Você já se perguntou por que é que 99% das Startups morrem? Eu fui bater um papo com um amigo, que é CEO de uma aceleradora de Startups, e por isso resolvi falar do tema. Eu elenquei aqui os 5 maiores motivos que fazem as Startups morrerem. Isso não se aplica somente às Startups, se aplica às empresas de uma forma geral, mas obviamente eu vou falar sobre Startups porque é uma área que atuei bastante tempo, fui sócio, passei por processo de aceleração e tudo mais, por mais que isso também se reflita em vários outros modelos de empresa.

Vamos lá, vou começar de baixo para cima aqui, dos motivos que eu acredito serem os menos relevante até o mais relevante:

Número 5: A espera por investimentos.

O que eu estou querendo dizer com isso? Quando se iniciou esse processo de “Startupização” das coisas, em que tudo era Startup, ali por volta dos anos 2008/2010, e foi se estendendo até 2015/2016, que é onde teve o grande boom, toda Startup era fundamentada em cima de um futuro investimento, um “investidor anjo”, que depois ia virar uma segunda rodada, ia vir um VC [Venture Capital] e não sei mais o que. Por que é que esse é um grande erro de qualquer empresa? A empresa já se inicia achando que o modo de operação dela é baseado em investimento. Isso pode até “relativamente” funcionar, essa engrenagem pode girar de certa forma, quando você tem uma abundância de liquidez de investimento no mercado, o cenário econômico está maravilhoso e as pessoas começam a investir no risco que, talvez seja potencializado em várias vezes. Só que essa realidade se aplica muito bem em cenários mais maduros de empreendedorismo no geral. Aqui no Brasil foram raríssimos os casos que de fato conseguiram montar uma empresa nesses ciclos de investimento, e demorou 10, 20 anos pra isso acontecer, até virar um IPO [Oferta Pública Inicial] ou até virar um Exit, por exemplo. Para mim, qualquer empresa tem que ter uma premissa básica de dar dinheiro, ela não pode ficar vivendo nesse ciclo de procurar investidor, principalmente agora, nesse momento que de escassez de capital de risco no mundo. Se você pretende começar um projeto nos próximos 5 anos procurando investidores, provavelmente vai bater a cara porque tem muito empreendedor muito bom no mercado que não está conseguindo investimento para seus projetos.

Número 4: Time – Saiba o tempo certo

O que é o time? As empresas tem um tempo certo para começarem as suas operações. Se você perder o time,  você já não consegue mais fazer, ou ao menos vai ter uma grande dificuldade pra conseguir entrar naquele mercado. Vou dar um exemplo, quando era o time para se fazer um app de transporte tipo o Uber? Era antes do Uber se popularizar, por volta de 2010/2011, que era quando tinha o Easy Taxi, aquele ali era o time para pensar em fazer um app de transporte. Agora muitos anos se passaram, o mercado já se consolidou, o Uber domina o mercado, é muito mais difícil conseguir entrar nesse mercado hoje em dia, não é que seja impossível, mas é muito mais difícil. Então você ter um time perfeito, coeso, no momento certo, faz total diferença pro sucesso do seu negócio, se você demorar demais, corre mais riscos e tem mais chances de dar problema. No caso do Vigia de Preço, por exemplo, foi um caso extremamente atípico, eu fiz um comparador de preço em 2017 com um mercado com anos de existência. Mas por que naquele momento pareceu uma excelente oportunidade? Porque o Buscapé estava sofrendo, ele já tinha sido vendido pra Naspers, depois foi vendido de novo pro Zoom, então estava num processo em que se abriu um gap no mercado e várias pessoas tentaram se alocar naquele gap, essa oportunidade deu chance de novos comparadores surgirem. O Vigia teve êxito nesse sentido e entrou bem no mercado, conseguiu abocanhar uma fatia significativa, mesmo 15 anos depois do mercado já estar estabelecido.

Número 3: Falta de capacidade técnica da equipe.  

Vejo muito e sempre me impressiona: como as pessoas querem montar Startups, que são empresas de tecnologia, sem uma boa equipe técnica? Muitas vezes os empreendedores que iniciaram o projeto não têm a mínima capacidade para conseguir discernir se o CTO ou o programador que está no projeto são bons ou não. A maioria das Startups falham e falem por não entregarem o produto, por demorarem a conseguir fazer um piloto funcional, por demorar a entregar uma feature. Esse tema é muito complexo, eu poderia aprofundar em vários cenários: medo de lançamento, refacturing precoce, uma série de coisas que acontecem especificamente na parte técnica e fazem com que o projeto afunde antes mesmo de ser lançado. Eu cansei de ver projetos que estavam sendo construídos há anos e que nunca foram lançados a público. A empresa morrer antes de vir a público é surreal. Por isso que eu coloquei falta de capacidade técnica, se fosse só conhecimento, daria ainda para aprender, mas não, é falta de capacidade de operacionalizar de fato, de fazer o negócio acontecer. Isso é uma coisa muito recorrente no cenário de Startups, mas não deveria ser. Você precisa de dedicação para conseguir performar bem em alguma coisa, mas já vi muitas pessoas que tinham outras profissões que tentavam montar Startups e ficava part time em carda um dos empregos. Também falta muito profissional bom, capacitado, aqui no Brasil, é um mercado muito carente, obviamente tem pessoas muito boas, mas que vão trabalhar fora porque recebem em dólar, recebem em Euro, não têm por que trabalhar para empresa brasileira se é muito melhor trabalhar remoto para uma empresa lá em Singapura, ganhando em dólar e vivendo em Real. Então essa parte de capacidade técnica operacional é muito deficitária, principalmente nas Startups brasileiras e, no geral, é um fator determinante para o negócio. Se você não consegue entregar um piloto pro investidor, você nunca vai conseguir investimento.

Número 2: Modelo de negócio.

É impressionante como 99% das Startups não sabem como vão ganhar dinheiro com o seu negócio. É impressionante. Se você conversar com empreendedores, eles vão falar qual é o problema que estão resolvendo, quantos usuários eles têm, quantos leads, mas eles não se preocupam, com raríssimas exceções, com como é que eles vão rentabilizar esse negócio e isso esbarra diretamente naquela na premissa do 5º motivo. Esses caras não estão preocupados com dinheiro, com pagar as contas, eles estão preocupados em arrumar um investidor para bancar a operação. Olha só que doideira! “Pra que é que eu vou me preocupar com como é que eu vou ganhar dinheiro se eu vou conseguir um investidor?” Por isso que, pra mim, essa história toda já está errada no conceito. Você não começa pensando que vai correr atrás de investidor, você foca em como ganhar dinheiro. A galera até chama de bootstrap, montar uma empresa com fundos próprios, sem ter investimento, que foi o que eu fiz com o Vigia, já focar todos os esforços em maneiras de ganhar dinheiro e não em ficar procurando um anjo salvador da pátria. Obviamente, se você não tem dinheiro para pagar o fluxo de caixa mensal da sua empresa, ela vai falir, é simples assim. Você vai ter que tirar do bolso, que é o que muita gente faz, trabalha em outro emprego para bancar a operação da Startup durante um bom tempo, uma fração mínima consegue de fato investimento e uma fração menor ainda de fato consegue fazer a empresa virar e dar lucro. Nesse tema também a gente pode se aprofundar bastante, por que tem vários tipos de modelos diferentes, têm várias formas de ganhar dinheiro, mas é impressionante como normalmente Startups caem em 4 ou 5 modelos padrões de assinatura ou CPA, ninguém tenta inovar muito nesses modelos e normalmente só os procuram quando a coisa já está explodindo e o negócio já está pegando fogo, aí sim procuram como resolver o problema da grana.

Número 1: Os próprios empreendedores.

Para finalizar com chave de ouro, o maior problema que as Startups enfrentam, que faz com que elas simplesmente virem pó, os empreendedores. Se você é empreendedor, esse recado eu vou mandar pra você, que está tentando abrir a sua Startup: o fato de você ter uma ideia não te torna capaz de tocar um negócio. Gerenciar uma empresa é muito mais complexo do que perece e muito provavelmente, se você não tem experiências passadas, se você não teve outros negócios e não quebrou a cara para cacete, você não tem capacidade para ser CEO de uma empresa. Você tem que ser humilde o suficiente para entender que não tem essa capacidade toda e a sua ideia não é tão brilhante assim, com raras exceções que vão realmente ser uma ideia brilhante, mas ideia por si só não faz o negócio dar certo. Você tem que conseguir fazer aquilo ser operacionalizado, tem que encontrar pessoas boas, tem que fazer o negócio andar, tem que dar um passo de cada vez e estudar muito, tem que se dedicar. Não tem como criar uma empresa de sucesso trabalhando uma horinha por dia no projeto, não existe isso, você vai ter que dedicar a sua vida a isso. Eu trabalho 12h, 18h por dia, raramente eu levanto pra poder fazer alguma coisa, quando eu saio pra almoçar com um amigo, ou qualquer coisa do tipo, eu fico pensando “caralho, eu podia estar lá, terminando o que eu tenho pra terminar”, é uma dedicação extrema e são poucas as pessoas que realmente tem a capacidade de conseguir se entregar a alguma coisa praquilo dar certo. Você acorda respirando trabalho, você dorme pensando em trabalho, é uma dedicação absurda e, mesmo com toda a experiência do planeta, você vai ter conseguir mais experiência para gerenciar a sua empresa naquele cenário. Quando eu saí do mercado de varejo e fui pro mercado de jogos, por mais que eu tivesse experiência como CEO de uma empresa que foi vendida, quando fui pra parte de jogos, eu fui procurar conhecimento com pessoas que foram CEO de empresas de jogos, porque é outro mercado, é outro ambiente, é outro network, são outras métricas, então a experiência vai ter que ser acumulada. Um cara que tem 10, 20 anos de experiência em um nicho específico, tem capacidade de operacionalizar coisas que são óbvias pra ele. É como dirigir, acaba virando automático, mas para quem não participa daquele cenário, às vezes vai demorar anos para ganhar experiência, vai demorar anos para criar network.

Obviamente, no começo você não tem dinheiro para pagar um bom CEO, mas, se eu fosse dar uma dica, o primeiro sócio que você tem que procurar é alguém que seja muito bom nessa área, até para poder olhar a sua ideia e falar se ela é boa ou não é. E, de novo, você tem que ter humildade para ouvir essa pessoa e talvez desistir do seu projeto. Tendo uma pessoa que é realmente muito boa na área, que realmente está bem intencionada também, te dando um feedback honesto, falando se o seu projeto está legal ou não está, você vai fazer o seu juízo de valores e vai avaliar se continua ou não, se convida esse cara para ser seu advisor, se convida para ser CEO da empresa ou para ser sócio. Os empreendedores precisam maturar, precisam se provar, precisam estudar, precisam melhorar. Não é da noite para o dia que você vira um excelente empreendedor, não é da noite para o dia que você vira empresário, você tem que saber dividir isso muito bem. O nível de responsabilidade que você vai assumir quando começar a contratar funcionários, quando começar de fato a operacionalizar um negócio, é quase como se fosse um filho. O nível de responsabilidade é muito grande, você tem que saber se está preparado para isso, se tem sangue frio para tomar decisões, para demitir pessoas, empreender não é só a parte bonita. A parte bonita é o que a gente conta, mas existe uma parte que é muito triste, é solitário, você tem poucas pessoas para conversar, os problemas começam a crescer de uma forma desproporcional. Normalmente se você começar a crescer demais, ninguém vai poder te ajudar quando dá problema, porque são problemas de milhões. Eu até brinco que, quando aparece um problema aqui para mim para resolver, não é arrumar 5mil, 6 mil, não… Tem que arrumar meio milhão de Reais, um milhão de Reais para resolver um problema. São sempre problemas muito grandes e você fica maluco pensando como resolver. E são poucas as pessoas com quem você vai conseguir trocar ideia, que realmente vão conseguir entender o que você está passando, porque a pessoa tem que ter passado por isso. Se você nunca teve um milhão de reais na sua conta, se você nunca teve uma pica pra pagar de um milhão de reais, você não sabe o que é isso. E, honestamente, isso vai ficando normal na sua vida, vai ficando normal ao ponto que parece até que você é soberbo ou alguma coisa do tipo, que não tem humildade, mas na verdade é porque aquilo ali já está natural, vira automático. Mas você precisa passar por essas situações, se não você não vai ter experiência o suficiente para tocar o negócio de forma a ter sucesso.

Então, empreendedores de todo o Brasil, parabéns por quererem empreender nesse país, que é super difícil, é super complicado, tem um monte de regras, nosso judiciário é completamente complicado, nossas leis são complicadíssimas. Mas não se contentem em ser medíocres e quando eu falo medíocres é se manterem numa média estatística, as estatísticas do empreendedorismo são cruéis, 99% das Startups morrem nos 2 primeiros anos de atividade. Então você tem que começar a se posicionar assim: você quer fazer parte da estatística ou quer ser aquele 1% que realmente tem sucesso? Eu sempre me coloquei do lado do 1% e, por isso, tive sucesso, espero que vocês também tenham sucesso na trajetória de vocês.

Vou deixar aqui algumas sugestões de post onde falo de temas relacionados:

O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “Por que 99,9% das Startups morrem?”