Recentemente tem ocorrido uma onda de demissões em massa, vamos entender por que isso vem acontecendo em várias empresas.
Qual objetivo de uma empresa?
Eliminando todo contexto operacional, modelo e mercado, o sentido primário de uma empresa é gerar receita. No final do dia, o único fator, a única métrica relevante do processo é fechar a conta no positivo. Existem estratégias de empresas como Netflix, entre outras, em que 100% do caixa, ou até mais que isso, é reinvestido na operação, para potencializar ao máximo o crescimento. Mas, mais cedo ou mais tarde, essa empresa vai precisar gerar fluxo de caixa positivo para quitar as obrigações contraídas ao longo do processo.
Essa profusão de empresas queimando loucamente caixa e investimentos para terem crescimentos rápidos tem sido tema frequente de discussões entre vários economistas para tentar entender se, de fato, esse modelo é sustentável de alguma forma, já que a empresa cria uma necessidade de investimentos frequentes e cada vez maiores, ao ponto de chegar a cifras impagáveis. Os investidores, que antes proviam liquidez para essas operações com cash flow negativo, hoje estão revendo suas estratégias de investimento, prova disso são quedas gigantes de empresas listadas em bolsa, principalmente empresas de tecnologia, nesse período pós-pandemia.
No meu ponto de vista, os incentivos que foram dados pelo governo e a estabilidade do consumo nos últimos anos deram uma impressão míope de que tudo que ocorreu com a economia dos países não teria reflexo em curto prazo, com varejo e serviços digitais batendo recorde de faturamento e bancos com lucros bilionários. Mas injeção de dinheiro na economia somada ao aumento de consumo gera a tão temida inflação, que até países mais “sólidos” estão enfrentando. Consequentemente a distância entre “pobres” e “ricos” cresce, já que quem não se importa em entender o cenário macro econômico continua vivendo sua vida e gastando loucamente em fluxo mensal, sem sequer possuir reservas na maioria das vezes e, o se deparar com alta expressiva do custo de vida, dos alimentos, combustível, alugueis, etc., precisa parar e reavaliar seus gastos, então começa a cortar o que considera supérfluo, como compras desnecessárias, serviços digitais, até mesmo mensalidade de faculdades, a compra do carro novo, etc. Fato esse, inclusive, que levou à super valorização de veículos usados, com carros “populares” batendo a casa dos R$100.000. Particularmente, o meu padrão de consumo caiu desde o início de 2020, pois meu entendimento da época era manter estáveis minhas reservas e acumular liquidez, invés de realizar investimentos arriscados ou comprar o que eu não preciso. Até vendi meus carros e reduzir o custo de vida.
Qual a necessidade de um funcionário?
Sendo, então, o objetivo principal de uma empresa a geração receita, a contratação de um funcionário somente faz sentido se este gerar mais receita do que custos para manter sua existência dentro da empresa, correto? Porém essas empresas, que estão na busca de um crescimento rápido, têm uma métrica interna de quantidade. Perceba, a empresa precisa parecer maior do que ela é, logo quantidade de funcionários é muito mais importante do que qualidade. Eu trabalhei em algumas empresas com centenas de funcionários e convivi com equipes de grandes empresas e o que se vê é um verdadeiro show de horrores. Dezenas de funcionários para executar uma tarefa que um único profissional qualificado consegue fazer sozinho, falta de capacidade técnica, pouco ou nenhum entendimento da área em que trabalham, não entendem minimamente o negócio da empresa, seguem uma cartilha cultural da companhia que não reflete de fato os interesses e necessidades que todo ecossistema precisa para existir. Portanto existe um descolamento entre o conselho administrativo, a diretoria e os funcionários. Existem dois “estratégicos”, um é o real, que o conselho define entre si, e o outro, vendido para os funcionários. Empresas que pregam diversidade com 100% do conselho formado por homens brancos. Não é que eu seja favorável a esse tipo de militância já que acredito que gênero, cor de pele, sexo, etc. não tornam o profissional mais ou menos capacitado, mas hoje em dia não importa se a pessoa é boa ou não no que faz, os critérios de contratação do RH são baseados em quantidade e perfis específico que deixam a empresa mais colorida publicamente para mostra uma série de pseudo-virtudes de fachada.
O que acontece com esse tipo de empresas? Em momentos de crise em que se precisa controlar o fluxo de caixa com uma diminuição considerável dos gastos, todo excedente dispensável à manutenção das operações é descartado, simplesmente por que perde o sentido manter. E perceba que, nesse momento, não estou questionando a capacidade ou profissionalismo de quem foi mandando embora e sim o propósito do exercício da função dentro da empresa. Às vezes você pode ser um excelente profissional que foi contratado para dar volume às operações e por isso foi demitido, sua função não faz parte do core business da empresa. Entenda que quem realmente é importante para a operação não foi e, muito provavelmente, nunca será mandado embora, por que sem aquela pessoa pode ocorrer um comprometimento dos processos. Qualquer outra função que não tenha tanta relevância pode ser descartada.
Você pode considerar isso certo ou errado, não importa, as empresas não vão mudar por conta do que você acha, é assim que as coisas funcionam e vão continuar funcionando. Você recebe pela importância que possui no processo e não pelo que você faz em si, você tem a opção de ser tornar relevante na empresa que trabalha ou ser um medíocre descartável, a opção é sua. Empresa nenhuma no mundo tem obrigação de te manter “pelos seus belos olhos”, se seu rendimento pelo menos não cobre seu custo, é burrice e mais cedo ou mais tarde você vai ser mandando embora, aceita que dói menos.
Por que contratamos pessoas?
Nenhum empresário do mundo contrata pessoas por que quer, contrata por que precisa, seja para agregar conhecimento, operacionalizar uma função ou gerenciar um grupo de pessoas. Os melhores negócios do mundo são aqueles que podem ser feito sozinhos e ter 100% do lucro sem precisar esquentar a cabeça ou ter responsabilidade com terceiros. Eu procuro muito atividades que possa executar de forma individual. É uma coisa que as pessoas não entendem, que negócios são negócios. Se estivéssemos procurando amigos, iríamos ao bar ou na balada e não estaríamos abrindo uma empresa. Claro que um funcionário pode virar um amigo, eu tenho vínculo de amizade com várias pessoas que já trabalharam ou trabalham comigo, mas isso é secundário. A amizade não cria imunidade em ninguém, como falei em um post passado, eu já demiti amigos, familiares, até minhas mãe e esposa. Dentro da empresa eu sou o dono da empresa, não sou amigo de ninguém, eu vou tomar decisões que sejam as melhores para a empresa, não para um grupo de pessoas, isso inclui demitir em massa, caso seja necessário, como já fiz várias vezes. Achou ruim? Desculpe te informar, mas todos os empresário que eu conheço vão colocar a empresa à frente dos interesses dos funcionários. Pare de se iludir e achar que existem empresários autruístas que pensam no bem coletivo a ponto de deixar a empresa falir para manter os salários de funcionários que pouco ou nada ajudam a resolver os problemas quando necessário, por que, no final do dia, caso a empresa “dê merda” e ele precise pagar todas as contas das demissões e fechamento do CNPJ, nenhum funcionário vai ajudar a pagar. É muito fácil criticar a postura quando a responsabilidade não é sua.
Conselho de amigo: quer fazer diferente, já que você possui um coração enorme, tem empatia com o próximo e defende causas coletivas, ABRA SUA PRÓPRIA EMPRESA, toque ela, contrate seus próprios funcionários e, daqui alguns anos, a gente conversa, vamos ver quanto tempo seus ideais duram. Agora, saiba que se sua empresa falir, a culpa é toda sua e a responsabilidade de pagar tudo que for necessário para fechar essa empresa vai ser sua, querer jogar a culpa pela sua incompetência em outras pessoas não vai adiantar de nada, ninguém vai se importar.
