Hoje eu vou falar da área que eu acredito ser a mais controversa dentro de criptos, que são as stablecoins e as CBDC. Eu vou me aprofundas nessas duas categorias de ativos e comentar por que elas são tão problemáticas, no meu ponto de vista.

Pra quem não está habituado com os termos, vamos às definições:

Stablecoins são criptomoedas, essencialmente tokens RC-20, dentro de alguma rede, como a Ethereum, ou uma rede independente, como o BUSB, que está numa rede da Binance. São tokens lastreados em uma moeda fiduciária [FIAT]. Alguns exemplos que a gente tem são a USDC, USDT, tinha [já explico o porquê do “tinha”] o UST,  que são moedas lastreadas no valor do dólar. Então, na teoria, uma stablecoin com lastro dólar tem o mesmo valor do dólar, se eu tenho 1 token, equivale a eu ter 1 dólar. Isso é a teoria. Para conseguir lastrear um token em moeda FIAT, em teoria [e eu enfatizo muito o “teoria” porque estou falando do conceito, mas a prática não é 100% do que é o conceito], deveriam ter alocação, uma reserva de dólar proporcional ao que foi emitido em tokens. Se tiver 1 trilhão de tokens UST, teria que ter 1 trilhão de dólares em reserva num “banco”. É mais ou menos o mesmo que o lastro em ouro, que existia nas moedas FIAT: para o governo poder imprimir mais dinheiro, ele precisava ter ouro guardado, se não tivesse o ouro, não poderia emitir mais cédulas. A gente não tem mais esse lastro em ouro nas moedas FIAT e quem sabe um pouquinho de história, sabe que o dólar não é mais lastreado. Teoricamente essas stablecoins deveriam ter seus lastros no dólar, mas isso não é 100% realidade, porque eles usam o mesmo conceito que os bancos de reservas fracionárias, que têm reservas proporcionais à necessidade de saque imediato, essas stablecoins também fazem isso com suas reservar em dólar.

Se você pegar o balanço da USDT, que é a Tether, que, para mim, é a que mais tem probabilidade de dar problemas, vai perceber que boa parte do que a Tether fala que é reserva, na prática, são investimentos, dívidas de empresas DVentures e aplicações. Na prática, a Tether pega os dólares que você depositou ao comprar USDT e investe ou compra dívidas para basear o caixa da empresa. O caixa da empresa não é líquido, é um percentual mínimo em dinheiro de fato, em dólar, que tem na conta deles. Se não me falha a memória, no ultimo balanço da Tether, só 14% das reservas eram, de fato, moeda em caixa. Qual é o ponto mais importante a se entender com relação a isso? A paridade dessa moeda pode sofre instabilidade, como aconteceu com a UST, seja por muito “pump and dump”, seja uma baleia do mercado vendendo muitos tokens, entre outros motivos para essas variações. Se essa paridade começar a sofrer instabilidade e começar a se perder, a moeda começa a desvalorizar e pode acontecer um movimento de pessoas sacando os seus ativos para não perder mais dinheiro. Veja, se eu investi em uma moeda estável, uma stablecoin, que me garantiu que 1 dólar seria 1 token, mas esse token agora está valendo 70 centavos, quer dizer que eu já perdi 30% do valor, então eu vou correr na Exchange para trocar essa moeda por qualquer outra coisa, por Bitcoin, por moeda FIAT, mas eu não vou correr o risco dessa moeda virar pó.

Stablecoins têm uma movimentação muito engraçada, porque o que mantém ela, na prática, é só a paridade da moeda, se perde a paridade, o case não faz mais sentido. O UST, quando perdeu a paridade e começou a cair, não tinha nada por trás, diferente de uma Ethereum, por exemplo, que tem todo um ecossistema.  A UST era um token dentro de uma blockchain sem nada para manter o preço, tirando o único e exclusivo fato da paridade; perdeu a paridade, a moeda virou pó. Se pegar o gráfico da UST, vai ver que foi de 1 dólar pra zero, porque o mercado desacreditou na stablecoin e vendeu tudo. Tem alguns malucos que ainda mantém um pouco de UST, que acabou virando UST Classic e vendida por centavos, na esperança que, algum dia, essa moeda volte a ter o valor de 1 dólar. Esse mesmo problema da paridade pode ocorrer em qualquer stablecoin. Que acompanha as estatísticas do mundo cripto sabe que nem sempre as stablecoins estão 100% pareadas, mas toda stablecoin tem uma entidade que vai fazer o controle da paridade. No caso da USDT é a Tether, no caso da BUSD é a Binance, no caso da USCD é a Centre, e essas empresas fazem o gerenciamento do lastro, se a moeda perde paridade, a empresa vai lá e compra tokens, injeta liquidez e por aí vai.

Queda da UST

Se for colocar quais as stablecoins eu acredito que sejam as mais confiáveis, em questão de balanço de reservas, eu diria a USDC, ela parece ter um lastro bem estruturado e a BUSD, da Binance, que é a maior Exchange do mundo, então tem reserva, tem lastro e é muito difícil que venha a dar problema. A BUSD pode dar problema? Olhando hoje a estrutura da Binance, é muito  improvável. Pode acontecer no futuro? Pode, principalmente porque ela tem recebido muitas sanções e multas, têm vários países querendo proibir, porque ela não segue as legislações locais, mas a movimentação que a Binance tem do mercado cripto é tão grande que é muito difícil dela quebrar, mesmo que ela possa ser bloqueada em um país, tem o resto do mundo pra poder funcionar e a liquidez dela é bem grande. Muitos estão começando a ver a Binance como um “mal necessário”, as Exchanges nacionais não conseguem dar conta da liquidez que ela tem, a concorrência praticamente não existe, nenhuma Exchange brasileira que compete diretamente com a Binance. A volumetria, a liquidez das Exchanges brasileira é uma fração pequena do que a Binance tem. Eu nem vou entrar muito a fundo no tema de Exchanges, eu vou fazer um vídeo/post só falando de Exchanges em específico.

Ok, eu falei de stablecoin, lastro e, agora, vamos falar do vespeiro maior do universo, que se chama CBDC. O que vem a ser CBDC? São Moedas Digitais de Bancos Centrais. Primeira coisa a se entender: isso não é criptomoeda. CBDC, na teoria, utiliza de tecnologias das criptomoedas para criar moedas fiduciárias de maneira digital, usando blockchain, usando networks e tal. Em publicações que eu fiz há pouco tempo sobre Web3, eu falei o seguinte: blockchain não é sinônimo de descentralização. Nós temos blockchains centralizadas. O que provém a segurança e a confiabilidade das cripto não é a blockchain, a blockchain é um banco de dados, o que provém a descentralização é a rede, a rede descentraliza porque replica essa blockchain em vários nodes no mundo inteiro, como se fosse uma CDN, e o que provém a segurança dessas transações são os validadores. A partir do momento que a gente pega esse ecossistema e tenta copiar isso para um governo, ele tem 100% do controle da validação, dos nodes, essa moeda não vai ser minerável, essa moeda vai ser centralizada, independente de usar blockchain. Inclusive, blockchain é um sistema relativamente simples de ser criado, a gente fez vários conteúdos no canal criando uma blockchain rudimentar em algumas horas, não vai ficar perfeita de primeira, mas funciona. Eu não sei que tipo de tecnologia que, por exemplo, o Real Digital vai querer utilizar, se vai pegar uma já existente, tipo a da Ethereum ou do próprio Bitcoin, ou se eles vão querer criar a própria blockchain. E aí a gente tem vários problemas atrelados a isso, de segurança, de bugs, de escala, principalmente quando a gente fala de gerenciar transferências monetárias de um país com 210 milhões de habitantes. Eu honestamente acho que o Pix já foi um primeiro teste para as CBDC, mas CBDC é uma aberração, CBDC não deveria existir.

Um governo, qualquer que seja, sem entrar em qualquer mérito de posicionamento político, NENHUM governo deveria ter o poder de controlar todo o dinheiro de uma população. Não deveria. Os riscos implícitos na CBDC são muito altos. Por que eu estou falando isso? Quando a gente teve, na época do Collor, o confisco da poupança dos brasileiros, a ordem foi dada aos bancos, mas eles podiam se negar. Eu era muito pequeno nessa época, mas eu sei que os bancos tinham a opção de aceitar o confisco ou não aceitar. Tendo uma CBDC, isso não é opcional. Teoricamente, tendo uma moeda digital, e o mundo está cada vez mais digitalizado, não vai ter mais a necessidade de ter papel moeda. Imagine acordar um belo dia e o sistema de CBDC está off-line, o Real Digital, que provavelmente vai ser administrado por um app, está off-line, ninguém consegue transferir, ninguém consegue pagar nada, ou, pior, o governo mandou bloquear a porra toda. Ainda, o governo vai ter acesso a tudo que você faz na sua vida, a tudo que você compra, o pornô que você assina, a maconha que você compra com o traficante, ele vai saber TUDO que você está fazendo… TUDO… Tudo de bom e ruim que você faz na sua vida o governo vai saber e ele pode simplesmente não aceitar o TED da conta X para Y. O controle que hoje é exercido pelos bancos de limitar TED, limita as transferência da madrugada, isso já é horroroso, ter que se justificar pro banco por que você esta gastando o SEU dinheiro, é ridículo, e os bancos todos fazem isso. Na mão de um banco central, a Receita Federal vai ter tudo que você recebe registrado, 100%. Hoje, você é obrigado a fazer a declaração de Imposto de Renda, não vai ter nem necessidade de ter mais esse negócio, porque ela vai ter acesso a tudo, vai conseguir ver tudo e até pode cobrar direto na fonte, se quiser. Quem faz declaração de IR sabe que a gente paga todo mês, à medida que a gente vai recebendo o dinheiro, depois a gente faz a declaração e pode ser que venha alguma coisa para ser corrigida, para pagar a mais ou para ter uma restituição do imposto, que é o “comum”, por incrível que pareça. Todo ano eu recebo dinheiro de volta da Receita Federal que eles me cobram errado. Com as stablecoins, a gente tem opção de comprar se a gente quiser ou não, agora, no caso de CBDC, o governo vai obrigar a gente a usar esse negócio, pode até falar que não existe mais a necessidade de papel moeda. Se o Brasil impuser uma CBDC, eu vou tirar todo o meu dinheiro de Real e vou deixar o meu dinheiro em alguma stablecoin forte, em dólar, ou em Bitcoin, porque eu não consigo confiar que o governo não vai fazer alguma merda.

Eu já tive vários problemas aqui no Brasil com moedas FIAT, vários problemas. Desde juiz de primeira instância que julga arbitrariamente um processo e tira todo o dinheiro que tem na conta até governo poder travar sua conta no banco, e aí você fica rendido na história. Olha como é o cúmulo do absurdo, eu vou contar uma história, que aconteceu comigo: Eu abri um bar em 2015, em 2016 eu fali, adquiri uma dívida absurda, mais de 200 mil Reais. Eu não tinha dinheiro para nada, durante 1 ano e meio eu fiquei zerado, dependendo de ajuda do meu padrasto e da minha mãe. Aí eu conheci uma pessoa no Rio de Janeiro, fui pra lá para trabalhar e comecei a me reerguer, a pagar minhas dívidas. Um dia, eu estava almoçando com meu sócio, Rodrigo, e, quando eu fui pagar a conta, meu cartão não passava, abri o aplicativo do banco e minha conta estava zerada. Eu vou até falar valores, na minha conta tinha 35 mil Reais nessa época, mas ela estava zerada. Liguei pro banco, para entender o que tinha acontecido, a menina falou que eles tinham recebido uma ordem judicial para tirar todo o dinheiro que tinha na conta, me passaram o número do processo, e tal. Perceba, eu nunca recebi uma intimação, quando eu fui olhar o processo, um oficial de justiça qualquer falou que tinha entregado e foda-se. Eu não morava mais na minha cidade, a pessoa que tinha aberto o processo não sabia meu endereço, então eu não fui intimado de verdade, mas o processo caminhou, chegou para uma juíza que julgou à revelia [revelia é quando o réu é comunicado oficialmente do processo e não se defende. O artigo 344 do Código de Processo Civil descreve a revelia como o ato do réu deixar de se defender, mesmo tendo sido citado, ou oficialmente informado, por ato da justiça, da existência de um processo judicial contra ele.] Eu nunca tive conhecimento desse processo, só fiquei sabendo no dia que a juíza mandou tirar todo o dinheiro que estava na minha conta. Eu não tinha dinheiro para almoçar, eu não tinha dinheiro para pegar um ônibus, eu não tinha dinheiro para poder pagar um advogado. O valor da ação era 10 mil Reais, a juíza mandou tirar 35 mil Reais da minha conta e foda-se. Meu sócio teve que pagar o almoço, tive que pedir dinheiro emprestado para minha mãe, eu entrei em contato com um advogado, amigo da família, ele falou que isso ia dar uma dor de cabeça do caramba para conseguir reverter, os honorários seriam quase o valor da causa, eu ainda teria que pagar os 10 mil da causa que já foi perdida e aí, provavelmente em 4 ou 5 anos, talvez desse para reaver de 5 a 6 mil Reais, então sequer valia a pena começar um processo. Resumo da ópera, por causa de uma ação de 10 mil Reais, que eu nunca fui intimado, eu perdi quase 40 mil Reais. E foda-se! É assim que o Brasil funciona.

Se o Brasil funciona desse jeito porco, imagine tendo uma CBDC, com a qual a pessoa pode rastrear onde você tem dinheiro, simplesmente ir lá e confiscar. Se você está confortável com isso, parabéns. Eu não consigo ficar confortável com um negócio desses. Eu não consigo confiar no Brasil, principalmente no judiciário brasileiro, com as liberdades sendo cerceadas, sem ter direito a porra nenhuma, a gente não tem posse de nada. O governo pode pegar nossos imóveis, pegar nosso carro, pode pegar nosso dinheiro e foda-se. Você pode tentar brigar com isso, mas nunca vai ganhar, não importa o quanto você fique puto, porque o governo vai mandar no exército, na polícia, na aeronáutica, na porra toda, então não tem o que você possa fazer. Pode gritar, chorar, espernear, fazer o que quiser, que não vai resolver o problema. Então, como eu não confio nessa brincadeira, num CBDC eu confio menos ainda. Eu já não confio hoje, que eu tenho liberdade para comprar dólar, para comprar Bitcoin. Hoje, se eu quiser, eu faço um Pix, compro Bitcoin e acabou. Com o CBDC, o governo pode falar “não aceitamos mais compra de Bitcoin”, e aí, se você tentar fazer um Pix pra uma Exchange, vai ser negado, e você que se foda. Para governos totalitários, igual a China, faz total sentido fazer CBDC. Chega ao cúmulo do absurdo de, lá na China, ter tempo máximo para usar o dinheiro, se até o final do mês você não gasta o dinheiro, ele volta pro governo, olha que beleza, dinheiro pré-datado, tem tempo para gastar, olha que legal. Vocês querem chegar a isso no Brasil? Se vocês não querem ver o Brasil virar uma China, eu acho que a gente tem que começar a ver esse tema com mais cuidado.

A gente tem que entender sobre criptoativos, meu trabalho aqui é falar para vocês de que jeito funcionam as coisas porque, no meu entendimento, o conhecimento da tecnologia e de tudo que está acontecendo é importante em longo prazo para todo cidadão do mundo. Não é mais uma possibilidade, é uma questão de tempo. Aceite isso e comece a estudar, porque, se não, lá na frente, você vai ficar rendido. Para quem não lembra, quando teve o confisco, fui um dos períodos que o Brasil teve mais suicídios e depressão. Vamos passar por isso de novo? Eu estou falando que vai acontecer? Não sei, não sei como vai ser o futuro, mas a facilidade que a CBDC dá de isso acontecer é muito convidativa. Começou a dar problema na inflação, começou uma guerra, aconteceu qualquer coisa assim, confisca a porra toda e para o Brasil, e aí vai liberando à medida que o governo quiser. A nossa inflação já está altíssima, mas se tiver qualquer outra merda acontecendo no mundo que a inflação dispare, isso é muito mole de fazer. Mas como  que a inflação dispararia mais? Se acontecer outra pandemia, se acontecer uma guerra mundial, tem vários fatores macroeconômicos que podem fazer a inflação disparar. A Inflação é resultado do aumento do consumo, ter mais demanda e menos produtividade, tendo menos produtos disponíveis no mercado, vai aumentar o preço. É o que aconteceu na pandemia: a gente precisou ficar em casa, aí precisava de uma cadeira nova para trabalhar, a cadeira que custava R$120,00 foi pra R$800,00. Eu não estou brincando, eu comprei as cadeiras do meu escritório do Vigia de Preço, na média de R$150,00, a mesma cadeira, na pandemia, estava custando R$800,00. Tinha mais demanda do que produto no mercado. A DXRacer, que é a empresa que faz essas cadeiras, estava pedindo de 6 a 8 meses para pode produzir e tinha fila de espera. A cadeira onde eu estou sentado agora, eu fiquei esperando 4 meses ela chegar.

Para finaliza, se ainda não ficou claro, CBDC é uma aberração que não deveria existir, o Pix já está de bom tamanho, deixa só o Pix que está bom, não inventa moda de continuar com essa ideia de fazer Real Digital. Mas, se a população não entender quais são as consequências possíveis de uma CBDC, não vai adiantar nada, o negócio vai caminhar e vai acontecer.

O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “Stablecoins e CBDC”: