Hoje eu vou comentar sobre o anúncio da Polygon sobre a atualização de seu algoritmo ZK, 100% compatível com as EVMs da Ethereum. A gente vai entender o que isso significa e como funciona na prática e eu vou dar minha opinião sobre essa atualização. Quem leu meus post ou viu os vídeos no meu canal falando sobre sidechains e Layer2 já vai estar mais familiarizado com alguns termos que eu vou utilizar aqui, mas eu vou tentar falar isso de uma forma simples, para que seja compreensível para todo mundo.

A Polygon, para quem não conhece, é uma solução de segunda camada baseada na rede Ethereum, que utiliza rollups para consolidação de dados na rede principal. É uma rede que já trabalha com PoS, com todas as atualizações do Ethereum 2.0 e que, se não me engano, esta conectada à rede Beacon e acredito que também ainda esteja conectada à rede principal para fazer esses rollups. A rede Polygon tem uma autoridade com relação a essas transferências, então você utiliza  a moeda da rede, que é a MATIC, e essas transações, depois de feitas, são consolidadas dentro da blockchain do Ethereum por meio de rollups. É como se a gente pegasse várias transações, juntasse isso tudo dentro de um mesmo pacote para enviar para a rede principal, e aí, pelo volume e pelo fato dos rollups, na prática, serem só um registro do que está acontecendo dentro da Polygon, essas transações são mais baratas do que efetivamente passar esse valor direto via Ethereum dentro da rede. Na prática, para algumas soluções DeFi ou soluções que precisem de muita informação sendo anexada em blockchain, isso é muito mais barato do que mintar esses Smart Contracts dentro da rede do Ethereum. Como você está utilizando uma sidechain que usa tecnologia Ethereum, você tem a possibilidade de mintar seus Smart Contracts dentro da Polygon e a consolidação desses contratos também são anexados dentro da rede Ethereum.

Até hoje, a maior parte das rollups que existem no mercado usam um algoritmo chamado Optimistic, algoritmo otimista, seria a tradução literal. Um rollup otimista funciona basicamente da seguinte forma: a rede sidechain, que no nosso caso é a Polygon, envia a lista de transações que aconteceram dentro dela, algum node da rede vai avaliar aquelas transações, verificando a autenticidade delas e podendo aprovar ou reprovar o rollup, caso ele tenha algum problema. Então, durante os 7 dias depois que o rollup é feito, ele passa por essa analise e pode ser contestado pela rede, dizendo que tem algum tipo de fraude, o restante dos nodes da rede vai validar se, de fato, existe algo de errado nesse rollup ou não. Caso tenha algum problema, a sidechain recebe uma negativa da rede principal, falando que esse rollup não está válido, e tem que reprocessar todas as transações para enviar um novo rollup que seja coerente. Esse espaço de tempo de 7 dias de contestação que a gente tem no modelo de Optimistic, gera margem para um possível “boicote”. Vamos imaginar um cenário hipotético: eu estou fazendo um sistema DeFi, alguém que não gosta do meu sistema vai lá e começa a fazer contestação uma atrás da outra dos meus rollups dentro da rede Ethereum, esses rollups vão ter que passar por análise, o custo deles vai ficar maior, porque essas análises custam processamento das EVMs, e pode ser que, hora ou outra, o meu rollup seja cancelado e todo o processamento tenha que ser feito de novo. Como a gente sabe, todo processamento dentro das blockchains são pagos, então se você enviou uma transação e ela não foi finalizada, por qualquer motivo que seja, a não ser que seja um fork, você tem que pagar de novo.

Tanto o pessoal da Polygon quanto o da Ethereum vêm trabalhando numa tecnologia chamada ZK [zero-knowledge] que, teoricamente, resolveria esse problema de segurança que existe na validação das transações para que não haja esse boicote dos rollups. O ZK está sendo difundido na comunidade do Ethereum e da Polygon como a solução definitiva para os rollups. E aí, no dia 21/07, a Polygon soltou uma nota falando sobre a ZKEVM, que seria uma EVM 100% compatível com a rede Ethereum, e teria suporte ao ZK, para baratear o custo das operações em até 90%. Ou seja, através desse algoritmo, os custos de consolidação dessas transações em rollup cairiam 90%, porque não precisaria passar pela validação e contestações.

O custo de uma Layer2 já é bem menor que o custo da Mainnet do Ethereum, a gente tem várias soluções desse tipo: Immutable X, Polygon, BNB; para quem precisa desenvolver um produto que tenha mais custo-benefício, essas soluções de Layer2 são muito importantes. Eu mesmo tenho feito sistemas que utilizam Polygon e BNB. Mas eu não sei como vai se proceder depois da mudança que está sendo planejada para o Ethereum 2.0 em setembro, o “The Merge”, que já foi comunicado ao publico pelos desenvolvedores, mas que pode ser adiado se encontrarem algum problema mais grave até lá. O que eu estou mais focado em tentar entender é para onde vai a mineração da rede Ethereum, porque a mineração vai continuar, ela só vai migrar para outra moeda, e essa moeda consequentemente vai começar a ter uma alta demanda, então, num primeiro momento, essa movimentação vai ser inflada, porque vai ter um monte de minerador entrando e, depois, a gente vai ver uma migração considerável de pessoas que, como eu, não acreditam em PoS e PoH para esses tecnologias que se mantiverem em PoW. Eu falo muito isso aqui, que muitas aplicações minhas, que eram baseadas em Ethereum, eu tenho migrado para soluções a Ethereum Classic ou qualquer outro que utilize PoW e tenha Smart Contracts e EVMs.

E qual a minha posição com relação a esse anúncio da Polygon? A Polygon é uma excelente ferramenta para quem está procurando uma solução de segunda camada, uma sidechain, as taxas dela são baratas em relação ao Ethereum, até pouco tempo atrás o preço da MATIC estava bem atrativo. Eu não sei como está agora, mas eu vi que esses dias teve um aumento de 20%, provavelmente o mercado já estava prevendo esse anúncio da ZKEVM, então eles já precificaram isso. De fato, para o modelo de funcionamento da Polygon é importante reduzir os custos dos rollups e deixar eles mais automatizades, sem protesto. Por outro lado, eu acho que a gente precisa ficar de olho, porque essa migração do Ethereum 2.0 pode dar problema e, se a rede Ethereum der problema, todas as soluções de Layer2 vão cair junto, porque toda a tecnologia da Polygon é baseada nas tecnologias da Ethereum. Como estratégia de business faz sentido, mas é um momento muito sensível, no meu ponto de vista, dessa migração, então a gente tem que esperar para ver o que de fato vai acontecer com essas soluções de segunda camada, porque a proposta do Ethereum 2.0 é justamente trazer o stake, então a tendência da Mainnet é reduzir os custos. Se a rede principal vai reduzir os custos, será que eles vão ficar atrativos? As Layer2 vão continuar existindo? Não sei, porque, em termos de marketing, o Ethereum é muito mais popular que a Polygon, assim como é mais popular que a maioria das outras criptomoedas, é a segunda maior criptomoeda do mercado, então, se as taxas da rede Ethereum 2.0 forem atrativas o suficiente, possivelmente a gente veja soluções migrando para a Ethereum. Quem já está na rede Polygon provavelmente vai se manter lá. Mas é claro que a gente não tem como prever como vai ser essa migração, se vai ter migração, se vai ter uma série de DeFi’s em massa saindo da Ethereum. A gente já viu o caso da dYdX, saindo da Ethereum e indo para a Cosmos, e ela era a maior DeFi da rede Ethereum, se não me engano. Isso já dá para mim um sinal de que essa migração vai ocorrer, mais cedo ou mais tarde, não sei se vai ser muita gente migrando para outras soluções ou não.

Eu já migrei, já tenho estudado essa migração há bastante tempo, a opção que eu fiz foi o Ethereum Classic, pelo motivo óbvio de ter a mesma funcionalidade do Ethereum, sem precisar migrar para outra linguagem, nem nada do tipo, mantendo o PoW, então essa foi a minha opção pessoal. Tenho acompanhado, também, pra ver se a Ethereum Classic vai acabar entrando nessa doideira de migrar pra PoS e, se migrar, eu vou ter que, de fato, procurar uma solução em outra tecnologia, outra moeda ou, talvez, até mesmo utilizar Layer2 nas minhas aplicações usando PoW, mas essa seria a última opção. Eu ainda prefiro manter as aplicações em alguma rede que seja descentralizada de fato, porque o trabalho que você tem para criar vários full nodes e atrair mineradores para a sua rede é um trabalho que eu não quero ter só para manter as minhas aplicações, então eu ainda prefiro pagar as taxas de uma rede para poder manter toda essa infraestrutura operando sem precisar fazer o gerenciamento dessa Layer2. Na pratica, a gente está vendo um movimento dessas Layer2 para começarem a ser mais atrativas do que o próprio Ethereum 2.0 porque, se a proposta dele é reduzir os custos, então a Polygon tem que ser mais barata ainda, se não, ela não tem por que existir. Se as taxas da Polygon continuarem a mesma coisa do que a nova rede Ethereum, começa a ficar inviável porque, em questões de marketing, o Ethereum é muito mais popular.

A gente ainda tem muita coisa pra ver pela frente, eu só queria mesmo comentar sobre o tema, essa movimentação que está acontecendo em soluções de segunda camada da Ethereum pouco antes do “The Merge”, então vamos ver o que vai acontecer e, se a gente tiver atualização nessa história, obviamente eu vou fazer um novo post para atualizar.

Esse post foi criado à partido do conteúdo do vídeo “Comentando a atualização da Polygon”: