Hoje a gente vai falar de INFURA e por que ela é um dos maiores riscos de censura que a gente tem no mercado de cripto atual.
Quando a gente fala de blockchains, existe todo um ecossistema de infraestrutura para fazer comunicação com a rede. Imagine a estrutura de cripto como se fosse uma cebola, na primeira camada nós temos os full nodes, os nós que são responsáveis por fazer a sincronia e manter os dados da blockchain. Por cima dessa aplicação existe um sistema de gestão dessa blockchain, que possui protocolos de comunicação entre os full nodes, no caso do Ethereum, por exemplo, esse protocolo se chama Whisper. Depois tem mais uma camada de comunicação, que pode ser por RPC, HTTP, websocket. Toda a comunicação com esses full nodes tem uma linguagem própria do sistema. A comunicação entre os full nodes, a comunicação com os mineradores, a comunicação entre todo esse ecossistema e com alguns softwares externos precisa de uma API, uma espécie de ponte. É aí que entra a INFURA: A empresa provém essa infraestrutura de conexão entre os full nodes das redes, seja Ethereum, Bitcoin ou qualquer outra, com APIs de aplicações simples, para que possam interagir sem precisa de outro full node.
Dois dos softwares mais importantes para o ecossistema, a Metamask e a OpenSea, utilizam INFURA nos seus sistemas para fazer a comunicação com as blockchains, então boa parte das transações passa pela INFURA antes de ser consolidada na rede. Até aí não teria nenhum grande problema, não fosse o fato de o governo americano começar a impor sanções à INFURA, exigindo bloqueio de algumas carteiras e bloqueio de acesso a alguns softwares específicos. Recentemente nós tivemos o caso do Tornado Cash, em que a INFURA bloqueou qualquer tipo de comunicação vinda de carteiras que tenham tido interação com o protocolo. Inclusive antes a OpenSea usava INFURA e acabou migrando para outro software. Mas o que acabou acontecendo é que esse ponto da rede ficou centralizado demais, então, se o governo americano quiser bloquear a interação com determinados tipos de DeFi ou com alguma carteira específica ou até bloquear a sua carteira, a sua Metamask vai parar de funciona por causa disso, porque eles têm integração direta com a INFURA.
Para mim, hoje a INFURA é um dos maiores riscos de censura que existe no mundo cripto. Através da INFURA você consegue bloquear o acesso de uma grande quantidade de pessoas, porque a gente está falando de Metamask e de vários outros sistemas que também utilizam INFURA ou Alchemy para poder fazer a comunicação com a blockchain. Como é que a gente pode resolver isso? Na prática resolver isso é relativamente simples, a gente pode ter conexões de APIs direto com os full nodes. Algumas blockchains já têm esse tipo de serviço, por exemplo, o ETC, que é o Ethereum Classic, você já pluga direto na API deles, sem precisar da INFURA ou da Alchemy para poder fazer qualquer tipo de transação.
Eu vejo muita correlação da INFURA com o Ether, a rede Ethereum não tem um caminho de API padrão, então acaba que você tem que ter um full node instalado e ter um sistema que se comunica com esse full node, e é justamente nesse gargalo que o Ethereum deixou que a INFURA crescesse. Hoje, uma grande quantidade de softwares no mercado utiliza INFURA para poder mintar Smart Contracts, comunicar com a blockchains, mandar transações e transferências, etc. Isso é bem perigoso, porque a gente está vendo várias sanções utilizando justamente a INFURA como meio de censurar esses sistemas. A gente tem a blockchain descentralizada, os full nodes e tudo mais, mas existe esse problema de centralização logo na API de interação, então acaba perdendo um pouco do sentido, por mais que seja um problema facilmente resolvível. É relativamente simples criar um full node dentro da sua casa e disponibilizar uma API, mas é chato, porque os usuários que não tem tanto conhecimento assim para poder fazer alteração das configurações de API da Metamask acabam ficando reféns.
Se eu fosse fazer uma analogia bem porca, a INFURA serve mais ou menos como os serviços de DNS do seu computador. Tem como mudar as configurações da placa de rede, você consegue alterar seu DNS e utilizar outro serviço independente da sua provedora de internet, mas normalmente a grande maioria utiliza o próprio DNS do provedor de internet. No caso da Metamask também existe a possibilidade de fazer alteração de qual API você quer utilizar pra poder fazer a comunicação com a blockchain, mas obviamente isso já é mais um passo que o usuário normal não tem tanta facilidade de fazer, e acaba criando esse tipo de problema. Na prática, não resolve em nada você bloquear via INFURA ou Alchemy, porque quem tem um conhecimento um pouquinho melhor consegue fazer a comunicação direta, via full node próprio ou por um full node qualquer. Esse boicote não afeta quem tem experiência, mas quem não tem, acaba ficando com os serviços indisponíveis. Isso não quer dizer que se sua carteira tiver conexão com a Tornado em algum momento você vai perder os seus fundos, você só vai ter que parar de utilizar a Metamask, porque ela está configurada pra utilizar INFURA e vai bloquear a sua carteira, mas você pode utilizar qualquer outro gateway para suprir essa demanda de API.
Eu espero que você que está lendo esse conteúdo comece a se informar, comece a olhar esse universo com mais seriedade e veja tudo que está acontecendo. Ao mesmo tempo que nós temos notícias excelentes, como a entrada do maior fundo institucional do mundo, a BlackRock, no mercado de cripto junto com a Coinbase, nós também temos o governo americano desesperado e começando a fazer uma série de sanções e censurando alguns protocolos que eles acreditam ser prejudiciais pra economia deles.
Tanto o blog quanto o meu canal no YouTube estão recheados de conteúdo sobre criptoativos e Web3 em geral. Eu vou deixar três posts aqui como recomendação para quem está querendo entender mais do assunto:
O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “INFURA, Um Dos Maiores Riscos De Censura Do Mercado Cripto”: