Um tema que tem me preocupado bastante há algum tempo é quais vão ser os reflexos de tudo que a gente está vivendo nos últimos dois anos. Esse post é um resumo do que eu falo nesses dois vídeos que vou deixar linkados aqui:

Uma coisa muito importante que eu sempre deixo claro aqui é que eu não sou economista de formação, eu não tenho nenhum conhecimento técnico para falar sobre economia, como ela funciona, quais são os parâmetros, como são feitas as previsões, etc. O que eu vou fazer é uma análise do cenário em que a gente está vivendo mundialmente, não só de economia, que obviamente é super importante para quem está empreendendo, mas de tudo que eu tenho visto e qual é a minha percepção do que está acontecendo e do que está para acontecer. Não vou falar só de coisa ruim, mas também dos pontos positivos desses últimos anos com todas as mudanças que aconteceram e também sobre os reflexos em longo prazo que podem vir a acontecer no mundo e que nós, como empreendedores, precisamos estar atentos para nos adaptarmos às novas realidades. É importante estar tentando prever o que vai acontecer nos próximos anos para tomar decisões mais assertivas em relação aos negócios. Para finalizar vou fazer algumas reflexões de alguns possíveis caminhos que podem se abrir mais para frente.

Contextualizando

Acho que a primeira coisa é contextualizar onde eu estava nesses dois anos e por que é que eu tenho as percepções que eu tenho hoje. No começo da pandemia eu estava tocando a minha empresa, o Vigia de Preço, eu era sócio do Felipe Neto em 2017 e a empresa estava indo muito bem, a gente patrocinava o Botafogo, tinha mídia, tinha acesso para caramba, bastante usuário e tal. Em 2019 a gente estava batendo recordes internos de faturamento e exposição, era um cenário bem positivo e nada mostrava, naquele momento ali, que a gente teria uma mudança tão brusca de posicionamento e que ações tão rápidas seriam necessárias. Mas uma coisa que já aconteceu no final de 2019 é que a empresa passou por uma reestruturação. Quando se crescer rápido demais, você começa a contratar muita gente, a empresa chegou a ter três escritórios na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, imensos, para 20, 30 pessoas e tinha todo um planejamento baseado em como a gente estava, pensando que esse cenário poderia ser manter a médio e longo prazo. Quando chegou o final de 2019 a gente fez uma reestruturação, mandou uma parte da equipe embora e aí não fazia mais sentido manter os escritórios. Acabou ainda coincidindo com a minha esposa ficando grávida, então, naquele momento, não fazia sentido manter aquela estrutura que a gente tinha no Rio de Janeiro. Fechamos o escritório, eu voltei pra Vitória, no Espírito Santo, e começamos a operar via Home Office, antes mesmo de estourar a pandemia. O nosso modelo de negócios permitia que a gente tivesse esse tipo de formato de empresa, uma empresa técnica. A única parte da nossa equipe que precisava de um trabalho presencial era a parte comercial, que já ficava em São Paulo, então o resto da equipe não tinha nenhuma necessidade de estar em um escritório. Eu gosto bastante de Home Office, mas não é todo mundo que está preparado para trabalhar remoto, já que depende de um nível de responsabilidade e organização que nem todos têm.

Quando estourou a pandemia no começo de 2020, atuando na área de varejo, a final o Vigia era um comparador de preços, a gente viu pelos nossos números que não houve uma redução no consumo, o que era muito estranho para um cenário atípico como uma pandemia, eu acho que inicialmente as pessoas não estavam muito acreditando nos efeitos que viriam a acontecer, de parar tudo e tal. Depois a gente teve um pico de consumo porque as pessoas precisavam comprar equipamentos para montar seus Home Offices, então a gente teve um “boom” no varejo nesse período. Os números do Vigia que mostravam esse aumento comparado aos anos anteriores e, obviamente, esse efeito foi causado por que o Brasil e os países, de uma forma geral, começaram a injetar muito dinheiro na economia, imprimindo dinheiro para caramba e a população começou a gastar porque, no geral, quem não tem uma boa estrutura de educação financeira costuma ter um consumo imediato. As pessoas vivem no fluxo de receber o dinheiro dos salários e gastar tudo comprando coisas que nem sempre tem uma utilidade. Quem tem um pouco mais de conhecimento e estrutura financeira acabou fazendo, pelo menos no meu caso (não querendo me colocar num nível de superioridade a ninguém, mas eu tenho uma situação financeira atípica para uma pessoa da minha idade, eu tenho 33 anos e tenho vários amigos que tem a minha idade e que vivem uma realidade completamente diferente), eu comecei a guardar, a me manter líquido e fazer alguns tipos de investimentos mais pontuais. Meu perfil de investimento é um perfil muito complexo, que não encaixa num padrão bem definido, eu gosto de correr muito risco muito alto, então eu investi em bolsa, investi em criptoativos considerados de alto risco. Quem tem menos tolerância a risco faz investimentos em renda fixa ou coisas do tipo. Naquele momento eu estava fazendo alguns investimentos pontuais em bolsa, mas não sou especialista em investimentos e nem me considero um bom investidor, eu prefiro gerenciar empresas e criar produtos a tentar investir em coisas que saiam muito da minha zona de conhecimento. Não é porque você é um bom gestor de empresa que vai ser um excelente investidor e o contrário também, mas uma coisa que é fato, se você tiver uma boa estrutura financeira, tiver suas reservas e souber gerenciar bem os recursos sendo pessoa física, provavelmente você vai ter certa facilidade no gerenciamento de uma empresa.

A inflação e a China

A injeção de liquidez que aconteceu em 2020 e 2021 teve reflexos imediatos nas nossas vidas. Primeiro que, quando se injeta muito dinheiro na economia e o consumo não desacelera, você tem um aumento de demanda e, consequentemente, gera inflação. A inflação se intensificou a partir do momento que a China começou a deixar de entregar produtos. Entenda porque digo “deixar de entregar produtos”: com o regime da China a gente não tem muita informação do que está acontecendo lá dentro. Enquanto no mundo inteiro se tem visto, depois da vacina, os países voltando à “normalidade”, a China declarou novo Lock Down e os navios estão parados lá. Quando eu olho para esse tipo de cenário, custo a acreditar que isso tem um fundo de realidade, mas a gente nunca vai saber, até porque as informações que saem lá são poucas e selecionadas pelo regime comunista chinês. No meu entendimento, a pandemia serviu para uma coisa muito importante: para a China para entender os limites e o poder que ela tem com relação à economia mundial. Basta ver a “crise dos microprocessadores” refletindo na indústria de carros, por exemplo, e de tudo que precisa de microcontroladores. Mas será que isso não foi, de fato, causado?

Eu compro muitas placas de vídeo por causa da mineração de criptoativos e o que me pareceu é que as fábricas entenderam que podem aumentar o preço de uma placa que antes custava R$3000,00 para R$9000,00 e as pessoas continuam comprando. Então, se existe demanda para compras desse tipo, por que a gente vai voltar para o preço anterior? É só “anunciar” uma crise e reduzir a quantidade em circulação daquele produto, até porque, se é possível vender uma placa pelo preço de três, para que produzir as outras duas? A gente corta os custos de produção das duas, a gente não precisa vender, já que uma sai pelo preço de três. No final de 2019 eu comprava uma RTX3070 (quem entende de tecnologia vai entender do que eu estou falando) no atacado a preços entre R$2800,00 a R$3000,00, cheguei a ver no varejo recentemente a R$11.000,00 uma placa dessas, quase 4 vezes o valor do mesmo hardware, mas com essa desculpa da falta de microprocessadores.

Outro problema muito sério nesse quesito, já que um dos poucos países que têm tecnologia de microprocessadores de 3 nanômetros (nm) e possui uma fatia significativa da produção dos de 5nm é Taiwan, com a TSMC, e todas as empresas do mundo dependem deles. Se você pegar um iPhone ou um celular da Samsung, vai ter algum tipo de chip, seja de Taiwan ou seja dos Tigres Asiáticos. E o que é mais perigoso nesse cenário de dependência mundial? Eu acho que ficou muito clara a dependência mundial de produtos da China. A China também entendeu isso, por isso ela pode fechar seus portos e o mundo que se exploda. Consequentemente, as economias dos países começaram a sofrer bastante, por exemplo, houve uma alta enorme no valor dos carros usados por que não dá para produzir carros novos, que precisam de uma quantidade exorbitante de chips, se a Ásia não está entregando, as fábricas não conseguem produzir. Agora, se isso é um problema logístico da China ou se é intencional, a gente não tem como saber, mas fica aí o questionamento.

Recapitulando

Tivemos uma injeção enorme de liquidez na economia para ajudar as pessoas que perderam emprego, essa injeção de capital acarretou num consumo muito alto. Em paralelo, a China decreta Lock Down e fecha a economia, não entregando os produtos e causando uma disparada de preços, começando com eletrônicos e refletindo também em bens e produtos que dependem de coisas da China. A inflação começa a ser sentida mais efetivamente agora no preço dos alimentos, no preço da gasolina, em produtos e serviços aumentando drasticamente seus preços. Essa inflação vai desequilibrando a economia dos países e criando reflexos políticos nessa história, ao ponto do mundo tem inteiro ter começado um movimento mais à esquerda política, que ficou muito claro quando o Joe Biden ganhou as eleições americanas. Os norte americanos não têm um histórico recente de super inflação, como a gente teve no Brasil nos anos 90, tem muito tempo que não existe esse tipo de cenário lá, mas estão começando a ver variações de preço que eles nunca viram na vida. De fato, era inimaginável pensar em aumento de preços numa economia como a dos Estados Unidos, que é o lastro de moeda mundial, mas mesmo eles podem sofrer problemas e isso acaba criando uma tendência mais à esquerda, porque a população quer voltar ao jeito que era antes. Mas a história já mostrou para gente que tentar voltar ao passado não vai fazer nenhuma diferença em como vai ser o futuro, a gente só vai cometer os mesmos erros porque a gente esquece o que passou e as pessoas só param para entender os reflexos disso quando as coisas acontecem, a gente não é muito de ficar pensando nos problemas futuros.

Por outro lado…

Ok, até agora a gente só falou dos problemas, agora vamos falar de coisas positivas que aconteceram nesse últimos anos. A gente começou a ver uma digitalização de todos os processos, hoje você assina documentos digitais, você consegue abrir e até fechar empresas 100% de modo digital, várias empresas começaram a fazer reuniões remotas. Até pouco tempo atrás era comum eu ter que pegar vôo para São Paulo para me reunir com o diretor de alguma empresa que queria me conhecer pessoalmente, hoje em dia isso não acontece, inicialmente por uma questão sanitária e agora por comodidade, as pessoas entenderam é possível trabalhar de forma remota. Você também não precisa gastar dinheiro com aluguel de sala pra montar um escritório e outros custos que envolvidos. Escritório tem seus pontos positivos, mas também tem vários pontos negativos, principalmente em grandes cidades, como o tempo de deslocamento. Então para quem já tinha possibilidade de trabalho remoto, como no meu caso, foi excelente, mas têm várias outras atividades que as pessoas nunca imaginaram ser possíveis: telemedicina, psicólogo atendendo remotamente e por aí vai. Teve um salto evolucionário nesse sentido e, consequentemente, um salto nos serviços digitais de uma forma geral, que a gente vai manter por muito tempo.

O segundo ponto positivo é que, com a expectativa de problemas, Cirkut Break na Bolsa de Valores, ações caindo e por aí vai, as pessoas começaram a se preocupar mais com educação financeira, com economia e com política e isso é muito bom. Acho que todo mundo precisa saber o básico de economia e financeiro para ter uma vida com um pouco mais de estabilidade e previsibilidade, embora para mim você tentar prever o futuro da economia e do seu financeiro seja igual à previsão do tempo, é só uma previsão, que pode ser certa ou errada. Eu mesmo cometo erros frequentes, de fazer investimentos achando que ia ser muito bacana e, às vezes, até é acerto no curto prazo, mas em médio prazo começa a descambar. Um exemplo, eu fiz um investimento muito grande na compra de placas de vídeo para mineração em 2019/2020, nós tivemos a crise e uma queda abrupta na mineração e no preço dos ativos digitais nos últimos 6 a 8 meses. Como esse investimento está em boa parte pago, então eu não tenho preocupação com relação a quanto perdi ou ainda vou perder nisso, eu sei que esse investimento vai ficar pelo menos zerado no final do processo, mas eu poderia ter tido muito mais lucro se não tivesse arriscado tanto. Obviamente eu também eu sofri o impacto dessa injeção de liquidez, inclusive no preço das placas de vídeo, que agora começaram a despencar. Até por isso eu não consigo acreditar que esse discurso da China de falta de microcontroladores seja real, eu acho que estão fazendo um jogo para poder botar o preço que quiserem. Eles vão liberando aos poucos e você vê, de tempos em tempos, uma grande quantidade de placas no mercado e dali a pouco acaba tudo e os preços voltam a subir.

Mas a coisa mais importante que aconteceu nesse período foi a ascensão meteórica dos conceitos de criptomoedas e criptoativos, tanto de forma boa quanto de forma negativa. Ainda há uma parcela grande da população que não consegue entender qual a importância dos criptoativos para a economia e para o mundo de uma forma geral. Não tem problema você não saber, mas sim procurar se informar e entender como é que funciona, para tomar suas próprias decisões com relação aos ativos. E eu não estou falando no espectro de investimento, eu estou falando de como eles funcionam efetivamente, por isso que eu tenho criado conteúdos para falar de criptoativos, para tentar consolidar o entendimento da forma mais primordial possível, de o como funciona a tecnologia por trás, e aí se você vai fazer investimento ou não é contigo, mas tem que estudar para isso. Eu que sou um fã de tecnologia e não sou um bom investidor, não faço investimentos em criptoativos, faço mineração de criptoativos, no caso, de Ether, eu uso o meu conhecimento técnico para gerar esses ativos, sem precisar comprá-los. Mas, sem entrar aqui no aspecto técnico, é importantíssima a disseminação do ecossistema de criptoativos por que é a tecnologia mais disruptiva em muitos anos, acho que desde a criação da própria internet, no meu ponto de vista. A internet foi revolucionária, hoje as pessoas não conseguem sobreviver sem internet, sua televisão depende de internet, se você perde seu celular é como ficar sem uma parte do seu corpo, etc. E os criptoativos, no meu ponto de vista, em longo prazo tendem a ser isso também, mas num espectro um pouco diferente, que é equivalente ao que o dinheiro representa hoje.

Da mesma forma como a gente consegue ver o saldo do banco e isso tem seu valor, à medida que as criptomoedas vão sendo difundidas, elas vão mudando de relevância. As moedas vivem de oferta e demanda, então quanto mais pessoas acreditam no valor Bitcoin, mais valor ele tem. Entre a grande maioria das pessoas que vivem nesse ecossistema de cripto não há dúvidas de que o Bitcoin tende a se valorizar cada vez mais, porque é um ativo que não tem como se gerar mais unidades além do que foi definido no código original, é uma cláusula pétrea dentro do contrato do Bitcoin a quantidade limitada de unidades, diferentemente das moedas fiduciárias. Como não existe ninguém que possa manipular esse número, ao contrário dos governos dos países que podem imprimir mais papel-moeda, o Bitcoin não tem como não sofrer variações inflacionárias igual as moedas fiduciárias acabam sofrendo. Então quando eu vejo notícias que o poder de compra do Real despencou em 80% ou que a moeda desvalorizou 80% desde a sua criação, com o Bitcoin isso não vai acontecer, a tendência é uma valorização em longo prazo. Até porque, quando a gente chegar ao ápice e o Bitcoin não tiver mais como ser minerado, ele vai começar a ser mais trocado, aí a gente vai para um cenário mais próximo ao que a gente tem hoje, mas com o fator específico de não serem geradas novas moedas. Nesse cenário, em longo prazo é um ativo que vale você manter, seja pensando que isso pode virar realidade e você vai estar muito bem posicionado e/ou mesmo como um investimento.

No meu caso específico, eu sempre penso em ter reservas em criptoativos porque eu acredito que possa ser uma moeda mundial no futuro. Eu acredito que principalmente o Bitcoin possa se tornar uma moeda corrente no futuro e não se espantem se países começaram a aceitar Bitcoin como moeda oficial, como El Salvador já faz. E faz sentido ter uma moeda que não depende de confiar na soberania ou na estabilidade econômica do país, com é o caso do Dólar ou do Iene Digital. E para quem não acredita, existe uma grande possibilidade de o Dólar ser substituído pelo Iene Digital da China, já que existe essa dependência tão grande dos produtos chineses, e o pior é que até hoje não vi nenhuma forma de prática de comprar esse ativo, que está sob o controle do governo chinês. Inclusive a China tem uma necessidade tão grande poder e controle que proibiu a mineração, não sei se efetivamente proibiu a transferência de ativos, mas tem certa perseguição, e eles correram para poder lançar uma das primeiras CBDCs do mundo. Inclusive tem um artigo que eu vou deixar aqui, se vocês tiverem interesse em ler, mas no meu ponto de vista, CBDCs são aberrações. Pegar o conceito do Bitcoin, que foi criado justamente para uma moeda independendo do controle de um Estado, e utilizar essa tecnologia para criar uma moeda Estatal é, no mínimo, uma piada de mau gosto.

Seja adaptável

E qual é a conclusão que eu chego vendo tudo que está acontecendo no cenário macroeconômico mundial e o que é que a gente pode fazer para não sofrer tanto os reflexos dessas mudanças? Quem acompanha e acredita no processo de evolução humano sabe que o conceito básico da evolução humana é de se adaptar para sobreviver, e quando a gente fala de economia e de negócios esse cenário não muda. As empresas que sobrevivem às instabilidades grandes, aos cenários caóticos de guerra, de pandemia e por aí vai, são aquelas que melhor se adaptam à realidade. E como é que a gente pode fazer para se adaptar a esse novo cenário que está surgindo no horizonte, dessa briga de egos dos governos, principalmente entre China e Estado Unidos, ainda mais quando a gente fala de Taiwan e da TSMC. É muito latente essa questão de, se a China invadir Taiwan, o que vai acontecer no mundo. E eu acho o seguinte, tudo nesse momento são previsões e, assim como a previsão do tempo, você pode acertar ou pode errar tentando consolidar um planejamento em longo prazo baseado nelas, é um risco que você vai ter que correr. Mas como é que a gente consegue reduzir o risco dessa operação? O que eu tenho tentado fazer é não focar em atividades que tenha uma correlação direta política e social com o andamento da economia mundial. Para mim, a empresa precisa sobreviver independente de qual governo que está no poder, de estar tendo uma guerra ou não.Seu negócio precisa ser sólido o suficiente para sobreviver a essas oscilações, até porque elas acontecem o tempo inteiro. Você tem que tentar prever o melhor possível esses passos e tomar posições com antecedência.

Uma coisa que eu gosto muito de observar é o “rastro do dinheiro”, para onde está indo o dinheiro e por que o dinheiro está indo para determinados produtos ou serviços. Uma coisa que eu tenho percebido é que o risco de investimento está muito alto e os investidores estão revendo seus conceitos com relação a isso. Não está valendo a pena investir em empresas de alto risco, principalmente porque a gente está vendo uma quantidade enorme de empresas Tech sofrendo com essa crise porque possuem um cashflow negativo, ou seja, as empresas reinvestem totalmente seus lucros, ou até mais, para poderem amplificar e potencializar seus seu crescimento em curto prazo. As empresas de Tech fazem muito isso, Netflix, Facebook, Google e por aí vai, eles têm lucros absurdos, mas têm gastos absurdos também, investindo na criação de novas tecnologias e na aquisição de empresas que estão nascendo ou crescendo em áreas de interesses. Pensando nesse sentido, as empresas vão ter em algum momento a necessidade de equilibrar suas contas. Um questionamento feito pela comunidade econômica mundial é até quando a festa vai continuar, até quando empresas vão continuar gerando dívidas para poder bancar as suas operações, que estão cada vez mais caras, até chegar ao momento em que fica impagável essa conta. Muita empresas são montada em cima desse modelo, elas foram criadas para não dar lucro em nenhum momento. Em alguma parte desse processo os fundadores saem com o bolso lotado de dinheiro de investidores de médio e longo prazo, tirando o deles da reta, abrindo um IPO para ser controlado por um grupo de acionistas. Quem assistiu a série do Uber (Super Pumped) sabe que o que aconteceu lá é mais ou menos isso aí: os principais fundadores da empresa ou foram afastados ou já não estão mais na empresa, inclusive quando foi aberto na Nasdaq, o fundador da Uber tava lá, mas hoje ele não está mais dentro da empresa justamente por causa desse investimento maluco para crescer rápido.

Existe um ditado comum do mercado que é “the winner takes it all” (“o vencedor fica com tudo”) que diz respeito a mercados onde um único player vai dominar todo o mercado e os restantes dos players vão sumir, sendo adquiridos ou mortos ao longo do processo, por mais que existam leis com relação ao monopólio. Isso acontece com certa frequência no cenário de Startups, você tem o Facebook (Meta) com o monopólio das redes sociais, o Google com o monopólio de mecanismos de busca. Por mais que outras empresas tentem entrar nesse mercado, é praticamente impossível ou pelo menos muito improvável que alguém consiga criar um “novo Google” que vai substituir o Google em longo prazo, é loucura pensar isso, até porque com a infraestrutura e o dinheiro que o Google tem é muito fácil pra ele comprar ou destruir uma empresa que tente entrar nesse mercado e não vai ter lei de proteção no mundo que consiga barrar, até porque essas empreitadas acontecem muito no “lado negro da força”, nos bastidores.

Para quem quer empreender

Se você pensar em montar uma empresa de pequeno ou médio porte, então eu acho que o que você precisa se preocupar, na real, é se você vai ser melhor do que a média. Honestamente, se você já fizer um trabalho melhor do que o que os seus concorrentes, já tem grandes chances de sobrevivência. Outro fator importante para quem está tentando abrir sua empresa é entender o máximo possível do mercado onde você está. Como é que são os processos e como é que são as questões de relacionamento, ficar engajado nessas informações do mercado é extremamente importante para você sobreviver. Eu particularmente negligenciei uma parte desse conhecimento na época do Vigia de Preço, principalmente na parte comercial, eu poderia ter sido mais efetivo nos relacionamentos com lojas que eram muito importantes para manter a operação viva. Eu tive uma série de problema ao longo dos anos com campanhas que eram consideráveis para gente e isso causou altas e baixas constantes dentro da empresa e sempre era um tumulto absurdo resolver esses problemas em curto prazo. Quanto mais você vai crescendo, mais seus custos ficam elevados, então quando você perde um bom contrato ou você para de prestar serviços para uma empresa que representa uma parcela significativa do seu faturamento, a sua chance de ir para o lodo é muito alta.

Outra coisa que eu tenho procurado também, é entrar em mercados que o faturamento seja pulverizado em grandes quantidades de usuários. Por mais que também seja um sonho de criança ter um estúdio de games, a forma como o mercado de games se comporta é muito melhor do que a maioria dos mercados em que eu já trabalhei. O faturamento da empresa de diluído entre milhares de microtransação de valores pequenos, que vão se juntando num montante enorme e isso pulveriza a receita, então se um jogador sai, não vai fazer diferença nenhuma porque essa receita está pulverizada. Essa, inclusive, é a estratégia que alguns grandes players do mercado financeiro utilizam, de fazer contratos menores, mas em quantidade, para não ficar na dependência de uma única fonte para sobreviver. Então sabendo mais do seu mercado, fazendo estratégias sólidas para seu crescimento, planejamento direito e sendo bem realista com o que está acontecendo à sua volta e no mundo, as chances são maiores de sobrevivência.

Perceba não existe uma certeza absoluta que você vai sobreviver e até empreendedores muito mais capacitados falham com certa frequência em seus negócios, o diferente dessa história é que as pessoas que olham de fora só vêem o sucesso. Quando a gente vai fazer uma coletiva de imprensa, que vai soltar um PR falando sobre a empresa, só é falado o mais positivo de tudo que está acontecendo. É aquele ditado, todo mundo vê as pingas que eu tomo, mas não vêem as quedas. As histórias dos fracassos são abstraídas do processo. Eu tenho tentado, ao longo das minhas publicações no blog e até mesmo nas reflexões que eu posto no canal, ser transparente com relação a todo o processo que acontece, tanto do lado positivo quanto do lado negativo, porque é muito ruim para cabeça dos novos empreendedores que estão entrando no mercado acharem que vai ser um oceano azul maravilhoso, a realidade não é essa. A gente precisa ser realista sobre como o mundo funciona. Você vai bater em problemas de network, de Lobby, com seu concorrente tentando te atacar, e não ache que eles não estão olhando para você, porque eles estão, e muita das vezes a gente só sabe disso a partir do momento que sofre um ataque direto ou quando recebe uma proposta de compra. Eu lembro que num dos meus primeiros dias no Buscapé, o pessoal falou que o blog do Vigia era um case interno dentro da empresa, porque a gente tinha uma boa indexação e tal. Eu nunca imaginei que um trabalho relativamente simples, de subir um WordPress, viraria um case dentro de uma organização que eu nem considerava como um concorrente, visto o tamanho que ele tinha com relação à nossa operação.

Vale a pena?

Diferente do que as pessoas acham, o Vigia nasceu para ser uma empresa que fornecia tecnologia para marcas terceiras, tanto que o nosso primeiro parceiro foi o Tecnoblog e a gente não tinha a expectativa de criar uma marca nossa. O Vigia de Preço surgiu depois da entrada do Felipe Neto na empresa, foi ele quem veio com essa proposta de montar uma marca própria. Se foi certo ou errado? Naquele momento pareceu ser certo, e foi o que gerou o valor para uma aquisição. Qualquer coisa diferente não teria dado o resultado que deu, então eu não mudaria nada na trajetória da empresa, mas é uma reflexão a ser feita, porque uma decisão errada, mas que pareça certa naquele momento, pode mudar completamente o rumo da empresa lá na frente. Você nunca vai saber efetivamente o que poderia ter sido, mas você consegue refletir sobre o que poderia ser diferente se tivesse tomado outra posição e aí você tem oportunidade de, num próximo negócio que você criar, testar essas possibilidades e entender se realmente aquelas ideias que você teve vão dar certo. Eu tive algumas empresas na minha vida e todas elas faliram, exceto o Vigia, que foi efetivamente a primeira empresa que deu certo nessa história toda e foi vendida para Buscapé, então teve muito aprendizado, coisas que deram certo e muitas coisas que eu acredito que foram erradas, que eu tenho testado hoje na Uzmi ou em qualquer outra empresa que eu venha a montar. Por mais que seja diferente, você consegue ver, pelo menos de uma forma superficial, se realmente aquilo ali daria certo ou não.

Então, assim, se você conseguir unir todos os esses conceitos e tocar com seriedade o negócio que você está querendo montar, a tendência é fornecer produtos e serviços de qualidade e, consequentemente, vai haver uma demanda e isso vai fazer a empresa sobreviver. Se o seu negócio não tiver qualidade suficiente, obviamente você não vai ter cliente o bastante para pagar as contas e em um momento de crise dessa magnitude, ou até menores, você não vai sobreviver. E aí o que você vai carrega disso é a experiência do que você fez certo ou errado. E, independente de dar certo ou errado, assuma a sua responsabilidade! O resultado que a sua empresa teve é culpa sua, não vá terceirizar os problemas falando que a culpa é do fulano que não entregou, de funcionário que não fez e tal. Não! Você contratou o cara. A gente precisa assumir os riscos para ter os bônus, mas também os ônus de tudo que a gente faz. Inclusive, num próximo post eu vou falar de responsabilidade e o quanto está em falta hoje em dia no mundo, o quanto estão negligenciando a importância da responsabilidade, da confiabilidade que as pessoas e o mercado exigem de você.