Muitos se questionaram sobre o porquê do Facebook ter mudado seu nome para Meta, e, com isso, gerou-se todo um hype sobre cryptoativos, NFTs e Metaverso. Mas o que poucos entendem de fato é que não existe nada de inovador nessa mudança: estamos apenas vivendo o momento de transição do atual modelo de retargeting para compra de mídia para um novo padrão de coleta dados dos usuários que está em uma zona cinzenta das legislações atuais.

O modelo de monetização do Facebook, do Google e de tantos outros, o conhecido Ads, ou aquisição de usuários, requer uma grande quantidade de informações dos mesmos para que os algoritmos filtrem com qualidade o público, seguindo os parâmetros definidos da campanha. Isso faz com que as empresas paguem mais caro para impactar diretamente seu público alvo, com o máximo de precisão possível, e, assim, ter um ROI (Retorno sobre investimento) positivo. A tendência desse mercado é ficar cada vez mais caro. Tendo menos informações, os algoritmos ficam cada vez menos eficientes. Sem resultados satisfatórios, as empresas irão reduzir a compra de mídia nessas empresas e procurar formas alternativas de aquisição de público, mais baratas e eficientes. O que o mercado vem acompanhando há algum tempo são governos por todo mundo criando leis para frear a coleta de informações dos usuários, tentando garantir o máximo de privacidade. Essas grandes empresas de tecnologia frequentemente são alvos de denúncias, multas milionárias e processos. Quem não se lembra do Mark Zuckerberg tendo que se explicar para o senado dos Estados Unidos?

O fato é que as legislações demandam muito esforço e tempo para se adequarem à realidade do mundo e, quando falamos de tecnologia, existem muitas áreas cinza que abrem brechas para que outras formas de coletas dados possam ser realizadas sem passar por regulamentação. Um exemplo bem simples deste fenômeno são as tecnologias para monitorar e transformar diálogos em texto, por meio de coleta via Apps, através de seu Smartphone. Quem nunca se deparou com um anúncio logo após comentar com um amigo sobre determinada marca ou produto? Porém, como é muito difícil de provar que esses Apps estão coletando essas informações, não existe na grande maioria dos países uma legislação específica. Grandes investimentos em widgets como Google Home e Apple HomePod são provas de que as empresas estão procurando formas alternativas para obter cada vez mais informações de seus usuários, as através dessas zonas cinzas.

Então chegamos ao tal Metaverso: pare para imaginar a quantidade de informação que será possível coletar em um ambiente 100% digital, onde até mesmo a direção do seu olhar pelo óculos de realidade virtual pode ser a sinalização de interesse em determinado conteúdo ou marca. É por isso que todas as grandes empresas do segmento já anunciaram ou irão anunciar em breve seus próprios “metaversos”. Quanto mais usuários dentro dessas realidades virtuais, mais informações e, consequentemente, mais interesse em investimento de marcas e ainda menos transparência em quais tipos de informações estão sendo coletadas por se tratarem de ambientes fechados, protegidos por propriedade intelectual. Estamos vivendo a mudança do mercado de marketing, uma versão 2.0 dos Ads, muito mais perigosos, envelopado de forma a parecer uma revolução na maneira como vivemos. A pandemia foi um fator especial para essa mudança, pois, cada vez mais, empresas estão deixando seus funcionários em home office. O consumo está migrando cada vez mais para Internet, portanto as empresas que vão estar melhor posicionadas nessa nova realidade nos próximos 20 anos são aquelas que tiverem o maior número de usuários totalmente imersos nesse novo mundo digital, fornecendo, em tempo real, informações de interesse de consumo.

Depois de todo esse contexto, deixo minha opinião sobre a recente compra da Activision Blizzard pela Microsoft. O mercado de games já provém seus “mini universos” desde os anos 2000. Títulos como World of Warcraft até hoje detém comunidades de milhões de jogadores em todo mundo. A quantidade de informações geradas por esses usuários vale ouro na economia “web3”. Nenhuma grande empresa que está realizando aquisições de estúdios de jogos está preocupada em, de fato, criar jogos, estão apenas se movendo para não ficarem de fora do que está por vir. E, se o mundo entrar de fato na Matrix, as moedas correntes serão as criptos. Por isso o desespero dos reguladores mundiais, correndo contra o tempo para tentar entender como cobrar impostos. Será o Facebook a maior nação do mundo ?