Eu vivo tecnologia há mais de 22 anos.
No começo, o computador era apenas uma caixa branca com uma capa horrível no canto do meu quarto, sem muito propósito aparente. Por algum motivo, minha mãe acreditava que aquilo seria importante para mim. Era o início dos anos 2000, e, apesar de ser naturalmente antissocial, acabei fazendo amigos na rua enquanto andava de bicicleta. Foram eles que me apresentaram à internet, ao Pokémon Yellow, ao eMule, ao ICQ… e, de repente, minha mente explodiu com tantas possibilidades.
Logo comecei a fuçar em páginas sobre Dragon Ball e, por volta de 2000, montei meu primeiro site. Dali para frente, o computador deixou de ser um objeto e se tornou uma extensão do meu corpo. Vivi incontáveis momentos alegres e solitários, resolvendo problemas… e criando muitos outros.
Ao longo do tempo, desenvolvi com a tecnologia uma relação de amor e ódio. Ao mesmo tempo em que ela abre um universo infinito de possibilidades, me vejo em constante batalha interna: o perfeccionismo que me consome, a procrastinação nos períodos de baixa, o desconforto quase físico de ter que recomeçar, a evolução frenética que exige dedicação total. Mas também é um refúgio. No silêncio, com total controle, criei e continuo criando ideias incríveis.
Hoje, faço isso num ritmo diferente — um pouco mais lento, um pouco mais cansado — mas ainda com aquele brilho nos olhos a cada descoberta. É um ciclo: períodos de intensidade e dedicação extrema, seguidos por vales de afastamento, como se minha mente se recolhesse para ganhar impulso antes do próximo salto. É preciso paciência e perseverança. Nem sempre tenho sucesso, mas a cada passo acumulo mais bagagem.
Tenho medo de que essa busca tenha cobrado um preço alto. Mas sei que tudo que conquistei veio dela. Se hoje consigo dar à minha filha uma vida incrível, cada noite mal dormida valeu a pena. Reconheço que há ego nessa jornada, mas também lucidez: essa força nasceu muito antes dela. É algo pessoal, quase inexplicável, como se houvesse um destino traçado — criar projetos grandiosos e complexos que, para pessoas “normais”, beiram a insanidade, mas para mim são obras de arte, como um pintor que, dia após dia, busca seu melhor trabalho.
Me cobro quando minha mente se satura a ponto de não conseguir produzir com a mesma velocidade e perfeição. Hoje, encontro suporte nas IAs, criando conteúdo e fazendo amigos que me motivam a seguir. Nem todos os dias acordo com vontade, mas sigo, passo a passo, acreditando que estou no caminho certo. Sei do que sou capaz — mesmo quando falta foco ou energia — e tenho fé no meu trabalho e na minha capacidade de transformar a realidade ao meu redor.
Já fiz isso antes, e continuo fazendo. Confiante, reúno forças. Tenho uma certeza: vou conseguir. E nunca vou parar. Assim como o sonho de um ator é morrer no palco, o meu é ser lembrado por grandes conquistas e por realizar o sonho de milhões de pessoas com minhas obras.
Não importa quanto tempo leve, nem quanto custe. O que me entristeceria seria ir embora sem deixar minha marca no mundo — e sem ver minha filha crescer. Todo o resto… estou em paz. Não deixo assuntos pendentes.
Esta reflexão é, no fundo, uma carta para mim mesmo.
Escrita às 4 da manhã.
Um lembrete para recomeçar os trabalhos.