Já tem algum tempo que eu venho sendo chamando para fazer algum tipo de consultoria ou aconselhamentos com relação a produtos. Embora não seja a minha área principal de atuação, é um setor que eu gosto muito e tenho conhecimento, já tendo criado alguns produtos relevantes no mercado.

Uma coisa que eu venho falando com muita frequência para as pessoas que vêm apresentar algum tipo de projeto novo para mim é que muitas das vezes a gente foca demais na caixa, na embalagem, e perde o foco com relação ao produto em si. Por isso o título do post de hoje é “Embalagens bonitas não salvam produtos ruins”. A minha dica é, se você está querendo fazer um produto, você tem que focar na feature principal desse produto, no que ele faz. Se você está fazendo, por exemplo, um app de Stories do Instagram, essa parte em específico tem que ser muito boa, ter um excelente layout, uma excelente UX, tudo que você coloca depois disso é satélite. Qual é a feature principal do YouTube? É exibir vídeos, então o player do YouTube precisa ser absurdamente bom, precisa ser rápido, não pode travar, tem que ser simples de interagir, ele tem que se adaptar a vários modelos de televisão, de telas, e tudo mais. Todo o restante dentro do layout do YouTube é satélite, não é tão importante assim, se o player for ruim, todo o resto não vale nada.

Quando a gente está fazendo um determinado produto, é preciso ter muito claro na nossa cabeça qual é foco desse produto, porque a tendência em médio/longo prazo é a gente ser um pouco prolixo com as coisas que a gente está fazendo. A gente começa o produto de um jeito, ele começa a evoluir, começa a ter N features diferentes, e essas features nos parecem muito boas e tudo mais, mas possivelmente 90% dos acessos vão ser para uma coisa especifica, que é o seu core business. Por exemplo, eu estou fazendo uma plataforma de notificação para vídeos de YouTube, o EhNosso, o core business do produto é esse, notificar o usuário de vídeos novos, então essa parte em especifico não pode falhar, ela precisa funcionar muito bem em várias plataformas, em Android, iOS, extensão de navegador e tudo mais, e se essa parte falhar, todo o resto é desnecessário. Eu posso fazer features extremamente importantes, que podem me parecer super legais, mas se a parte de notificações parar de funcionar, acabou, o sistema para. A engrenagem principal do produto é essa, a proposta originária do produto é essa, inclusive o pitch de vendas do sistema para os influenciadores, que é o nosso público final, é justamente a questão de notificação, então a notificação não pode dar problema, ela precisa funcionar. Então obviamente é a feature que eu mais tomo cuidado, que eu mais trabalho em cima. Quando eu consigo ver que ela está 100% funcional, que ela está praticamente perfeita, aí sim a gente já consegue ter um produto viável, um MVP, pra poder começar a testar. Todo o restante de features que foge do escopo do core business do produto, não precisa ser feito de imediato e também não é necessário ter tanto esforço inicial pra poder desenvolver.

É até preferível, muitas das vezes, criar produtos separados para features específicas, modularizar seu sistema ou coisa do tipo. Essa é outra dica que eu dou pra todo mundo que me pede consultoria nessa área, porque eu vejo que é um problema muito sério. Por exemplo, o cara começa a fazer um sistema para controle de condomínio e ele começa com a parte de geração de boleto, ok, o core business é gerar boletos de condomínio mais baratos. Dali a pouco ele quer fazer um sistema financeiro, depois ele quer fazer um sistema de controle de catraca, um sistema de controle de churrasqueira… Por fim vira um negócio gigantesco, uma Medusa, e a parte de boleto, que era a principal feature do sistema dele, fica largada. Então, ter foco no desenvolvimento de um produto é super importante, entender qual é a principal feature do produto também é extremamente importante.

Às vezes pode acontecer, e inclusive acontece com certa frequência, de começar o produto de um jeito e ele ir evoluindo para outro tipo de produto, aí às vezes é até interessante você mudar o nome do produto ou criar um produto a parte, porque uma feature começa a se sobressair com relação ao que você inicialmente achava que seria a feature mais importante. Nesse caso, você precisa ter métricas nos seus produtos para conseguir fazer essas análises de forma mais coesa, se você não coletar informações, não vai conseguir entender o que é que está sendo mais utilizado. Testar também é muito importante, fazer testes cegos, fazer teste A-B, pra você conseguir entender o que está acontecendo. Às vezes você faz pequenas modificações dentro de uma feature e ela passa a ser utilizada, ou ela começa a ser mais utilizada, por motivos que aparentemente nem parecem fazer tanto sentido, mas cria um entendimento psicológico diferente. Um exemplo que é muito utilizado, que todo mundo fala na parte de UX, são as cores dos botões: botão vermelho acaba levando o usuário a achar que é uma opção negativa ou que requer mais atenção. Se você for pegar o caso do YouTube, os botões são vermelhos, porque a logo do YouTube é vermelha, então eles utilizam a mesma cor na parte de UX e isso não causa estranheza pro usuário na hora de clicar. Mas existem casos em que as pessoas são induzidas a não ler o botão, o que acontece com certa frequência também, e acabam apertando ou não. Isso é muito utilizado em sistemas de instalador, tipo do Baixaki, que você acabava clicando no botão errado, porque o botão de “Não” ficava meio escondidinho ali, em cinza, e o botão de “Sim” ficava colorido. Obviamente é feito pra você cair numa pegadinha e acabar aceitando os termos e instalando coisas que você não queria. Mas no geral isso não impacta diretamente quando a gente está falando de um produto mais normal, tipo um site ou um app, tanto que, vocês podem perceber, FaceBook, YouTube, e vários outros sites, não têm um padrão de cor de botão pra tudo.

A gente sempre precisa estar analisando o comportamento das coisas que está fazendo e, pra isso, a gente precisa analisar informações de uso, informações de click, informações de partes que são mais acessadas. Tenha um bom BI, um Firebase, um Google Analitics e comece a analisar essas informações para entender pra onde que o produto está andando antes de querer fazer mais features. Muitas vezes lá no Vigia eu não deixava fazer uma feature nova, eu priorizava mexer nas features que já existiam, que poderiam ser melhoradas, e várias vezes a gente conseguiu fazer melhorias em features já existentes e conseguimos potencializar a receita em cima delas. É importante a gente sempre ter isso em mente quando estiver desenvolvendo um produto, pra não ficar perdendo tempo a toa em features que não vão ter tanta relevância assim dentro daquele sistema.

Espero estar ajudando vocês aí nessa parte de produto, é uma área que eu gosto bastante, mas não é a minha área principal de atuação, eu trabalho mais na parte de backend, mas tenho um pouco de experiência porque já trabalhei em cima de alguns produtos bem grandes.

Como recomendação para quem está interessado na parte desenvolvimento de produtos e empreendedorismo, vou deixar alguns post relacionados aqui:

O conteúdo deste post foi baseado no vídeo “Embalagem Bonita Não Salva Produtos Ruins”: