Uma coisa que me tira do sério são pessoas que vendem o ativismo como forma de pureza. Altruísmo dificilmente existe com plenitude na sociedade, são raros os casos de pessoas que dedicam sua vida sem nenhum interesse, mesmo que inconscientemente.

O ser humano é individualista por padrão

O fato é que a nossa espécie é individualista “de fábrica”. Só aceitamos determinados tipos de situações até que isso nos impacte de alguma forma. Em tudo na nossa vida existe uma troca. Até mesmo sua mãe teve você não por que ela te amava, você nem existia: ou ela tinha a vontade de ser mãe, ou aconteceu um “pequeno acidente” que te colocou no mundo (por incrível que pareça, você foi o espermatozóide mais rápido!) e, só com o tempo, ela passou a te amar (ou não). Em uma relação de amizade existe uma troca, mesmo que seja a conversa ou a presença, pessoas têm necessidades e distrair a cabeça é uma delas. Não acredita que é assim? Lembra daquele seu amigo com quem você não fala mais? Por que isso aconteceu? Será que por que não fazia mais sentido a amizade de vocês, já que seus objetivos se distanciaram? E isso ocorre com tudo na vida, suas ações, mesmo que inconscientemente, são feitas para te saciar, te preencher de alguma forma. Nascemos sozinhos e vamos morrer sozinhos e tudo diferente disso é uma aberração à nossa própria genética.

Sabendo da nossa natureza, não existe nenhum problema de entender por que fazemos as coisas, quais os fatores efetivamente nos levam a conviver com determinadas pessoas ou contratar determinados tipos de perfil ou, mesmo, trabalhar em determinados tipos de trabalhos e empresas. Essa ideia maluca da empresas com diversidade só cria uma segregação de grupos que se identificam em uma briga interna pelos interesses coletivos de um grupo que tem os mesmo objetivos. Trabalhei em empresas com centenas de pessoas e a divisão de tribos é tão obvia que, além dos problemas externos, ainda existem problemas internos. O ser humano sempre vai ter a tendência a se relacionar com quem mais se aproxima de seus interesses pessoais e se afastar de quem se difere, isso é natural, esta em nosso DNA. Conviver com pessoas diferentes de nós foi uma pratica que aceitamos com certa repulsa e, quanto menos contato, melhor. Veja não estou aqui falando de preconceito por determinado grupo e sim pela preferência instintiva que temos de conviver com pessoas mais próximas da nossa realidade. Isso independe de sexo, cor de pele, religião, orientação sexual, time que torce, etc., normalmente são pessoas que tem os mesmo interesses que nós, pelo menos parcialmente.

Até mesmo em um relacionamento amoroso, casar com uma pessoa requer não só um interesse sexual e sim uma identificação de objetivos. Quando um casal se distancia e seus interesses são conflitantes, o melhor caminho é se separar e procurar outro parceiro. Como somos mutáveis, nossos interesses mudam com certa frequência e ter a insistência de permanecer em um relacionamento, mesmo que os interesses sejam diferentes, ou é burrice, ou é uma verdadeira prova que o amor existe. É como dizem os Titãs, “Não existe o amor, apenas provas de amor”… E talvez sua teimosia em se manter nesse relacionamento seja pelo interesse de ser considerada uma pessoa resiliente ou apenas por que deseja ficar perto de seus filhos, quem sabe. Enfim, o motivo pelo qual aceitamos algumas situações não nos torna altruístas, até mesmo o ato de fazer bem a alguém libera alguns tipos de satisfação pessoal, aquele famoso “estar bem consigo mesmo”.

Coletividade

Se o padrão do ser humano é ser individualista, por que caralhos achar que os movimentos coletivistas de fato fazem sentido? Os “sindicatos da moralidade” que existem em prol de defender interesses coletivos, mesmo que seja necessário passar por cima das pessoas e, com isso, se organizar apenas para ter volume na hora de reivindicar seus próprios interesses. Na boa, se não se sente devidamente reconhecido ou se sente prejudicado, é simples, sai do que está fazendo e vai procurar quem reconheça seu devido valor. Monte sua própria empresa, arrume outro parceiro, mas, de coração, não existe pessoa na terra ou empresa que vai atender 100% de seus interesses e necessidades. Não tem como atender o interesse de todo mundo ao mesmo tempo, pois muitas vezes esses interesses são conflitantes. Não dá para agradar a todos e, por motivos bestas, começamos a nos segregar.

Vou contar uma historia engraçada: uma vez tive problema em uma de minhas empresas por que nos mudamos para um escritório que tinha ar condicionado central. Quem já trabalhou em ambientes assim sabe que a temperatura da sala ou fica muito fria, ou fica quente. Pois bem, a parte da equipe “calorenta” chegava no escritório e já colocava o ar no 16, aí a parte da equipe “friorenta” ia lá e aumentava a temperatura e isso começou a incomodar tanto que a empresa praticamente se dividiu em dois grupos. A solução foi comprar casacos para a equipe e quem estivesse sentido frio, que os colocasse. Mas perceba que naquele momento nada disso importava, esses grupos tinham a necessidade de preservar seus interesses e se organizaram de forma coletiva para conseguir o que queriam, depois disso o movimento se dispersou e, honestamente, acredito ser esse o destino de qualquer movimento coletivista. Eu, em algum momento, acreditei em causas coletivas, até o dia que de fato precisei de assistência e não tive. Ali foi uma virada de chave para entender que tem muito picareta vendendo a ideia de coletivismo para ganhar dinheiro fácil dos trouxas que acham que precisa fazer parte de um grupo para defender seus interesses. Na boa, defenda você mesmo os seus interesses, afinal eles são seus. Não está satisfeito? Pege suas coisas e vá embora, você tem livre arbítrio, você não precisa de Estado, sindicatos, amigos, leis e regras para isso.

Você não precisa ser o que as pessoas querem

Perceba, você precisa ser o que te faz bem, ninguém tem como saber o que te deixa em plenitude. Tenha autoconfiança e entenda que você não precisa de ninguém para estar bem consigo mesmo, seus relacionamentos ganham outro sentido. Tem pessoas que têm a necessidade de conviver diariamente com outras pessoas, particularmente eu gosto de ficar isolado e conviver com a minha própria consciência que, inclusive, nem sempre tem os mesmo interesses que meu corpo. Eu acho que a depressão é mais ou menos isso, um desalinhamento de interesses do seu corpo com sua mente, ao ponto que você fica triste por tentar levantar e seu corpo não sair do lugar. Pessoalmente esse é o meu motivo de maior frustração comigo mesmo, é pior do que sentir uma dor física.

Para finalizar, eu vou deixar um vídeo absurdamente complexo e verdadeiro do Fabio Akita: