Esta é a segunda parte da transcrição mais informal de uma série de áudios de 2018, quando eu decidi gravar minhas ideias em vez de escrever. Se você ainda não viu a primeira parte, vou deixar o post linkado aqui.

Eu gosto sempre de ouvir os meus áudios e a primeira parte eu ouvi toda pra poder continuar, para não perder a linha de raciocínio. É interessante fazer dessa forma porque você consegue manter uma espécie de um padrão. Então, continuando o que eu tava falando anteriormente, quando do você para pra analisar que cada ser é um individuo único, e cada empresa vai ter suas peculiaridades na parte de estratégia, na visão, na parte administrativa, a forma como se organiza, como é o tratamento com os funcionários, como é a história da empresa, ela vai ser única. E aí a gente parte para a parte do foco. Eu citei no texto anterior “Alice no País das Maravilhas” e isso é bem concreto, se você for analisar, grosso modo, o que é o foco? O foco, pra mim, é quando você olha o objetivo que você quer alcançar, você traça uma linha, você faz uma trajetória, um caminho até aquele objetivo. Um caminho claro e direto para aquilo que você está querendo.

Então, a primeira parte que eu quero deixar bem clara e definida é qual a diferença entre o objetivo e o foco. O objetivo, eu vejo o seguinte, ele é mutável. O tempo todo os objetivos da sua empresa, assim como seus objetivos pessoais, eles mudam, a medida, também, com que você vai alcançando esses objetivos. O objetivo não vai ser um só, você vai seguir a vida toda. Você pode, obviamente, ter um objetivo master, por exemplo, o Steve Jobs, criador da Apple, ele tinha como visão, como objetivo principal, fazer com que a Apple se tornasse a empresa mais valiosa do mundo. Esse era o objetivo maior dele e, pra ele, era tipo “se eu chegar a alcançar esse patamar, eu vou ter feito o que eu queria”. Esse objetivo maior é uma visão em longo prazo e entraria mais ou menos no que seria a visão da empresa. Não sei necessariamente se a visão da Apple era essa, mas acredito que não… Essa era uma visão pessoal do Steve, de tornar a empresa a mais valiosa do mundo. E, como falei, as empresas têm uma tendência a ser um reflexo direto ou indireto dos seus fundadores e dos seus gestores. O que seria da Apple sem o Steve Jobs, sem a genialidade dele, sem a audácia que ele tinha, a força que ele tinha pra encarar os desafios… E a Apple passou por vários problemas ao longo da trajetória, já quase faliu várias vezes. O Steve saiu da gestão, depois voltou e transformou as coisas e, se você for parar pra perceber, o objetivo da Apple mudou. Ela fazia computadores pessoais e depois ela foi evoluindo, criou o iPod, criou o iPhone e criou o AirPod e só aí ela conseguiu chegar ao objetivo master do criador, mas de uma forma totalmente diferente do que ela iniciou. E, assim, o que seria da Microsoft sem o Bill Gates? O que seria da Amazon sem o Bezos? O que seria do Google sem o Larry Pages e o Sergey Brin? É um questionamento, será que essas empresas chegariam onde elas estão hoje se a visão desses empreendedores fosse diferente? Não sei. É uma coisa que é bem difícil de conseguir entender, conseguir chegar a uma conclusão aceitável.

Por exemplo, falam muito do Mark Zuckerberg, mas o que seria dele sem o Sean Parker, que é o cara do Napster, que entrou no Facebook e fez uma mudança grande de gestão, de propósito. Ele era muito mais agressivo do que o Zuckerberg, que vinha de um “roubo”, vamos dizer assim, de tecnologia e de ideias dos irmãos de Harvard (os irmãos Winklevoss) e traçou um objetivo, fez o sistema, mas ele não tinha um tato comercial, isso só foi adquirido com o tempo. Hoje ele tem várias pessoas que vão ajudando nesse processo. O Facebook não é só o Zuckerberg, mas tem muito dele. E por ai vai, quando a empresa vai crescendo, ela vai perdendo um pouco da identidade do seu criador, mas ela mantém algumas coisas de essência. Por isso existe a missão da empresa, quais são os valores e quem determina esses valores é quem faz a parte estratégica. Você não muda simplesmente a visão da empresa por que você mudou de diretoria, mas o diretor sempre vai tentar trazer um pouco do que é a visão dele para aquele negócio e que, na maioria das vezes, é diferente da do cara que o criou.

Então, o objetivo, no final das contas, vai ser variável e vai ser determinado de acordo com o que a empresa é hoje, de acordo com o planejamento, que talvez nem seja tanto um planejamento escrito, pode ser simplesmente um planejamento que está na cabeça de quem está tocando a empresa. E esse objetivo precisa ser muito claro, definido, específico, porque se você não tem um objetivo bem definido, não tem como fazer um foco bem definido, nem tem como criar uma estrada até esse objetivo. É como no caso da Alice, se você não tem um objetivo bem definido, qualquer caminho serve e você nunca vai ter uma trajetória bem definida.

E o foco, pra mim, é essa estrada que você vai caminhar pra conseguir chegar ao seu objetivo. Então, pessoalmente falando, o meu objetivo sempre foi… Eu tinha dois objetivos na minha cabeça, desde pequeno… O primeiro deles era me tornar muito bom no que eu fazia, ser reconhecido pelo que eu fazia. Isso era uma coisa que eu queria pessoalmente, independente de dinheiro. No final, acaba que não era uma empresa, não era um negócio, era um hobby que dava dinheiro, porque eu comecei numa época em que estava em ascensão o mercado que eu escolhi trabalhar. Então, quando você pensa que eu tenho um objetivo, mas esse objetivo não é financeiro, não é um objetivo empresarial, então ele é um hobby. Chegou um momento que eu peguei esse hobby e falei assim: “meu objetivo agora é dinheiro, eu quero ganhar dinheiro porque eu estou cansado de começar projetos e terminar projeto e parar projetos porque eu não tenho uma estrutura financeira bem definida”. Na minha vida aconteceu muito disso, de eu começar projetos idealísticos muito legais, que tinham um foco amplo, que precisariam ter uma equipe e ter toda uma infraestrutura, mas eu começava esses projetos sozinhos e, em algum momento, o dinheiro acaba. Aí você coloca seus ideais de lado porque você precisa de dinheiro e o mundo gira em torno do dinheiro. Inclusive mais a frente vamos ter uma parte desse “bate papo” falando só do dinheiro, mas, como eu já disse, pra mim o dinheiro é só uma das ferramentas que você vai usar para conseguir chegar no seu objetivo. A gente também vai falar sobre o know how, que é uma parte importantíssima na definição desse objetivo, a entrada no mercado e os conhecimentos que você precisa ter pra entrar em qualquer tipo de mercado. Não é tão simples quanto parece, não basta você querer fazer alguma coisa, mas eu vou deixar pra gente conversar mais extensamente sobre o know how no próximo tema.

Então vamos voltar à parte do foco: o foco vai te mostrar as possibilidades que você vai ter, são escolhas que terão que ser feitas sobre qual caminho você vai seguir para chegar àquele seu objetivo. Então, pra você conseguir definir isso de uma forma bem clara, é preciso entender algumas variáveis. Primeira coisa, você precisa entender em que momento você está, onde você está? A minha empresa está no patamar X, eu quero chegar ao patamar Y, então o meu objetivo é chegar no Y. Aí tem uma série de possibilidades, nós podemos tomar um caminho mais curto, um caminho mais difícil, quem vai definir qual estratégia vai ser usada é você ou a pessoa que está gerindo essa empresa, que está atrás desse objetivo. Pelo pouco de experiência que eu tenho na área de empreendedorismo, porque eu vou falar aqui que 10 anos são pouca coisa se comparado a outras pessoas que estão há 30, 50 anos “brincando” de empreender, e eu paro pra analisar, o que vai fazer você chegar naquele objetivo são basicamente essas escolhas. Você tem que entender cada uma delas, e tem que aprender a assumir riscos. Nem sempre a estrada certa é reta, ela é sinuosa, ela vai ter vários problemas para você resolver, só que às vezes, pra você ir por uma estrada rápida, mais simples, você precisa assumir riscos e esses riscos são complicados psicologicamente falando. Às vezes é uma mudança de comportamento, é uma mudança em um fator sociocultural que você leva.

Eu vou dar um exemplo bem distante, muito fora da realidade, mas vamos supor que eu queria abrir um cassino, que tem uma série de complicações. Não existem cassinos no Brasil, não é permitido. Mas eu quero abrir um cassino porque dá dinheiro, dá dinheiro pra caralho! E ai eu falo o seguinte: eu quero abrir o cassino, mas eu estou burlando a lei, porque aqui no Brasil não é permitido ter cassino. Mas eu vou ter que tirar da minha cabeça, vamos dizer assim, a questão da legalidade. Eu vou ignorar a ilegalidade, eu to cagando pra ilegalidade e eu vou abrir meu cassino… Se você toma essa decisão e traça por objetivo que você quer fazer isso, então você precisa parar de se preocupar com a legalidade do que você está fazendo, parar de se preocupar com modus operandi “corretinho” de uma empresa tradicional pra poder chegar naquele teu objetivo. E esse tipo de decisão é um tipo de decisão que as pessoas não querem tomar. As pessoas têm muito medo de assumir riscos. Todo mundo acha que vai ganhar dinheiro sem assumir riscos, fazendo o que está na cartilha do SEBRAE, mas vou ser muito honesto, eu não conheço nenhum empreendedor, nenhum empresário de sucesso que, em algum momento, não teve que abrir mão de coisas pessoais, de doutrinas pessoais e culturais, para poder conseguir passar por aquela fase, por aquela etapa da empresa, não existe isso. A empresa não é você. Como pessoa, você pode ter as suas doutrinas, os seus dogmas, do jeito que você quiser, mas quando você gerencia uma empresa que depende das suas decisões, que é um ecossistema humano, com pessoas que estão ali trabalhando e que dependem daquele salário, você não pode deixar faltar dinheiro, você não pode deixar pagar seus funcionários porque eles têm família, as pessoas dependem de você, elas acreditam em você, elas estão doando o tempo delas, doando o esforço delas para poder fazer aquilo ali rodar, então o assunto fica muito mais sério, a coisa fica muito mais complexa e, aí, você acaba deixando de fazer as coisas por você pra fazer pelos outros. Pessoas que você mal conhece na maioria das vezes, que estão na sua vida há pouco tempo, mas você precisa fazer isso pra conseguir manter a empresa funcionando, isso é uma engrenagem.

[Continua…]