Bom, esse tema tem aparecido com certa recorrência em vários mercado, inclusive o de games, já que várias empresas dependem da aquisição de novos usuários por meio de ferramentas de Ads. Eu vou ponderar aqui alguns pontos importantes para quem depende desse tipo de serviço ou pretende montar projetos que tenham demanda por estes.

Consumo temporal

Quando pensamos em consumo de uma maneira geral, cada pessoa teoricamente tem um perfil baseado em gostos pessoais ou propensões a determinados tipos de produto ou marcas. Porém, o fator excluso da maior parte dos setores de marketing é o fator temporal. Consumimos porque precisamos ou porque desejamos um tipo de produto, mas o consumo de necessidade normalmente vem na ponta do desejo, por isso ferramentas como Google e Facebook se tornaram especialistas em identificar seu comportamento de consumo atual e, assim, criaram formas de gerar impacto imediato.

Ocorre que esse tipo de serviço tem dois problemas: primeiro, as ferramentas e algoritmos precisam de uma grande quantidade de informações e essas informações precisam ser atualizadas com frequência, caso contrário serão exibidos anúncios sem sentido ou fora do time da compra. É muito comum pesquisar determinado produto e ficar recebendo ofertas deste por meses, mesmo depois da compra, não é mesmo? O nome disso é Retargeting. O outro fator importante a se entender em campanhas do tipo CPC (custo por clique), é que o valor pago deriva da dificuldade em converter uma “impressão de anúncio” em um clique, quando mais fácil a comunicação e a conversão, menor o custo.

Privacidade

Na contra mão da necessidade dos algoritmos, o que vimos nos últimos anos são leis de proteção contra coleta e uso de dados pessoais, além de multas milionárias para empresas que coletam deliberadamente informações de seus usuários utilizando as técnicas mais obscuras possíveis, como, por exemplo, monitorar tudo que é falado perto de seu smartphone. Quem nunca recebeu um anúncio de alguma coisa que nunca pesquisou, apenas comentou com um amigo? E isso piora quando falamos dos assistentes virtuais em sua casa, capturando conversas 24h por dia no ambiente mais seguro possível, tudo isso totalmente protegidos pela área cinzenta das legislações.

Existe uma diferença grande entre dados que são coletados e dados que são fornecidos pelo próprio usuário de livre e espontânea vontade, porém como diferenciar de qual caso estamos tratando, quando alguém compra um equipamento que fica ligado na internet 24h por dia e tem microfones sempre ligados, teoricamente só esperando um “Alexa” ou “Ok Google” para serem ativados.

Imagine o quão pior isso seria em um metaverso, onde você pode olhar para as coisas e esse ato já caracterizar uma informação de possível interesse de consumo. Esse tema já foi comentado no post abaixo:

Mas por que Ads estão se tornando insustentáveis?

Investir em Ads exige que o retorno seja maior do que o investimento, correto? O famoso ROI, seja ele em novos Leads, assinantes, jogadores, compras. Cada empresa possui uma métrica para definir a viabilidade desses investimentos, porém o preço e a competição em volta de alguns termos torna o ROI negativo, ou seja, não vale a pena investir, já que o custo de aquisição não se paga em conversão. Por isso que o uso de afiliados e influenciadores vem crescendo consideravelmente nos últimos anos.

Ainda assim, a briga pelo mercado consumidor na internet representa uma fatia insignificante do todo. Em uma entrevista, Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo, conta que o e-commerce no Brasil atende basicamente, em sua maioria, classe A+, portanto zona Sul do Rio de Janeiro, Barra da Tijuca e centro de São Paulo. Mesmo com iniciativas de crédito, 70% a 80% das vendas ainda são em loja física. Vou deixar a entrevista fixado aqui:

Capilarização das vendas

Várias empresa entenderam, com a pandemia, que a figura do vendedor é extremamente importante para uma parte da população, que não está habituada com vendas por meios digitais e uma nova vertente começou a tomar conta: são grupos de WhatsApp e Telegram para venda de produtos e serviços, utilizando sistemas para identificar e bonificar a origem dessas compras.

Seria uma excelente ideia, mas, conhecendo esse mercado, sei quanta corrupção e fraude existe. Logo, o pequeno vendedor recebe provavelmente menos de 30% de suas vendas, seja por roubo por parte dos intermediários ou até mesmo má fé das lojas. Por esse motivo, acredito que esse tipo de iniciativa tenha pouco tempo de vida e sua performance vai se tornar questionável em longo prazo. Resumo da ópera, resultados cada vez piores e quedas bizarras de 80%.

Conclusão

Se você possui um negócio que depende diretamente de Ads para sobreviver, aconselho que procure rapidamente formas alternativas de aquisição, pois seu negocio está em risco de falência nos próximos anos. O custo vai continuar aumentando, sua equipe provavelmente não tem capacidade técnica para entender e otimizar essas campanhas, uma hora o ROI vai ficar negativo, se é que já não está, e empresas com cashflow negativo vão sofrer muito nos próximos anos, porque o capital de risco evaporou.