O entendimento do que são Exchanges é relativamente simples, mas nós vamos mostrar que elas fazem muito mais do que parece em um primeiro momento.

Se a gente for fazer um paralelo com o modelo tradicional, a Exchange é um mix entre banco, casa de câmbio e Bolsa de Valores, tudo numa coisa só. Na moeda FIAT, como dólar ou Real, cada uma dessas instituições é controlada por uma entidade, os bancos são controlados pelo Banco Central, as Bolsas de Valores são controladas pela CVM, a casa de câmbio tem uma série de leis e regulamentações com relação às atividades específicas e  eventualmente acontece de um banco oferecer serviços de compra e venda de moedas estrangeira. Já as Exchanges existem basicamente para você poder converter moeda fiduciária em algum tipo de criptoativo, tem Exchanges que listam uma quantidade reduzida de moedas, preferem listar só as mais estáveis, como Bitcoin, Litecoin, Ethereum e Ethereum Classic e outras Exchanges são mais generalistas e listam de tudo, inclusive NFTs e outros tipos de ativos que não são necessariamente um token. As Exchanges também fazem a cotação daquela moeda num par, toda criptomoeda é pareada a alguma coisa, é até um pouco difícil de entender num primeiro momento. As Exchanges vão parear, por exemplo, Bitcoin para dólar, então vai ficar BTC/USDC ou USDT, que são stablecoins pareadas em dólar, ou você pode ter a conversão para o dólar FIAT. Nas maiores Exchanges, como Binance e Coinbase, você consegue converter praticamente de qualquer moeda FIAT, no caso daqui, o Real, para uma stablecoin qualquer e depois converter essa stablecoin para outra moeda internacional, como Euro ou Dólar, pagar somente as taxas internas da Exchange, e sacar essa moeda estrangeira via conta offshore, cartão de crédito internacional, ou fazer algum pagamento nessa moeda. Por isso as Exchanges são muito utilizadas para poder fazer pagamentos internacionais, seja para pagar um funcionário em outro país, para fazer uma compra em dólar sem ter que pagar as taxas brasileiras de IOF e tal (eu não recomendo que isso seja feito, porque a legislação brasileira caracteriza esse tipo de operação de transferência de moeda sem o pagamento de impostos como evasão de divisas, que é um crime). Além disso, as Exchanges vão fazer a parte de trade dessas criptoativos, o que seria o serviço, aqui no Brasil por exemplo, da B3, da Bolsa de Valores, fazem compra e venda de moedas dentro dos seus sistemas.

Uma coisa que me perguntam muito é sobre como é feita a cotação, como é que eu sei que o Bitcoin vale não sabe lá quantos mil dólares? Basicamente as maiores Exchanges do mundo tem uma espécie de consenso com relação ao preço médio, de acordo com as transações internas que cada uma delas tem, isso gera um índice do valor dos ativos. Então quando a gente fala que o Bitcoin vale tantos mil dólares, a gente está usando o índice das maiores Exchanges do mundo para precificar o par dólar/Bitcoin, e é assim para todas as outras moedas.

Um fenômeno que eu acho supre interessante nas Exchanges, e que não existia nas Bolsas de Valores, são os pares entre os próprios ativos. É equivalente, por exemplo, a parear ações da Petrobrás e ações da Vale, a gente não tem como fazer esse tipo de operação dentro de um home broker de ações. No home broker de ações, pelo menos nos da B3 que eu utilizei, eu precisaria vender os meus ativos da Vale, por exemplo, pra comprar da Petrobrás e vice-versa. Nas Exchanges, não, eu posso simplesmente, tendo Ethereum, comprar Bitcoin ou comprar qualquer outra moeda, já tem os pares entre tokens. Então você vai ter os pares mais comuns, obviamente os tokens/stablecoins, BTC/ETC, BTC/ETH, e por aí vai. O sistema calcula baseado nos índices de valores quanto é o pareado e, se eu quiser transforma de um para o outro, eu não preciso fazer uma segunda conversão, eu já posso fazer direto, é super interessante. Mas, além disso, as Exchanges têm outros tipos de serviços, serviços DeFi, serviços de stake, serviços muito semelhantes ao que seriam os serviços que os bancos tradicionais apresentam para a gente, poupança, investimentos com taxas fixas ou taxas variáveis, e por aí vai.

Um ponto específico que precisa ser dito é o seguinte: um banco brasileiro, por exemplo, precisa seguir as leis brasileiras, ele precisa estar no Brasil, ele precisa ter a operação que possa ser imputada judicialmente se houver um problema. Mesmo os bancos internacionais precisam ter sede no Brasil para poder operar aqui, e existe uma séria de regulamentações para esses bancos operaram em cada país. Já as Exchanges, não, elas estão em uma área cinzenta da legislação, porque na prática as Exchanges não têm uma interconexão bancária direta, elas normalmente utilizam algum gateway intermediário para receber e sacar moeda fiduciária. Então, por exemplo, a Binance não é uma empresa no Brasil que fornece o serviço bancário de PIX, ela tem um parceiro, um gateway de pagamento, que vai receber e enviar PIX e é esse gateway, que está sediado no Brasil, que fica responsável por qualquer problema, e a Binance não tem a necessidade de ter operação no Brasil, por mais que o governo brasileiro, como vários governos no mundo, tentem obrigar as Exchanges a terem sede nacional. Obviamente, por se tratarem de serviços de rede descentralizada, o governo nunca vai conseguir ter 100% do controle que eles querem, o máximo que eles conseguem é ter de controle do que entra e sai de moeda FIAT dessas instituições. Por mais que a empresa informe as correlações entre wallet e CPF, depois que isso sai pra Exchange, o governo perde o controle na grande maioria das vezes. Várias Exchanges que fornecem esses serviços para o mundo inteiro não seguem as legislações nacionais, a Binance, por exemplo, não está sediada no Brasil, então ela não segue 100% das leis brasileiras, se você tentar abrir um processo contra a Binance no Brasil, você não vai conseguir, porque não existe um CNPJ da Binance no Brasil.

Mas não seria, então, vantajoso você ter a Exchange no Brasil? Eu discordo completamente dessa teoria. Eu acredito que precisa, obviamente, ter uma regulamentação, mas ela precisa ser em cima de quem está provendo liquidez, não em cima do sistema, não em cima das DeFi. É impossível o governo achar que vai conseguir controlar a rede das criptomoedas, isso não vai acontecer, no máximo vai conseguir ter um registro dentro do gateway de pagamento, de quem está enviando e quem está recebendo dinheiro, quais são os CPFs e tal, até porque hoje em dia tudo está meio que interconectado, então o PIX acaba registrando a transferência para aquele gateway, só que o gateway pode estar prestando serviços para N outras empresas, então isso meio que se perde. Se você for parar para olhar a razão social das empresas de gateway, elas são empresas de intermediação bancária, então o papel delas é basicamente receber o dinheiro, tirar uma comissão e repassar o restante para outra empresa qualquer. E, na prática, ela nem precisa emitir nota fiscal, só precisa emitir nota do lucro que ela tiver e, como normalmente esses percentuais são baixos, nem isso ela faz, tem outros mecanismos jurídicos e contábeis para poder declarar esses valores sem precisa de emissão de nota.

Quanto maior a Exchange, mais ela vai tendo um grande poder em vários sentidos. Ela tem o poder de, por exemplo, listar somente as moedas que ela bem entender e não listar moedas que ela não quer. Também tem uma coisa extremamente poderosa, que eu acho que é aí que mora a beleza das criptos, que você não necessariamente precisa ter os ativos para ser muito poderoso. A Binance consegue ter moedas do mundo inteiro, são poucos os bancos que têm isso, percebe como isso é poderoso? Você pega qualquer banco aqui Brasil, ele muito provavelmente não tem todas as moedas do mundo, ou uma grande reserva de todas as moedas do mundo, mas a Binance tem, porque ela funciona na maioria dos países do mundo. Tem pessoas o tempo todo depositando em Iene, em dólar, em Euro, em Franco, em Rublos, e por aí vai, trocando em criptomoedas ou em outra moeda FIAT, então acaba que a Binance tem liquidez de moedas no mundo inteiro, que é uma coisa que pouquíssimos bancos têm no mundo, isso é uma coisa muito bacana. Quem já comprou dólar aqui no Brasil ou já tentou fazer uma transferência internacional sabe o quanto é chato, muitas das vezes os bancos até se negam a fazer e você que se foda. Hoje os bancos utilizam um sistema chamado SWIFT, que faz a interligação dos bancos no mundo, que é da União Européia. Quando você não está no SWIFT, como no caso da Rússia, que foi cortada do sistema, as pessoas lá não conseguem mais fazer transferência de dólar, de Euro, ou qualquer outra moeda estrangeira, mas pelas criptomoedas elas conseguem fazer, porque basicamente cada Exchange é como se também fosse um sistema SWIFT, até melhor, porque abrange uma quantidade muito maior de ativos do que simplesmente as moedas FIAT.

Então, deu para dar uma clareada do que são Exchanges? Espero que esteja ajudando você no entendimento desse ecossistema. Ele é bem complexo, tem muitas camadas de entendimento, e Exchanges são super importantes nesse processo. Eu fiz esse post porque eu havia comentado da parceria da BlackRock com a Coinbase, então eu quis explicar melhor o que são Exchanges. Basicamente a Coinbase, que é uma das maiores, se não a maior Exchange do mundo, e a BlackRock é o maior fundo de investimento do mundo, com 10 trilhões de dólares, e as duas estão se juntando para fornecer serviços de cripto para investidores institucionais. Acho que vocês já estão vendo onde eu quero chegar, o próximo passo é a BlackRock entrando como sócia da Coinbase, se já não for.

Vou deixar aqui o post sobre a parceria da BlackRock com a Coinbase:

O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “O que são Exchanges”: