assim como se você tiver um objetivo e seguir totalmente sem planejamento, também você vai ter um sério problema. Você tem que entender essa mutação o tempo todo, vai ser um grande diferencial pra você se manter.

As empresas que estão há décadas (ou mais do que isso) em atividade são aquelas que aprenderam a se adaptar às novas realidades, aos novos tempos, num curto espaço de tempo. Não dá pra uma empresa de cem anos ter as mesmas doutrinas, vamos dizer assim, ou o mesmo modus operandi que ela tinha na época que ela foi criada. E isso é engraçado porque essas empresas centenárias que ainda existem no Brasil e no mundo, elas são empresas que geralmente são passadas de geração pra geração. É um pai ou um avô que cria essa empresa e passa pro filho e o filho se moderniza, a gente tem uma diferença de gestão. Isso é muito comum, se você pegar grandes empresas que tem os seus diretores e esses diretores mudam, a empresa também se modifica, ela se remodela totalmente a partir do cara que está gerenciando. Então eu gosto de pensar (na verdade nem é um pensamento único e exclusivo meu) é que as empresas vão ser reflexo, vão ser um “Frankenstein” das missões, valores e da forma cultural como aquela empresa foi criada e foi idealizada por seus fundadores. Mas, ao mesmo tempo, ela vai ter muito de quem gerencia, de quem faz a parte estratégica da empresa. E isso não quer dizer só as pessoas que estão ali, de fato, fazendo a gestão da empresa, mas de um consultor que vai prestar um serviço para empresa e vai determinar regras, de uma nova metodologia que vai ser aplicada para tentar agilizar um trabalho, é toda uma forma processual que vai ser adotada ali dentro da empresa para poder organizar um determinado tipo de tarefa.

Por mais que todos tenham habilidades, tem várias coisas que você não sabe como resolver e vai precisar recorrer a uma pessoa que entenda daquilo, ou vai ter que apelar para um método que já é testado e comprovado em outras empresas para você poder gerenciar. Por exemplo, quando eu comecei no mundo do empreendedorismo, era muito comum você ouvir falar de métodos ágeis, de métodos de produção, método Lean, que evoluiu pro Lean Startup. Mas o que é o método Lean e porque ele nunca se aplica corretamente em todas as empresas? Então, o Lean ele é um método de produção criado pelo dono da Toyota, que eu não vou lembrar o nome [N.E.: Seu criador foi Taiichi Ohno, engenheiro e chefe de produção da Toyota no período posterior à Segunda Guerra Mundial], esse método de produção visava economia de recursos e visava o método mais ágil de produtividade dentro da empresa, isso é fazer mais com menos funcionários, com menos material. E esse sistema do Lean só se aplica à Toyota, porque foi desenvolvido para a Toyota. Existem outras empresas que o adotaram porque ele tem conceitos bem definidos de processos e métodos, mas óbvio que ele não vai se aplicar na totalidade pra outra empresa, por que cada empresa é única, assim como cada individuo é único. Nenhum método vai ser 100% aplicável a uma empresa e cabe aos gestores, ao empreendedor, ao dono, ou qualquer outra pessoa que estiver tomando decisões ali saber guiar a equipe, guiar a empresa, pra achar o melhor modelo pra tudo, desde os processos mais básicos até os processos mais complicados, a fim de tentar fazer com que a empresa se ajuste a todos os padrões e variáveis que acontecem o tempo todo, todo dia.

Se eu fosse resumir, num primeiro momento, tudo que eu estou pensando agora, é basicamente isso: as empresas são organismos vivos, elas não são simplesmente um papel que fala que o seu CNPJ é tal, elas são feita de pessoas, às vezes é uma pessoa só, mas são feitas de pessoas e ela vai ser o reflexo do que essas pessoas são, principalmente dos seus fundadores e dos seus gestores.

Então, acho que o objetivo dessa primeira parte, vamos dizer assim, é desmistificar todo o material, tudo relacionado a uma “auto-ajuda” de como montar uma empresa de sucesso e blá blá blá… Isso, pra mim, é uma besteira que existe hoje, não tem uma fórmula de sucesso nem um modelo perfeito, não existe, como diria um amigo meu, uma bala de prata que vai matar todos os seus problemas de uma vez só. A grande questão do empreendedorismo é você entender o que é que você precisa para você conseguir evoluir, o que a sua empresa precisa pra evoluir, pra você passar por todas as partes mutáveis do processo e chegar ao seu objetivo.

Eu vou parar essa parte aqui e aí continuo numa segunda parte, agora falando sobre foco. Eu não sei se ficaram claras todas as coisas que eu passei agora, mas, em resumo o objetivo primeira parte é deixar claro que cada empresa é única, cada decisão que for tomada vai levar a empresa pra um caminho diferente e esse caminho precisa de um foco pra poder existir, se não qualquer caminho que tomar vai ser certo (ou errado, depende do ponto de vista de quem está lendo).