Hoje a gente vai falar da bolha das Startups que está explodindo. Eu decidi fazer esse post depois que eu vi um vídeo do Jacob Moura, do Flutterando. Eu participei desse processo nos últimos 15 anos, participei de várias Startups e Fintechs, de programas de aceleração, e eu vi acontecendo na minha cara, esse processo de “startupização” das coisas. Vamos comentar um pouquinho sobre isso, o que está acontecendo no mercado, quais são os fatos reais e o que vai acontecer nos próximos anos.
Quem sabe um pouquinho de história da internet, sabe que nos anos 2000 aconteceu a “crise das .com”, que começou nos EUA e se estendeu pelo mundo inteiro. Nessa época o Brasil não tinha uma cultura muito forte com relação às Startups, as “empresas de internet”, ainda assim algumas empresas brasileiras sofreram com isso. O Buscapé já existia nessa época, eu lembro que o Romero Rodrigues, entre outros empresários de “.com”, já comentou sobre isso. Depois da “crise dos .com”, o que a aconteceu com o mercado? Os investidores tiraram o dinheiro que estava em circulação nesse meio, começaram a desacreditar nos projetos de Startups [não usavam muito esse termo na época, mas eram empresas voltadas a serviços Web]. De 2000 até mais ou menos 2020, a gente foi trabalhando e o mercado foi se profissionalizando. Surgindo empresas gigantescas, o Google tomou tração, surgiu o iFood, o Facebook ganhou corpo, Dropbox, WhatsApp, Intagram, Telegram, só pra citar alguns, e essa galera acabou trazendo uma força para esse ecossistema, um profissionalismo. As grandes empresas do mundo são do ramo de tecnologia, Microsoft, Google, Facebook, Amazon, e daí começou um movimento de “startupização” das coisas. Tudo é empresa Tech, você pega o mercado tradicional, mete um monte de programador dentro da empresa e fala que é Tech. E aí, nessa empolgação de todo mundo indo pra internet, metaverso, Web3, criou-se uma euforia muito grande, muitas empresas começaram a contratar pessoas num modelo muito arriscado, que é o modelo de valuation futuro, investindo 100% do dinheiro para um crescimento aceleradíssimo. E assim foi o Uber, assim foi Netflix, assim está sendo uma grande parcela dessas empresas que querem crescer muito rápido e ganhar muito dinheiro, injetando cada vez mais grana e contratando gente. A gente chegou ao ponto de empresas não contratam mais por demandarem profissionais, mas para inflar números porque, quanto mais funcionários são colocados pra dentro, melhor elas vendem o discurso bonito nas próximas rodadas de investimento de que tem não sei quantos programadores e engenheiros, botam um monte de nomes bonitos, Agile, Growth, que na prática não servem pra nada. Aí não sabem organizar essa galera e o resultado é pior do que se trocasse 100 programadores por 3 bons. Já passei por casos assim, de chegar em empresas que tinham 80 programadores, mas que se demitisse todo mundo e deixasse só 5 dava na mesma coisa, o restante da galera estava lá pra inflar números, pra esquentar cadeira, não faziam nada, não entregavam nada, demoravam 6 meses pra subir um blog em WordPress.
A gente começou a ter um problema de falta de programados no mercado, salários aumentando absurdamente, um programador junior ganhando R$6.000,00 ou mais. Isso acontecendo no mundo inteiro, não só no Brasil, um cara pleno, que ganhava R$4.000,00 aqui no Brasil, vai receber US$3.000 lá fora e aí, quando você converte pra cá o salário vai pra casa dos R$15.000,00. Uma empresa brasileira não vai pagar isso, mas na média salarial você vai pegar um programador sênior ou um Tech Lead ganhando nessa faixa numa empresa brasileira. Isso é um salário que eu nunca tinha visto antes nesses últimos 15 anos, é uma coisa recente, justamente porque todas as empresas querem contratar bons programadores, mas a maioria dessas empresas não tem a mínima capacidade para conseguir identificar quem são os bons de fato e não tem nenhum tipo de atrativo para conseguir manter os caras que são bons, porque, vamos concordar, se o cara é bom, ele consegue emprego fácil, eu nunca vi um cara bom desempregado, nunca. O cara consegue trabalhar de casa, para empresas em qualquer lugar do mundo. Tenho amigos ganhando 60 mil, 80 mil por mês, ganhando em dólar, ganhando em Euro, pra que caralhos um cara desses vai trabalhar pra uma empresinha de merda brasileira? Essas empresas ficam se enchendo de funcionários inúteis, aí chamam esse cara, que é mais caro e melhor, pra poder gerenciar esse bando que entrou no mercado nos últimos 5, 6 anos e não tem uma estrutura. Essa falta de base faz com que o nível de qualidade técnica desses profissionais seja muito rasa, normalmente essa galera só sabe trabalhar com framework, não aceita o desafio de aprender outra linguagem, de mudar, é muito complicado lidar com essa galera. Chega ao cúmulo do absurdo de um dev frontend não saber escrever um “if”, entendeu? Eu já tive casos desse tipo dentro de uma empresa, o maluco se vende como frontend, entra, mas não sabe escrever uma porra de um “if”. Obviamente, existem moscas brancas aqui e ali, raras exceções de profissionais realmente bons, que foram a fundo, estudaram, de vez em quando a gente esbarra num dessas, mas o nível médio da qualidade caiu muito. Há 10 anos, que não tinha tanta coisa na internet, não tinha tanto framework, a gente era obrigado a aprender o básico, aprender a bíblia do Delphi, o JavaScript puro, precisava saber escrever códigos de verdade, hoje em dia você tem o autopilot, a ferramenta do GitHub que vai escrever o código pra você, tem stack overflow e o caralho.
Mas o grande X dessa questão é: por que essa bolha estourou? Se você é um programador medíocre e está lendo esse post, saiba que você estará desempregado nos próximos anos e a única forma de você conseguir voltar pro mercado é se esforçar e começar a aprender de fato a ser útil. A gente viveu uma euforia nos últimos 10 anos, de Startups fazendo ciclos de investimento um atrás do outro, gente injetando grana a rodo, mas esses investidores sumiram do mercado. Os investidores institucionais que ficavam fazendo série A, série B e sei lá mais o que em Startups “promissoras”, que nunca deram lucro, agora estão todos na renda fixa, porque a gente está numa recessão global. Tecnicamente os EUA entraram em recessão, é nesse nível. Os investidores pegaram o dinheiro, botaram embaixo do braço e levaram pra renda fixa, e as Startups, as Fintechs, que vendiam um futuro promissor, ficaram sem dinheiro. A gente está vendo uma onda de demissões, onde toda essa massa morta de profissionais inúteis que estavam ali para cobrir números, está sendo mandada embora, essa galera não está conseguindo se reposicionar no mercado, e nem vai conseguir, porque não tem mais dinheiro sobrando. Se não tem mais dinheiro sobrando, a gente só vai contratar as pessoas que valem a pena: se você é medíocre, vai continuar desempregado; se você é fora da curva, é muito bom, você tem emprego garantido, é simples assim. Acabou essa brincadeira de você aprender a fazer um “if” e já virar programador pleno, você vai ser trainee. Se você, nos últimos 5 anos, entrou no mercado e alcançou cargos de programador sênior aos 22 anos, saiba que os critérios vão mudar, já estão mudando, e você vai ser reenquadrado onde de fato deveria estar, que é no máximo junior e seu salário vai cair, isso se você conseguir emprego. Pros bons profissionais, que sabem o que fazem, que tem experiência, não está faltando emprego.
O que eu mais recebo é gente no meu LinkedIn mandando propaganda de headhunter. Eu fico puto com gente de headhunter, de RH que acha que sabe contratar profissionais de TI. Eu nunca consegui contratar um bom programador pelo LinkedIn, me desculpe. Os caras que são bons, não perdem tempo respondendo mensagem de LinkedIn, porque aquilo é considerado como se fosse um currículo aberto. Eu uso como uma rede social, mas quem é profissional normalmente usa aquilo ali como um currículo, o cara só vai responder quando ele está precisando, e programador bom não está precisando de emprego. É uma coisa imbecil contratar empresa de headhunter, que acha que vai conseguir bons profissionais pelo LinkedIn, vai colocar aquele selinho verde escrito “estou contratando” e vai fazer aquele monte de teste absurdo. Eu cheguei a tentar fazer uns testes lá e achei ridículo, uns testes nada a ver, “mostre seu conhecimento em JavaScript”. Hoje o meu critério de avaliação é 5 minutos de conversa, pode ser no Hangout, no Discord, 5 minutos de conversa. Encontro a pessoa na internet, chamo pra trocar uma ideia, a pessoa cola lá, troca uma ideia e pá, eu sei se o cara é bom ou não é, é assim que eu contrato gente. E contrato muita gente boa, muita gente boa mesmo, contratei muitos programadores nos últimos anos e muita gente bacana. Contratei gente merda também e joguei no lixo rápido, mandei embora, mas às vezes o cara tem uma boa oratória, fala bonito, a gente brinca que é o jacaré, tem a boca grande, mas o bracinho curto, na hora de escrever o código não sabe nada, mas sabe os termos, fala bem, é descolado.
Mas acabou essa brincadeira, a bolha estourou, o investimento sumiu, se você está numa empresa que estava queimando loucamente caixa para expansão, que não gera lucro, comece a procurar emprego, porque você vai ser demitido mais cedo ou mais tarde. Conselho de amigo, comece a procurar. Joga lá no LinkedIn o seu currículo, vai se movimentar e aprender a de fato ser um bom profissional, caso contrário você vai ficar desempregado e todo o “esforço” que você fez até agora vai valer de porra nenhuma, porque você ainda está bem no comecinho da sua história, se você começou a programar nos últimos 10 anos, você ainda está começando a sair das fraldas e eu não estou brincando. Tem as exceções? Tem, mas são raras e muito provavelmente você não é essa exceção, você não é esse cara gênio que você acha que é. Então comece a reduzir um pouco o seu ego, caia na realidade, volte pra Terra, vá atualizando lá seu LinkedIn, porque sua hora vai chegar. Esse recado é para os programadores medíocres, os programadores de merda, os que têm o ego inflado e se acham foda pra cacete, é pra vocês o recado. Se você entra na sua empresa e só é um número e você não tem nada de importante pra fazer no seu dia, está lá só esquentando a cadeira, acabou a mamata, você está demitido. Pode demorar um pouquinho mais ou um pouquinho menos, mas a empresa vai falir e vai te demitir, sabe por quê? Porque você dá um prejuízo medonho pra empresa, você é uma escória, um peso morto lá dentro, e as empresas não estão mais com tanto dinheiro disponível pra ficar pagando gente ruim pra ficar fazendo número. Acabou, vai ter uma limpeza geral, o mercado de TI vai passar por uma limpeza geral nos próximos anos, e só vai sobreviver quem é realmente bom, quem é esforçado e quem vê programação como uma coisa além de só o dinheiro.
Eu vou deixar aqui a publicação onde eu falo melhor sobre essa onda de demissões em massa:
O conteúdo deste post foi baseado no vídeo “Bolha das Startups 2.0 está explodindo!”: