Hoje eu vou falar do vespeiro que ninguém quer mexer, eu não tenho nada a perder, independente das pessoas acharem certo ou errado, vou colocar minha opinião sincera sobre o altruísmo hipócrita que a gente tem hoje na nossa sociedade.

Primeiro eu vou comentar sobre algumas coisas que aconteceram comigo recentemente. Várias pessoas, algumas próximas, outras nem tanto, chegaram pra mim pra falar que a forma como eu estou fazendo minhas publicações é legal, porque eu faço meus posts e vídeos falando o que eu penso, independente de filtro. Me parece que as pessoas perderam um pouco da sua essência e não falam tudo o que querem e pensam por causa de todo esse controle que se tem hoje com relação ao que pode ou não falar.

Quando eu comecei a trabalhar, lá pelos anos 2000, o que era importante para uma empresa? Importante era ter bons profissionais, que iriam executar tarefas específicas. Essas demandas sendo atendidas, o funcionário era remunerado e, no final do mês, a empresa tinha que gerar mais dinheiro do que os custos de manter esses funcionários, isso era o básico de operação de qualquer empresa dos 2000. Depois começou a vir uma onda muito grande de Startups e começou a mudar os conceitos internos dentro dessas empresas. A gente teve um assistencialismo exacerbado dentro das universidades durante todos os anos 2000, qualquer pessoa que fez faculdade pública sabe do que eu estou falando, o meio acadêmico se contaminou muito com temas que não precisariam ser discutidos dentro do meio acadêmico para matérias específicas, colocaram ética e moral em tudo. E o tema é muito complexo, pra cada pessoa que você perguntar o que é ética e moral, vai te falar de uma forma diferente, cada pessoa vai ter seus próprios valores, então essa definição do que é ético e o que é moral é muito ampla.

Antigamente, as empresas de uma maneira geral, abstraiam essas questões, elas tinham seus próprios valores, que eram os valores trazidos pelos fundadores, você entendia quais eram os valores da empresa e, baseado nisso, conseguir ter mais ou menos um conceito de como é que era o ambiente moral é ético. Hoje em dia a gente não tem isso. E tudo começou porque essa galera que começou a ter uma militância mais efetiva dentro das universidades acabou se formando e o ocupando cargos dentro dessas empresas, principalmente nos setores de RH, nos setores de marketing e tal. Com a ascensão das redes sociais, a gente começou a ver isso mais efetivamente acontecendo, no sentido de “o que a gente acredita ser o certo, a gente vai apoiar, a gente vai divulgar, a gente vai patrocinar”. Como o controle majoritário do marketing e do RH está baseado nesses conceitos altruístas, acabam priorizando a galera que corrobora do discurso deles, e a galera que é contraria ao discurso ou que fale qualquer coisa fora da cartilha do “politicamente correto”, é cancelado, e não é só o fato de chegar ali e tirar um patrocínio ou parar de trabalhar com determinado tipo de empresa, mas também é o movimento de querer queimar a imagem. Isso aconteceu recentemente com o Flow Podcast, aconteceu com o Castanhari. Se você for perguntar pra mim o motivo do cancelamento do Castanhari ou do Monark, eu acho que o motivo é bem pesado, é bem complicado, o Monark falou umas merdas, mas isso não define o que a pessoa é. Isso é uma coisa que o 3K e o Jeanzão vêm falando muito, o próprio Felipe Neto falou, que você pode falar o que quiser, o cara falou besteira, falou muita merda, mas o cara não é nazista.

E aí, o ponto que eu quero chegar é o seguinte: começou a se generalizar para um lado muito extremo de “você falou alguma coisa que eu não gostei, então eu vou te taxar, eu vou te colocar uma tarja de uma coisa que você provavelmente não é, mas eu vou colocar essa tarja em você e vou chamar toda a minha base pra te atacar”, porque simplesmente colocando palavras fortes, como misógino ou homofóbico, dá um peso maior na oratória. A pessoa discordou com um ponto que não tem nada a ver com misoginia ou com racismo ou qualquer coisa do tipo, mas colocando essas tarjas nas pessoas deixa mais fácil de você apontar o cara como alvo e começar o ataque em massa.

Isso aconteceu recentemente comigo, no caso da Rocketseat. Eu não tenho nenhum problema de falar, não tenho patrocinador nenhum, não dependo de patrocinador nenhum, nem vou perder nenhum contrato por causa disso. Eu coloquei simplesmente meu ponto de vistas falando que, para qualquer empresa, uma pessoa que fica 6 meses afastada, independente de ser mulher, independente de ser negro, independente de sofrer um acidente, pra empresa isso é um problema, a empresa precisa se adaptar. Se a empresa é grande, tem um fluxo financeiro que comporte colocar uma pessoa provisoriamente no lugar, até consegue contornar essa situação, mas, no caso de pequenas empresas, que tem 2, 3 funcionários, isso é muito complexo, principalmente se isso foi, por exemplo, um acidente de trabalho, que depois vai vir com processo e tal, isso pode fazer com que a empresa quebre. E a maioria das empresas do Brasil é assim, são pequenas empresas, que têm poucos funcionários e não têm fluxo de caixa suficiente pra ter todo esse assistencialismo que todo mundo quer. Na prática, a gente tem sempre que fazer uma balança entre o que é ético, é moral, é bonito e o que é possível, porque a empresa, no final do dia, tem que sobreviver. Às vezes, por causa de um ato desses, de manter uma pessoa mais tempo, pode prejudicar financeiramente a empresa em outros sentidos, às vezes ela vai deixar de contratar outra pessoa que poderia estar exercendo aquela função.

Não vou me aprofundar muito no tema, o que eu estou tentando é fazer uma ponderação com relação ao tema. Eu acho ridícula a pessoa que vem falar que, porque falou sobre isso, não se posicionou a favor dessa pessoa, do jeito que ela acha que é o certo, você é misógino, você é homofóbico, você é racista. Vamos parar com esse extremismo, é muito chato. Eu estou colocando uma ponderação de reflexão, reflita!

Toda vez que alguém vai ficar em cara recebendo dinheiro por qualquer motivo que seja, não colocando só esse caso em específico, alguém vai ter que pagar a conta. Está previsto na CLT o que? Quatro meses de auxílio maternidade. Tem países que é 6 meses, tem países que é 1 ano. Pode fazer sentido estender isso daí? Eu acredito que sim, porque a criança precisa da mãe durante muito mais tempo do que 4 meses, eu tenho uma filha pequena, eu sei como é isso, então faz sentido. Mas quem é que vai pagar essa conta? Esse é o meu questionamento. É o governo que vai pagar a conta? Mas de onde ele vai tirar esse dinheiro? Vamos começar a cobrar 1% a mais no INSS pra conseguir manter a mãe por 1 ano de licença maternidade? Beleza. Todo mundo concorda? A sociedade concorda com tudo isso? Você, que não tem nada a ver com essa história, concorda em pagar mais 1% de INSS pra dar esse benéfico? Se a maioria da população concordar, não vejo problema, é só ir lá, fazer uma alteração na lei trabalhista, e mudar isso. Agora, eu não acho viável jogar isso pras costas de nenhuma empresa que seja. Honestamente, eu acho difícil passar um negócio desses, de aumentar a licença maternidade pra 1 ano aqui no Brasil, vai ter contestação, vai ser barraco e por aí vai. Se vier, excelente, se puder, se der pra fazer isso, seria maravilhoso.

Agora, o fato de eu não concordar que a empresa arque com o custo de uma pessoa que está afastada, por qualquer motivo que seja, não me torna misógino. Isso daí é coisa ridícula que falaram na internet. Acho ridícula essa ponderação, extremamente extremista, levando em consideração o que a pessoa acha que é certo e foda-se. Honestamente, pra quem fez essa patifaria no Twitter, não fez nenhuma diferença na minha vida, eu não dependo de Twitter pra nada, eu não dependo de patrocinador, então não faz nenhuma diferença na minha vida, vou continuar fazendo meus posts aqui, não me importo com relação ao que me chamam na internet. Até conversei com alguns amigos meus, que são influenciadores, e todos eles falaram pra eu nem perder muito tempo lá no Twitter, porque é muita gente querendo falar demais, mas ninguém tem ideia sólida do que realmente está sendo falado. Eu concordo 100% com as pessoas que me falaram isso, de deixa essa porra pra lá, daqui a pouco ninguém mais se lembra desse negócio.

Obviamente, eu vim aqui para falar para quem realmente importa, que essa discussão precisa ser falada de forma franca e honesta com todo mundo. A gente tem que parar com esse medo de ser cancelado na internet. Eu entendo que, como empresa, vir abertamente na internet falar alguma coisa nesse sentido, qualquer que seja, gera uma grande repercussão, gera burburinho, cancelamento, mas isso não pode ser motivo pra gente ficar calado. A gente precisa ponderar o seguinte: o que é possível dentro da realidade que a gente vive? Precisa ser consciente, não adianta levantar uma bandeira e falar que está defendendo o interesse comum das pessoas, sendo que, toda vez que você esta defendendo que alguém, outra pessoa vai ter que pagar essa conta, então você não está defendendo o interesse do outro lado, então você não está defendendo o interesse de todo mundo, você está defendendo o interesse de um grupo específico, sempre é assim. E, beleza, não tem nada de errado com relação a isso, isso é política, mas eu não gosto da imposição de falar assim “tem que ser desse jeito aqui, porque senão está errado”. Não, não é desse jeito que o mundo funciona.

Você pode ter suas ideologias, seus valores, mas você não pode querer impor a ninguém a sua realidade. A sua realidade é sua, se você está achando ruim, abra a sua própria empresa e crie dentro dela os conceitos que você acredita serem os certos. Você tem livre arbítrio pra fazer isso. Agora, não chegue em outra empresa, que não é sua, e queira impor as suas militâncias, as suas doutrinas, é horrível esse negócio. Não têm nenhuma empresa no Brasil que vai aceitar tudo que está sendo falado de politicamente correto porque acha que isso vai ser melhor pro negócio, é só uma forma de não ser cancelado na internet. Aí vira uma hipocrisia, de um lado todo mundo falando que tem que ser feito de tal jeito, do outro lado, as empresas estão aceitando esse negócio pra não ficarem mal faladas. Quando der problema nessas empresas, como está dando no caso do Magazine Luiza, que está se aproximando da falência, você achar que a dona Luiza Trajano vai ficar no ESG ou na responsabilidade social que ela tem? Não, ela vai mandar todo mundo embora, porque senão vai ficar lá pra ela pagar a dívida dessa brincadeira. E aí não vai adiantar nada essa militância toda, essa lacração toda que o Magazine Luiza vem fazendo nos últimos anos, porque a empresa se tornou uma empresa que não dá lucro. No final, a gente gira, gira, gira e volta pro começo: empresas existem para dar lucro, não para lacrar. Entenda isso, não tem nenhum problema de você ter as suas ideologias, mas isso não vai ser senso comum, não vai se tornar senso comum, isso não vai tornar o entendimento da maioria.

Muita gente fica calada, mas teve gente que veio pra mim para falar “cara, eu penso igualzinho sobre aessa questão, mas eu não falo porque vão querer me cancelar na internet, vai dar problema, vou perder meu emprego”. Chegamos a esse ponto, perder o emprego porque comentou no Twitter numa thread que a empresa não concorda. Na moral, se você é empresário, se você está gerenciando uma empresa, valorize seu funcionário pelo que ele tem de competência, pelo que ele te entrega de resultado. Pare com essa palhaçada de ficar olhando rede social de funcionário e querendo saber o que ele faz fora do horário de trabalho. Não é do seu interesse, acho que tinha que ser proibido um negócio desses, de empresa demitir porque funcionário fez comentário no Twitter. Todo mundo tem liberdade de expressão pra poder falar o que quiser, pra poder opinar no que quiser, isso não poderia ser o motivo de demissão. A gente está deixando de lado as competências das pessoas para poder ficar analisando em qual lado ela está, isso é horrível, isso pra mim não é uma empresa sustentável. Então, se você tem uma empresa, comece a analisar os resultados, analise seus profissionais por resultado, não por posicionamento.

Em todas as minhas empresas eu fui assim, vou contratar uma pessoa? Eu vou contratar pelas competências que ela tem, eu não estou me importando se ela é preta, se ela é branca, se ela é azul, se ela é homossexual, se ela não é, se ela é mulher, se ela é homem. Pra mim, isso não me importa, o que importa é se ela tem capacidade para fazer o trabalho que eu estou demandando dela. No final das contas as empresas precisam gerar resultados, e aí não importa quem é que está gerando esses resultados. Eu sei que eu sou a minoria, que pensa dessa forma de fato, no bem-estar a empresa, independente das bandeiras. Agora, eu não deixo nenhum funcionário meu ser militante dentro da empresa. Se você não sabe, você não pode fazer uma vaga de trabalho específico pra mulheres, por exemplo, isso, pelo menos foi o que o meu jurídico falou, é preconceito. Se você está querendo fazer dentro da sua empresa uma vaga específica para um grupo social, pra um grupo étnico ou pra uma identidade de gênero, você está cometendo o crime de racismo, você está segregando quem é que pode assumir aquela vaga, você não está levando em consideração as competências que a pessoa precisa ter pra ocupar aquela vaga. Então vamos parar com esse negócio, RHs do Brasil, de ficar contratando as pessoas pra cobrir cota. Uma empresa precisa dar lucro, precisa ter profissionais específicos praquelas áreas de atuação. Não contrate pessoas só porque compartilham do seu discurso identitário, não contrate pessoas só porque estão mais próximo do seu gosto pessoal, contrate as pessoas porque elas têm competência praquilo ali, é muito mais saudável pra empresa. É muito melhor pra sua empresa contratar baseado em especificações técnicas, que não é o que eu vejo hoje em dia nas empresas.

Preocupa-me muito em longo prazo como isso está caminhando. Em nenhum momento eu estou falando que alguém não possa defender suas bandeiras, mas defenda na rua, defenda no seu perfil pessoal do Twitter. Não cancele ninguém, não cancele empresa nenhuma por causa das suas opiniões, acho isso errado, eu acho que o que fizeram com o Flow foi extremamente errado, todos os cancelamentos do Twitter, acho isso extremamente desnecessários, independente de quem seja. Eu não estou defendendo bandeira nem defendendo nenhuma causa. Eu acho que é tudo uma discussão desnecessária, que atrapalha mais do que ajuda e, no final, o mundo não vai mudar a bel prazer de ninguém, o mundo vai continuar sendo o que a gente conhece hoje, não vai mudar muita coisa. A gente demora muito, como espécie, pra evoluir, então a gente vai continuar vendo isso pelos próximos 20, 30 anos. Eu acho que a minha geração já é muito mais aberta às pessoas que usam drogas, ou pessoas que tem outras orientações sexuais. Eu mesmo não ligo pra nada, tem funcionário meu que vai lá, acende o baseado dele, a gente fica trocando ideia, e eu não tenho nenhum problema com isso, eu não tenho nada a ver com a vida de ninguém. Vamos dividir o que é vida pessoal do que é o relacionamento dentro da empresa. Acho desnecessário a empresa querer entrar na vida pessoal das pessoas, totalmente desnecessário.

Eu sei que o tema é polêmico, é um vespeiro, mas tudo bem.

Eu falo melhor do caso da Rocketseat nesse post:

O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “Altruísmo hipócrita”: