Esta é a terceira parte da transcrição mais informal de uma série de áudios de 2018, quando eu decidi gravar minhas ideias em vez de escrever. Vou deixar o papo anterior, onde falo sobre Foco e Objetivo, linkada aqui.

Começando mais uma parte da nossa conversa, dessa vez vamos falar um pouco sobre Know How. Recapitulando um pouco, antes eu falei sobre foco, e foco é uma parada que é bem interessante (se você não viu ainda o post sobre foco, vou deixar linkado aqui) e vamos falar agora do Know How.  Para mim Know How, ou o que as pessoas chamam de Know How, é uma concatenação de vários conhecimentos, tá? Não é só conhecimento técnico, não é só conhecimento específico, é uma série de informações que você tem que agregar ao longo da sua trajetória, sejam elas específicas ou genéricas.

O que a gente tem que lembrar é que todas as empresas, de certa forma, elas possuem um modus operandi bem parecido. Você tem desde empresas de petróleo, aeroespacial, qualquer coisa tecnologia, indústria, etc., que tem o mesmo formato de operação que foi criado em um algum momento, provavelmente na era industrial, em que você quase sempre tem setores definidos. Toda empresa precisa de contabilidade, Sine qua non. Principalmente quando você quer abrir uma empresa aqui no Brasil, você tem uma série de regras e padrões que tem que seguir, você tem que ter um CNPJ, você tem que ter um endereço comercial, você tem que ter uma contabilidade, você tem que ter uma parte jurídica, para qualquer problema que você tenha jurídico, né? E a gente alguns setores internos da empresa também. Todas as essas partes, elas podem ser terceirizadas e, na maioria das vezes, são, né? A contabilidade e o jurídico pelo menos. Mas existem algumas partes internas da empresa que não são terceirizáveis, é o administrativo, o financeiro, o RH. Toda empresa é um grupo de pessoas, uma equipe, pode ser uma equipe de uma pessoa só, uma equipe de duas pessoas, ou ter milhares espalhados pelo mundo. Em empresa grande, geralmente elas têm esses setores descentralizados, você tem mais de um RH, mais de uma contabilidade e tal, mais de um jurídico, mas todas elas seguem um código de conduta, um padrão de como é que tem que ser feito para cada coisa. Quanto mais você vai crescendo, mais você vai ter que documentar as coisas, os processo e tal. E vendo por essa ótica de que toda empresa tem setores, têm funções meio que padronizadas, então não importa muito o que é que você está fazendo, não importa se você está produzindo carro, se você está desenvolvendo software, se você está fazendo aeronave ou nave espacial, você vai ter uma parte da sua empresa, eu diria 80, 90% da sua empresa funcionando como qualquer outra empresa, né?

E a parte importante desse ecossistema é você entender essas limitações. Eu citei na última conversa Olavo de Carvalho, que fala sobre a questão de você entender seus próprios limites e isso é uma coisa que é verdade. Uma coisa interessante que eu acho que todo empreendedor, todo empresário, tem que saber, é que as pessoas são limitadas, não só limitadas por questão delas mesmas se limitarem, mas cada pessoa possui uma limitação biológica, uma limitação cultural, uma limitação do ecossistema ali que a envolve. Então, por exemplo, eu não acredito que todas as pessoas têm capacidade para se tornarem ricas. Eu não acredito que todas as pessoas têm capacidade para ser o melhor naquela função que ela exerce, por que, em grande parte, as pessoas tentam ocupar funções em que elas se sentem bem, que elas gostam. Eu comecei na área de programação porque eu gostava de computador, gosta de tecnologia, gosto, amo tecnologia. Mas hoje o que eu faço na minha empresa é uma função totalmente diferente do que eu passei a vida inteira fazendo. A partir do momento que eu criei uma empresa de tecnologia, parte que mais gosto eu praticamente parei de fazer, eu tenho pessoas que fazem para mim. De vez em quando eu boto a mão num código ou outro, começo um projeto e coisa e tal, mas a minha função hoje é treinar as pessoas que estão lá comigo para ocupar as minhas funções. A empresa não pode depender de mim ou de qualquer outra pessoa ali para ela conseguir funcionar. Daqui a 100 anos ela tem que estar funcionando, independente de eu estar vivo ou não, entendeu? Então, assim, a gente começa a pensar nessa questão de limitação. Quando eu falo questão biológica, limitações biológicas, é que, de fato, algumas pessoas nasceram com a memória boa, uma pré-disposição a ter uma memória excelente e outras pessoas nasceram sem essa predisposição. Tem uns moleques de oito anos aí, que pegam uma guitarra e tocam absurdamente bem. Já eu tento fazer isso há 10, 15 anos e nunca consegui chegar ao nível de maestria que muito moleque novo aí que já tem. Então, assim, na questão de aptidão, quando você percebe as suas limitações pessoais, você consegue entender que funções você pode se auto-atribuir e quais funções você não pode. Por exemplo, eu falo para todo mundo que conversa comigo e que fala assim, “cara, você é um excelente programador, por que é que você acha que você é assim?”, alguém me perguntou isso algum dia e eu respondi que eu sou um bom programador porque eu sou preguiçoso. Eu sou preguiçoso e tenho uma memória acima da média. Então eu sempre procuro a maneira mais fácil de programar, porque eu não quero ficar refazendo que eu já fiz. Eu tenho um sério problema de ficar refazendo que já fiz e eu não gosto de ficar perdendo tempo. Eu gosto de focar no objetivo ali, então, se eu perco muito tempo pra fazer uma tarefa simples, eu demoro mais tempo para chegar ao meu objetivo.  E eu sou um cara que também preguiçoso para caramba, então se eu puder fazer meu trabalho rápido para poder dormir 12 horas, se eu quiser dormir 12 horas, então eu tenho disponibilidade. Hoje eu tenho, sempre tive, na verdade, mas hoje é mais simples porque eu tenho uma empresa, tenho funcionários e a empresa funciona sem eu estar lá.  Eu fiz um teste recentemente, passei alguns dias fora da empresa e ela continuou funcionando. Obviamente eu estou fazendo com que as pessoas da empresa também assumam mais riscos, assumam mais responsabilidade e, assim, comecem a tomar decisões. Eu acho que é padrão de uma empresa saudável que as pessoas assumam riscos e comecem a tomar decisões sozinhas. Inicialmente todo mundo sempre vinha a mim para tomar decisões, por que é mais simples você pedir para o seu chefe, pro dono, para tomar decisão por você, para esse “erro” não ser seu, vamos dizer assim.

A partir desse momento, em que a gente consegue enxergar esse panorama (aqui eu não estou levando como verdade absoluta o que eu estou falando, eu não tenho nada científico para comprovar essa minha tese, mas eu analiso por experimentação) de porque você é pequena a parcela da população que tem dinheiro, né? Por que é que só essa pequena parcela da população tem dinheiro? É que, em algum momento, essa pessoa que tem dinheiro, ela conseguiu entender as suas limitações que tem e ela começou a procurar pessoas para cobrir essas deficiências. Vou dar um exemplo muito simples: eu não sou uma pessoa muito sociável, eu prefiro falar com máquinas, falar com o gravador, do que ter que lidar com pessoas. Mas eu não tenho problemas quando eu tenho que lidar com as pessoas, eu consigo lidar bem com as pessoas, eu consigo fazer comercial bem, consigo ter uma boa desenvoltura, dar aula, já dei aula, já dei palestras, inclusive em eventos grandes e tal. E isso nunca foi um grande problema para mim, mas se for botar na balança o que eu prefiro, eu prefiro estar sozinho, prefiro estar eu e minha esposa ou eu e um amigo ou alguns amigos, né, pessoas que eu tenho mais intimidade, que eu possa errar e não seja tão julgado pelos meus erros.  Tem pessoas que simplesmente aceitam feedback das pessoas e foda-se se são positivos ou negativos. Uma coisa que eu percebi é que tecnicamente eu sou uma pessoa muito boa, eu consigo escrever códigos muito bem, resolver problemas e blá blá blá, só que, no meu ramo pelo menos, relacionamento é a chave do negócio. Relacionamento é mais importante do que você ter a melhor tecnologia do mercado, ele vai fazer com que você ganhe condições que outras pessoas não têm, que você tenha mais confiabilidade em como você vai operar. Infelizmente uma empresa ela tem que ter um lado meio que conservador, pelo menos na parte financeira eu sou assim, eu prefiro ter dinheiro na conta do que do que uma promessa de pagamento. A partir desse momento que eu entendi que eu não consigo ser bom em tudo, que eu abaixei o meu ego e falei assim, “cara, eu tenho várias qualidades mas eu também tenho defeitos muito claros, eu não sou um cara de relacionamento”. Eu não sou um cara que tem milhares de amigos, que é famoso, não consigo fazer esse tipo de construção, meu Instagram tem 60 pessoas enquanto eu tenho página que tem 100 mil pessoas, mas pessoas que eu tenho mais próximas de mim são poucas, que eu aceito no Instagram e estou disposto a receber o feedback positivo e negativo deles ali. Eu acabei ficando recluso, sem querer me expor, pelo menos na minha parte pessoal, minha vida, eu não quero que ninguém se intrometa. Na parte educacional de negócios sou um pouco mais aberto, porque aí não são as minhas decisões pessoais que vão influenciar, mas sim as decisões estratégicas de negócio. E aí, a partir do momento que eu comecei a me cercar de pessoas para ocupar funções que eu não tenho aptidão ou não tenho paciência para poder fazer, a empresa começou a ganhar um formato diferente. Então hoje eu tenho pessoas específicas para ocupar funções que antes eram minhas, que ou eu não gostava de fazer e fazia de má vontade e ficavam na merda, ou eu não sabia fazer, não importava o curso que eu fizesse, ou que não importava o tempo que o ensaiasse, aquilo ali não ia ficar natural, não ia ficar bom. Se você não tem aptidão para conversar e levar um relacionamento profissional, se você não tem isso, cara, não adianta você tentar fazer. Outra coisa que eu tive que aprender a duras penas, porque isso é uma coisa que é muito difícil de você se desligar, é deixar com que as pessoas tomam as decisões e resolvam os problemas. Você tem que confiar na sua equipe, a ponto de falar, “cara, você vai cuidar disso, desse setor, você vai fazer o comercial e eu não quero saber o que está rolando ali”, eu posso ir em uma reunião ou outra, eu posso entender na forma geral do que está acontecendo, de quem com quem você está falando e tal, mas eu não quero que você tenha que passar pra mim as decisões. É óbvio que, quando se fala de alguma coisa mais substancial, de resolver um problema mais sério, ou de fechar um contrato maior, passa pela direção, vamos dizer assim, só pelo simples fato de você ter conhecimento do que é que está acontecendo na sua empresa. Mas, de fato, resolver os pormenores ali não é uma questão que eu me envolva mais, eu tenho uma pessoa que cuida diretamente da principal fonte de renda que a empresa tem, que antes era uma função minha e que é muito difícil de eu me desligar, já que a empresa depende disso para sobreviver. Mas em algum momento eu falei, “cara ,existe uma pessoa, existe várias pessoas ,mas essa pessoa específica é uma pessoa próxima e ela tem uma aptidão maior para cuidar dessa tarefa do que eu tenho”. Ela é mais detalhista, ela se esforça mais, ela tem diversas vantagens, não vou nem dizer vantagens, mas tem habilidades, que eu não tenho. Não sei comparar a questão de conhecimento do mercado, acho que cada um tem conhecimentos muito bons, tem experiência, mas de fato essas pessoas que estão hoje me ajudando têm habilidades e qualidades que eu não tenho ou tenho pouca.

Continua….