Hoje eu vou falar um pouco sobre a briga que está acontecendo entre os designers e as inteligências artificiais (IAs), que estão sendo super difundidas por aí e utilizadas pelo público em geral. Eu vou falar minha visão dos dois extremos, já que eu trabalhei com vários designers, tanto pra desenvolvimento de sites, aplicativos, logos, como designers mais artísticos, que ainda desenham usando caneta e também com IAs.

Vamos lá, primeira coisa, as IAs vão substituir os designers? No meu ponto de vista, não, mas isso em algumas áreas em específico. As IAs ainda são ruins para algumas coisas, elas vão evoluir, obviamente, mas elas têm certas limitações porque elas funcionam baseadas em um banco de dados que tem catalogada uma série de imagens que vão ser processadas por machine learning pra gerar outras imagens baseadas nas originais. Uma coisa válida que eu vejo os artistas reclamando muito é que estão sendo usadas muitas obras que não foram cedidas para o uso de machine learning que para poder treinar essas inteligências artificiais, e às vezes até geram imagens com assinaturas, e tudo mais. Nesse caso em específico, obviamente, eu acredito que os criadores dessas IAs que estão fazendo a base de dados precisam ser responsabilizados caso estejam utilizando conteúdo autoral sem autorização.

Por outro lado, essa é uma evolução inevitável. Se você é designer, você tem que entender que as coisas vão evoluindo e as IAs são muito interessantes para algumas áreas. Por exemplo, eu, que mexo com o mercado de games: para criar toda a identidade visual de um projeto do zero requer tempo e recursos financeiros para fazer. Quando você está trabalhando num estúdio indie ou num estúdio pequeno, como é o caso da Uzmi, que tem pouca estrutura, você não tem dinheiro infinito igual aos grandes estúdios, então a IA é uma alternativa muito interessante. Por exemplo, eu estava utilizando a MidJourney para poder criar ícones pro Tales of Shadowland e o resultado foi muito superior à maioria dos designers com quem eu trabalhei até agora. Esses designers demorariam semanas, até meses, para poder criar um pacote de ícones, isso me custaria muito caro, e não só o fato de custar caro monetariamente, mas em tempo para fazer, então a MidJourney ajudou bastante a reduzir esse tempo e o custo que, para estúdios indie e pequenos, é uma excelente alternativa. Já no caso de estúdios grandes que querem concept arts bem definidos, aí sim eles provavelmente vão fazer uma opção por designers.

Agora, obviamente, você tem que botar a mão na consciência e ver se você realmente é um artista que está num nível de se incomodar com as IAs, porque, no meu ponto de vista, artistas que são extremamente bons, que são qualificados, que têm experiência, não estão se preocupando muito com isso. É a mesma coisa de você perguntar pra mim se eu acho que alguma IA vai substituir o programador. Eu não tenho nenhum problema se chegar uma IA que programa, eu acharia ótimo, honestamente. E, como programador, o que eu faria nesse sentido? Eu me utilizaria dessas IAs pra poder facilitar o meu trabalho, porque muitas das vezes eu não estou com cabeça pra poder sentar e escrever código, então se eu tivesse uma IA que eu pudesse dar comandos e ela escrever o código pra mim, excelente. Eu faria o popssivel para me tornar muito bom utilizando essas IAs como ferramenta pra poder otimizar e eu acho que, no final, vai ser vir pro designer dessa mesma forma.

A IA só vai gerar baseado no que você está descrevendo, então você precisa ter um olhar crítico de designer, um olhar mais apurado, pra poder ver ser as imagens que a IA está gerando fazem sentido, se têm sinergia. Imagine um pacote de ícones, que tem mais de mil itens, e eles tem que conversar entre si. Então eles têm que ter mais ou menos o mesmo formato, a mesma coloração, o fundo tem que ser parecido, e você tem que aprender a utilizar essas ferramentas pra gerar resultados satisfatórios dentro do espectro daquilo que está sendo criando. Você vira como se fosse um diretor de arte, vamos dizer assim, pra poder guiar a parte visual do negócio e utilizar as IAs como uma ferramenta pra facilitar a sua vida. Também nada te impede, depois, de pegar essas imagens geradas pela IA e trabalhar elas no Photoshop, mexer na coloração, na iluminação e tudo mais, pra poder deixar do jeito que você quer, e ela vai facilitar e vai ter um requinte de detalhes que muitos designers na vão ter paciência pra poder fazer, ou às vezes estão com o tempo curto pra entregar um job.

Então, pra mim, o designer que se adaptar para utilizar as ferramentas como um plus, associado aos conhecimentos que ele já tem, está muito mais próximo da realidade do mercado no futuro do que se ele simplesmente ficar gritando e falando que “isso não é arte”, que “é cópia de imagem”, blábláblá e tal. No final, o cara que vai utilizar IA não está muito se preocupando com essas questões egocêntricas da classe. É a mesma coisa que se eu fosse falar que as IAs vão destruir as vagas de programadores, mas pros bons profissionais não vai fazer diferença. Ainda vai precisar de um ser humano ali pra conseguir comprovar se aquele código está exatamente do jeito que deveria estar, se está dentro das regras do design pattern, e pro designer não é diferente. Eu acho que brigar por causa dessa evolução é a mesma comparação esdrúxula dos carroceiros que faziam protesto quando surgiu o carro. É um passo evolucionário dentro do ecossistema, que já está disponível e com excelente qualidade.

Eu recebi várias mensagens falando que é chato a gente escolher utilizar IA em vez de dar oportunidades para designers, só que uma coisa não elimina outra. A Uzmi tem designers, mas para coisas específicas, que são excelentes profissionais e que fazem coisas que a IA não faz. Eles vão mexer com o layout do site, com o UI do jogo, criar cartas, e tal. Por exemplo, um card game, você pode criar o layout da carta com um designer e criar a arte interna da carta utilizando a inteligência artificial, você vai economizar muito tempo e muito dinheiro fazendo isso. “Ah, mas você está tirando o emprego de designers, e tal…” Cara, não tem jeito, é um passo evolucionário com prós e contras, mas não é que ele vai acontecer, ele já está acontecendo. Ou você se adapta a essa realidade, ou você vai procurar outra área pra atuar, entendeu?

Honestamente, pelo andar da carruagem, a IA vai começar a aglutinar várias partes de criação que antes eram feitas por pessoas. Já vi alguns casos de IAs que fazem movimentação, que eu acho super interessante, porque é super difícil fazer animação de personagens; já vi IAs que estão sendo utilizadas para criar modelos 3D, que é uma ideia super interessante, a própria Nvidia está fazendo uma, fora os vários projetos que estão sendo feitos de foto-realismo que, atrás de fotos, conseguem fazer modelos 3D. Então daqui a pouco a galera do 3D vai começar a reclamar por causa de uma IA que faz os modelos? Cara, seja um excelente profissional na sua área, crie coisas que as IAs não vão conseguir fazer, e utilize essas IAs pra melhorar o trabalho que você já estão fazendo, e é isso.

Eu já falei outras vezes sobre inteligência artificial aqui no blog. Se você se interessa pelo assunto, vou deixar aqui uma recomendação de post onde eu comento mais a fundo o que a gente já tem disponível em relação às IAs, e também um post onde um mostro um uso prático que eu fiz desse tipo de inteligência artificial para um fim específico:

O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “A Briga dos Artistas e IAs”: