Vamos continuar o texto sobre Foco e Objetivo iniciado no post abaixo:

Uma das paradas mais importantes para sua empresa, quando você tem os seus funcionários alinhados e compartilhando do mesmo senso de objetividade. Não basta só você, na sua cabeça, entender o teu objetivo de forma clara e seguir focado a conquistar esse objetivo. É importante que todas na empresa entendam isso da forma mais clara possível. Obviamente cada pessoa tem uma receptividade pra informações diferente, então você vai falar pra algumas pessoas e elas vão aceitar aquilo de forma tranquila e boa, vamos correr atrás desse objetivo e vamos tocar o barco, mas tem pessoas que vão olhar praquele seu objetivo e vão pensar assim “olha, isso aqui, pra mim, não dá”. E, na maioria dos casos, essa pessoa não chega diretamente pra falar que não está bom, ela vai continuar ali na empresa, porque, no geral, depende do salário que você paga pra poder viver. Ela vai continuar ali, mas vai fazer com que a empresa ela não progrida como deveria. Então, uma segunda tarefa árdua do empresário é conseguir identificar as falhas que estão acontecendo na equipe. Quando você começa a ter uma equipe maior, isso começa a ficar menos claro. Quando se tem uma empresa de duas pessoas, de seis pessoas, de dez pessoas, você consegue ver isso claramente em cada um. Quando você começa a aumentar muito a quantidade de pessoas que estão ali, isso fica mais difícil de ver. É por isso que se faz necessário ter um setor de RH, vamos dizer assim, ou uma pessoa ali que vai ter tato pra conseguir ver quem está produzindo e quem não está.

Eu gosto muito de querer entender, caso a caso, cada pessoa, se ela está insatisfeita de estar trabalhando ali porque, da mesma forma como o objetivo da empresa muda, os objetivos das pessoas também mudam. Às vezes um funcionário que está trabalhando faz dois anos na empresa e tudo vai “muito bem, obrigado”, produzindo pra caramba e, do nada, esse cara deixa de ser o que ele era e aí, quando você vai analisar, são aspectos que podem parecer banais. Por exemplo, o cara quer trocar de casa, mas ele não consegue ter um aumento de 500 Reais pra poder trocar de casa, e isso gera uma aflição interna nele. Outra coisa também, que um amigo me falou um tempo atrás: “André, se você precisa focar em mais de uma coisa, está errado! Porque o seu foco tem que ser exclusivo. Se você realmente está focando em fazer uma coisa, o foco tem que ser um só. Se você tem que fazer mais de uma coisa pra você conseguir chegar ao seu objetivo, isso está errado!” Eu consegui entender isso mais claramente quando eu montei a minha empresa, porque hoje ela consome 100% do meu tempo, do meu pensamento, porque é um foco só, é um objetivo em comum. Eu não preciso ficar olhando pro lado e ficar pegando outros projetos pra complementar nada. Só que, quando você para pra pensar nisso, numa estrutura empresarial, você focar 100% na tua empresa, ou na empresa que você administra, é um ponto. Já na cabeça do funcionário que ganha menos do que você, que, na maioria das vezes, não está preparado financeiramente, ou que ainda não consegue entender que, se ele focar naquilo que ele está fazendo, ele pode alcançar resultados dentro da própria empresa, que ele tem que se tornar uma parte necessária no processo, e, a partir do momento que ele consegue se tornar necessário, ele consegue chegar a salários melhores e a alcançar benefícios maiores e por ai vai. Então, acaba que o funcionário olha e fala bem assim, “beleza, eu ganho 5 mil reais aqui no meu emprego, mas esse valor não banca minha vida, minha casa, meus filhos e tal, então eu vou fazer um freelance pra conseguir mais mil Reais. E tem muito empresário bom, que sabe como gerir uma empresa, que é um líder, que vai enxergar e vai querer tentar entender por que o funcionário não está rendendo a mesma coisa que rendia antes, e essa grana que ele faria num freelance, perdendo madrugada pra poder fazer, perdendo final de semana, o empresário que é bom, ele fala assim, “não cara, eu te dou esses mil Reais aqui que você está querendo, entendeu. Ah, você está precisando desse dinheiro agora, eu te dou esse dinheiro por que você fez alguma merda financeira, mas você foca no objetivo da empresa, entendeu”.

Eu, recentemente, tive que fazer isso. Tive um funcionário que tem família, tem filhos e ele tava sem dinheiro, tava cabisbaixo… Eu falei, “cara, joga limpo comigo, do que você precisa pra estar 100% focado no nosso objetivo aqui, de botar as coisas pra rodar e tal” e ele demorou um ou dois dias pra digerir isso e ele virou e falou pra mim, “pô, cara, é que eu tenho filhos, eu tenho família, a grana está curta e eu comecei a trabalhar aqui agora, tem como você me pagar integral em vez de pagar metade do mês, aí eu fico final de semana aqui”. Falei, “cara, claro que eu faço isso, velho. Eu prefiro muito mais te pagar e você ficar 100% focado, sem ter que ficar pensando em outras coisas pra conseguir complementar sua renda, do que a cabeça ficar voada”. E isso é muito comum de acontecer, minha empresa tem pouco tempo, tem um ano e pouquinho, e eu já tive dois ou três casos assim aqui dentro, de sentar com alguém pra falar, “cara, do que é que você precisa, o que você quer? Você quer dinheiro?” [N.T.: Lembrando que esses áudios foram originalmente gravados em 2018, época do Vigia de Preço] Eu preciso entender o que cada um precisa pra conseguir se desligar dos fatores externos e conseguir focar no objetivo, porque, focando no objetivo, as coisas conseguem andar. E isso é um trabalho que o tempo todo tem que ser refeito, mas eu acredito que, depois da primeira vez que isso acontece, as pessoas elas se sentem mais confortáveis de chegar em você no momento que elas precisam e ela vê em você uma forma de conseguir resolver os problemas de forma mais simples. Quando você bota na ponta do lápis, isso traz muito mais benefícios que malefícios. Obviamente isso tem que ser controlado, tem muita gente que é mau caráter, então você tem que filtrar bem quem você chama pra trabalhar com você. Eu já tive casos de funcionários que me botaram na justiça, que faziam corpo mole pra não trabalhar direito, ser demitido, e tal. A peneira começa quando vai contratar e você tem que ir acompanhando esse processo etapa por etapa para saber quando os objetivos das pessoas que estão envolvidas na empresa estão saindo muito do rumo ou estão muito diferentes do que a empresa precisa. E, nesse momento, se você identifica que tem um funcionário que não quer mesmo andar pelo mesmo caminho que a empresa está seguindo, não tem muito pra onde correr, essa pessoa está fora! Infelizmente essa pessoa está fora e, assim, vale conversar e tentar chegar a um consenso, mas chega a determinado momento que você tem que parar e analisar assim, “cara, vou ficar mais dois, três meses com essa pessoa ou vou mandar ela embora e colocar alguém que realmente vai olhar pra frente, vai fazer o negócio acontecer?” Essa é uma escolha bem difícil, não são momentos fáceis, a gente acaba se apegando às pessoas, apegando ao modus operandi do que está acontecendo e você não quer que a pessoa saia da tua empresa, mas, de novo, os objetivos, eles mudam. A pessoa que entrou com do gás, pra fazer, pra acontecer e tal, uma hora ela pode perder o foco e simplesmente querer partir para outras cosias, e procurar outros objetivos, assim como nada impede que a sua empresa mude o foco dela. Às vezes você está seguindo por um caminho que está sendo bem árduo, que não está dando o resultado que você precisa que dê e você reformula.

E eu acho interessante que, quando você tem uma equipe que está integrada, que está interada dos objetivos da empresa, você acaba tendo um suporte que quase inesperado das pessoas chegarem e falarem, “cara, eu acho que isso aqui não está bom, vamos mudar essa forma de operar”. Vou dar outro exemplo que aconteceu aqui, um caso concreto da minha empresa. A gente estava crescendo e começando a contratar outras pessoas. A empresa estava com cinco ou seis pessoas, algo do tipo, e aí eu comecei a olhar e perceber que os processos estavam muito desorganizados. Eu tento sempre dar uma liberdade muito grande de horários, de organização de como vão ser feitas as tarefas, para ser uma coisa mais ampla e não ficar preso em uma resolução. A gente senta toda segunda-feira, por exemplo, pra montar um mapa de tudo que precisa ser feito durante quinze dias ou uma semana e aí você consegue dar uma liberdade pras pessoas, se elas se cansam de uma tarefa podem ir para outra, mas esse tempo tem que ser respeitado pra qualquer tipo de tarefa. Obviamente às vezes a gente tem deadlines que são emergenciais, coisas que têm que ser feitas na hora, então a gente para tudo e resolve aquela emergência. Mas isso também é uma coisa que tem que ser filtrada muito bem, porque, quando é uma demanda externa, todo mundo acha que é prioridade, todo mundo acha que o projeto dele é mais importante, todo mundo acha que tudo tem que ser parado pra fazer aquilo, mas não, você não pode o tempo todo estar parando a sua produção pra corrigir pequenas falhas de uma coisa ou de outra. Isso eu falo de uma maneira geral, até por que é um processo industrial, mas eu estou aplicando isso em uma empresa de tecnologia, então você pensa assim, “mas uma empresa de tecnologia ela não tem que ter liberdade de horário?” Às vezes, não. Depende muito de como é o nível de responsabilidade dos funcionários que você tem. Se você tem pessoas com mais idade, que têm família, que têm um nível de responsabilidade, que conseguem trabalhar remoto, conseguem fazer isso de forma a não perde produtividade e consigam focar no objetivo, ok. Se não, você tem que colocar horário, tem que colocar as pessoas em seus lugares e, se não estiver bom pra empresa, essa pessoa tem que sair, é normal.

O objetivo tem que ser definido estrategicamente pela empresa, você pode ter funcionários envolvidos também na definição desse objetivo, mas o foco tem que ser compartilhado entre todo mundo, todo mundo tem que estar focado naquilo que está fazendo, porque, se não, não anda. Não adianta você ter um funcionário remando a favor, a todo gás e você ter dois, três que não estão nem aí pro que está acontecendo, que você começa a desmotivar aquele que estava motivado. É uma linha tênue, que tem que ser bem refinada entre a equipe, entre as pessoas. Isso tem que ser conversado o tempo todo, acompanhado. Eu acho muito legal aqui que a minha equipe que, por mais que tenha definição do que cada um faz, todo mundo fica o tempo todo se ajudando. Então uma pessoa vai lá e pergunta, “cara, você precisa de ajuda em alguma coisa, posso te ajudar, tem alguma informação que você ainda não tem e que eu possa te ajudar?”. Então o processo vai se desenrolando de uma forma mais harmônica ao longo do tempo. Pra mim uma empresa é como uma banda. Você pode ter excelentes músicos que nunca tocaram juntos e o som inicialmente fica uma merda. Mas você vai treinando, vai ensaiando, ensaiando, até que vai chegar um momento que os integrantes vão estar tão interligados, tão acostumados uns com os outros, que a coisa flui, ela flui sem muito esforço. Só de olhar você sabe como é que o cara está, como é que é a entrada daquele solo, e tal. Então as coisas fluem de uma forma mais clara, de uma forma mais simples.

E aí todo esse processo, toda essa forma de pensar, de você conseguir analisar onde a sua empresa está hoje, aonde quer chegar e essa trajetória que você precisa traçar até esse objetivo, quando você consegue definir isso de forma clara é bem bacana, porque você consegue entender onde começa e onde termina. Você começou um projeto, você sabia toda trajetória que precisava pra chegar e aí, quando você concretiza esse objetivo, é um momento de comemoração, que você leva todo mundo pra tomar uma cerveja. É o final de um projeto que você está há seis meses fazendo, é um site que vai pro ar, é um produto que sai, não sei, depende do teu negócio, mas ai você senta e fala assim, “cara, a gente fechou um ciclo, a gente chegou a um objetivo”. E esse objetivo não necessariamente precisa ser só um produto ou serviço. Você pode ter um objetivo financeiro também, “eu quero que minha empresa chegue a um milhão de faturamento”. Quando ela chega a um milhão de faturamento, você vai pegar a sua equipe, vai levar pra um barzinho, vai tomar uma cerveja, vai esfriar a sua cabeça e vai dar uma semana de descanso pra todo mundo porque a gente conseguiu chegar juntos àquele objetivo. E aí, depois daquela uma semana de folga que todo mundo teve, a gente vai sentar e vai programar um novo objetivo, porque é isso que a empresa é, ela é um ser que precisa estar em constante evolução, então você conseguiu alcançar o objetivo que você queria e agora você vai pra um novo objetivo.

[Continua…]