Hoje eu vou falar um pouco sobre o caso das Americanas, mas da perspectiva de quem já trabalhou como afiliado.

Antes de entrar no assunto, eu só queria falar que tem um tempo que eu não posto nada aqui nem gravo pro meu canal do YouTube porque eu estou produzindo conteúdo para uma plataforma de ensino que eu estou fazendo na Uzmi, que é meu estúdio de games. A gente está fazendo vários conteúdos de games para a Uzmi Academy, que vai ser lançada em breve, mas eu tinha que vir aqui para falar desse caso da Americanas.

Para quem não sabe, eu trabalhei direta e indiretamente com a Americanas desde 2012 até 2021, mas o período em que eu tive contato mais direto com a Americanas foi de 2017 a 2020, que foi o período do Vigia de Preço. Eu não vou entrar diretamente no caso que todo mundo já sabe que aconteceu, do rombo de 40 bilhões de Reais, da recuperação judicial, isso todo mundo está falando. Eu vou falar da minha experiência como um afiliado da Americanas durante muito tempo. Sempre deu para ver nitidamente o tratamento diferenciado que a Americanas dava, pelo fato de ser uma empresa muito grande. Primeiro que a prática de mercado que eles têm é muito canibal com o fornecedor, porque para você trabalhar com a Americanas, pelo menos na área de afiliados, você tem que aceitar que eles só vão te pagar a primeira vez daqui a 90 dias. Então eles vão ganhar dinheiro às suas custas, você vai fornecer tráfego (era o que eu fazia no Vigia) pra eles, e eles só vão começar a te pagar daqui a 90 dias, essa é a prática padrão, principalmente se você é pequeno. Isso pode variar quando você é um pouco maior e tem uma representatividade em algum aspecto, mas, pra grande maioria, é desse jeito. E o ar que rodava entre os funcionários da Americanas [N.R.: Frisando que é o pessoal do administrativo/de negócios, não funcionários das lojas] é como se eles fossem uns “semideuses”, como se eles fossem muito fodas, porque trabalham na B2W. Era um ar de arrogância e muitos interesses escusos em vários setores da empresa, então sempre a negociação com a Americanas era complicada, eles sempre tratam os fornecedores igual lixo. Geralmente era “ou você faz o que eu quero, ou a gente te desliga”, e a maioria das pessoas embarcam nessa oratória abusiva porque fica com medo de não trabalhar com um dos maiores varejistas do Brasil. Só que essa postura arrogante agora caiu por terra.

E, para todos os funcionários medíocres que a Americanas tem, que ficavam com essa postura ridícula, vocês se deram mal, porque esse mercado depende diretamente de confiança. E não importa se no LinkedIn a empresa fica com o papinho de “ah, galera, fica tranquilo porque a gente vai honrar todos os nossos compromissos com vocês”. O mercado de varejo depende de confiança e credibilidade e agora a Americanas não tem nada disso. Nenhum fornecedor vai querer vender para receber daqui a 90 dias, se vários bancos estão processando a Americanas para ter o recebimento antecipado, porque não confiam mais na empresa. E, assim como os bancos não confiam mais, muitos fornecedores também não vão confiar, se quiser comprar, vai ter que comprar a vista e a galera dos afiliados também vai começar a cobrar o pagamento antecipado ou vai parar de rodar a campanha. A credibilidade, que já era pouca no mercado, caiu a zero e aí já era, porque não tem crédito, não tem divulgação e não tem produto. Por isso que, na minha percepção, não tem volta do que aconteceu com a Americanas, porque não é só uma questão de injetar liquidez na empresa, é uma questão de quebra de confiança. O mercado precisa confiar que você. Você não pode só ser honesto, você precisa parecer honesto também… Então a confiança é isso, e você tem que ter a confiança do mercado. Se o mercado não confia que você vai pagar, já era o seu negócio, JÁ ERA!

E, obviamente, a postura dos funcionários da B2W não ajudou em nada nesses anos. NADA! Toda vez que eu tive que conversar com alguém da Americanas foi uma experiência ruim, por causa do nível de arrogância, da soberba, como se fossem alguma coisa a mais. Mas eu acho que não vai demorar muito pra toda essa galera acabar sem emprego, nos próximos meses com certeza vai rolar uma demissão em massa. Os bons profissionais serão realocados rapidamente, e pros babacas arrogantes não vai sobrar nada, vai sobrar só o descrédito, e aí cada um vista a carapuça que melhor servir. E essa galera que vá trabalhar com outra coisa, vai vender cachorro quente, vai fazer qualquer coisa, porque o esquema de mamata acabou, entendeu? A vida tranquila de “ah, vou patrocinar meu influenciador preferido”, “vou patrocinar aqui o meu programa de TV favorito”, acabou essa brincadeira. Não tem mais dinheirinho fácil, eles vão ter que trabalhar agora de fato, porque acabou a vida mansa, o castelo de cartas caiu.

E caiu de uma forma que eu honestamente não esperava. Nunca que eu ia esperar que fosse acontecer o que aconteceu, foi um negócio que me pegou desprevenido. Primeiro me pegou de surpresa os 20 bilhões de inconsistências, que já pegou o mercado de calça curta. Agora, 40 bilhões de dívida em uma recuperação judicial? Ninguém esperava. E eu conheço várias pessoas que tiveram contato direto ou indireto com a Americanas nesses últimos ano, inclusive pessoas que ainda estavam lá, que falaram que o negócio explodiu de uma forma bizarra. E, pelo que parece, pelas notícias que eu estou vendo por aí, os diretores já sabiam que isso ia acontecer, tanto que vários deles venderam ações da B2W, da Americanas, pouco tempo antes dessa parada toda estourar. E se espera da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e dos órgãos competentes que eles façam uma investigação a fundo e vejam tudo que está errado nessa brincadeira e, vou falar, tem coisa pra caramba errada ali dentro. Isso se esses órgãos tivessem funcionando efetivamente aqui no Brasil, o que eu desacredito. Eu desacredito muito nesses órgãos e no judiciário brasileiro para investigar e processar isso efetivamente, porque a gente está numa crise de descredibilidade dessas instituições de uma maneira geral, e a gente está vendo coisas absurdas acontecendo. Então eu duvido muito que vão pegar os “campeões nacionais”, os caras mais ricos do Brasil e vão colocar na fogueira, acho muito improvável. Acredito muito mais num acordo que vai rolar de baixo dos panos, a CVM vai dar uma abafada, vai tirar do índice da B3, talvez role algum dinheirinho do governo para não deixar a empresa quebrar, porque é grande demais, e por aí vai, mas eu duvido que isso vá dar em algo mais sério.

Agora, a credibilidade da Americanas já caiu de uma forma tão bizarra que, para mim, não tem mais volta. Pode rolar o dinheiro que for, pode rolar o abafamento que for, que a credibilidade do público em geral, já era. Você também pode perceber que a mídia tradicional não está dando foco nenhum pra esse negócio, tudo que você escuta ou é pela internet ou, raramente, numa notinha aqui, outra ali, de alguns portais de economia, mas eles não querem que essa brincadeira pegue fogo na mídia tradicional, porque é tudo mancomunado ali. A B2W gastava muito dinheiro com a TV Globo, então ela não vai ficar tacando gasolina no fogo. Até semana passada, eles patrocinavam o Big Brother Brasil, entendeu? Então você acha, honestamente, que vão dar foco nesse problema agora? Não vão! Vão tentar abafar ao máximo. Só que o problema é grande demais para abafar, não tem como não comentar, não tem como não dar foco, o problema é grande demais. E eu não acredito que ações efetivas vão ser tomadas para punir a quem fez essa prática. Mas eu, honestamente, acredito que os outros varejistas não estão muito distantes dessa realidade, eu tenho a mesma percepção do Luiz Barsi de que, mais cedo ou mais tarde, todos os varejistas brasileiros, com raríssimas exceções, vão cair para a Amazon, pro MercadoLivre e pro AliExpress. Quem vai sobreviver no mercado são os pequenos varejistas de nicho que não são atendidos por esses caras. Todos os outros, Via Varejo, Magalu, Americanas, todos vão falir.

Eu já falei anteriormente da situação do varejo no Brasil e porque esse cenário todo me assustou, mas não me surpreende totalmente. Vou deixar alguns post recomendados sobre o assunto a baixo. Se você estiver gostando do conteúdo, compartilhe com seus amigos que investiram na Americanas, que perderam dinheiro pra caramba. E a gente se vê numa próxima, valeu!

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O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “Minhas Opinião Sobre Americanas Como Ex-Afiliado”: