Não é nenhuma novidade para o mercado que o Ethereum, o segundo maior ecossistema do universo cripto, tem tentando alterar sua forma de validação de blocos de Proof Of Work (PoW) para Proof Of Stake (PoS). Mas, a final, o que isso significa e que riscos isso representa?
Eu expliquei um pouco sobre o PoW no post abaixo, recomendo a leitura para um melhor entendimento do tema. É importante deixar claro que o tipo de validação atual é praticado pela rede do Ethereum desde sua criação e diversos outros ativos, como Bitcoin, também utilizam este método de validação por um motivo simples: segurança!
Vamos entender a principal diferença entre cada tipo de validação e o risco que essa migração apresenta.
Proof of Stake (PoS)
De forma simplificada, o PoS possui uma forma mais “limpa” de processar as transações, a partir de Nodes de validação com “autoridade”. Para isso é necessário manter em uma carteira a quantidade de 32 ETH em staking (uma espécie de poupança). A rede, então, faz um “sorteio” entre esses Nodes para validar e consolidar as transações na Blockchain. Isso, na teoria, elimina o consumo desnecessário de energia utilizado na mineração. Porém a rede perde em estabilidade e segurança e se torna, de certa forma, centralizada em grandes investidores da moeda, que possuem grandes quantidades de Ether em suas carteiras, já que, na cotação atual, montar apena um Node no PoS custaria por volta de R$268.177,39.
Testes recentes feitos pela equipe do Ethereum provocaram uma instabilidade na rede, a ponto de ser necessário reorganizar sete blocos. Esse tipo de “problema” não se vê na rede há muitos anos. Quando algo desse tipo ocorre, isso significa que existem menos Nodes de validação do que a rede realmente precisa para suportar todo ecossistema ou que está ocorrendo um ataque que gera forks do mesmo bloco. Sendo assim, o bloco atual não recebe um resultado válido antes da criação de outro bloco. Logo, todas as transações precisam ser alocadas novamente na fila. Já que a Blockchain não comporta dois blocos com os IDs de encadeamento iguais, o bloco mais antigo é descartado e a rede sofre essa reorganização. Assim, transações que foram enviadas depois acabam sendo processadas antes, pois o bloco original foi eliminado. Mas isso representa uma falha de segurança ou algo do tipo? Não. A reorganização de blocos já é prevista há muito tempo, porém sua ocorrência mostra que a rede não está suportando a quantidade de blocos que estão sendo gerados.
O problema que ocorre em uma reorganização é que, se uma parte da rede anexou uma cadeira de blocos e outra parte da rede anexou outra cadeia de blocos, isso requer um reprocessamento para correção da mesma, além de uma parte do poder computacional da rede ser desperdiçada. Já que parte dos mineradores vai processar blocos que não serão considerados válidos, a recompensa não será entregue e ou vai ser perdida na reorganização. Em grandes proporções isso pode colapsar a rede.
Outro problema que ocorre quando há uma falha de sincronia dos blocos é que o DAG cria índices não válidos pela rede e, assim, as placas começam a enviar resultados com um falso positivo.
Esses invalid shares podem ocorrer por vários motivos e existem formas de contornar esse problema. Normalmente o próprio software de mineração já reinicia a geração do DAG, mas não sei o que ocorreria no caso de uma reorganização em massa da rede.
Riscos dos 51%
Existe uma teoria no mundo cripto que, caso alguém detenha o poder computacional superior a 51% do total da rede, este teria a possibilidade de manipular as informações da Blockchain, uma vez que sua validação seria mais rápida do que todo o restante da rede junto. Porém, a descentralização do PoW impede que esse movimento ocorra, já que existem milhares de mineradores independentes que, se somados, representam parte significativa da rede. Tanto que, quando a China proibiu mineração, várias fazendas foram migradas para países vizinhos e rapidamente a rede voltou a operar normalmente.
Porém essa realidade muda quando falamos em um PoS, por que, neste caso, deter a maioria das moedas em circulação custaria cerca de US$212 Bi e, vamos ser honestos, este valor é muito baixo caso um país como a China ou os Estados Unidos resolvesse controlar a rede, não é mesmo? Até por que, no caso dos EUA, basta aperta um botão que “milagrosamente” esse valor aparece na conta.
Caminho sem volta
Hoje a mineração, em sua grande maioria, ocorre por meio de GPUs e, como citei em outros posts, tem mobilidade para migrar de moeda em minutos. Portanto, caso o Ethereum desligue o PoW amanhã, toda rede será migrada para outras moedas que utilizam esse sistema. Óbvio que de início os lucros serão menores, mas a demanda pelas principais moedas irá aumentar o volume de transações e, em pouco tempo, a operação voltará a ficar rentável. Mas existe o risco da rede Ethereum, na mudança “definitiva”, sofrer uma sobrecarga de investidores descrentes com os resultados, caso ocorra um problema mais grave de instabilidade da rede. Os mineradores poderiam não voltar e isso causaria um colapso, mesmo que momentâneo, onde seriam acumuladas transações na fila a espera de processamento. Consequentemente, um congestionamento da rede iria aumentar a preocupação dos investidores, pois as Exchanges iriam paralisar as negociações até que a rede voltasse ao normal, já que as taxas iriam subir absurdamente.
Esse risco é real e, por isso, os desenvolvedores do Ethereum já adiaram diversas vezes o lançamento do ETH 2.0, previsto inicialmente para o final de 2021. Inclusive, durante o ano passado alguns grupos de pools estavam se organizando para fazer um boicote coletivo à rede, já que a mineração vem sofrendo cortes há algum tempo, reduzindo a rentabilidade e afetando diretamente o lucro da operação.
O que vai acontecer com a rede, só o tempo dirá.