Você já parou para pensar quais são as variáveis de negócios que levam algumas empresas a terem sucesso e outras não? A verdade é que a maioria das empresas quebra, mas o que faz empresas ficarem gigantescas, igual um Google da vida? Eu vou refletir aqui sobre as variáveis que abrangem um negócio.
As pessoas, de uma maneira geral, tendem a acreditar que o que elas precisam para um negócio dar certo é ter dinheiro, mas isso não é verdade, e eu vou explicar o porquê. Eu já participei de vários projetos, de tamanhos diferentes, desde empresas com milhares de funcionários até empresas pequenas, com duas ou três pessoas, inclusive eu fundei empresas, injetei milhões nela, e a empresa faliu, mesmo tendo experiência, mesmo tendo excelentes profissionais, mesmo sabendo o que a gente estava fazendo, a gente não teve sucesso. Por quê? Porque montar um projeto, e eu gosto sempre de chamar de projeto que de fato vire uma empresa, é um processo de aprendizado que tem várias variáveis no meio do caminho. Algumas dessas variáveis a gente consegue prever, outras a gente não consegue prever. Quando a gente vai começar um negócio a primeira e mais importante de todas as coisas, é analisar quanto a gente entende daquele business e conseguir fazer um estudo de mercado, mas essa análise tem que levar em consideração não só os números bonitos de vendas e coisas positivas, mas também entender sobre quem manda nesse mercado.
Tem uma analogia que eu vi recentemente, falando que existem três tipos os negócios: Os extremamente inovadores, que normalmente são feitos por pessoas extremamente disruptivas e inteligentes, mas esses negócios demandam tempo para serem criados e normalmente enfrentam uma resistência absurda do mercado. E isso acontece para tudo, por exemplo, quando criaram o carro, existia o mercado de charretes, e os fabricantes de charretes se revoltaram, fizeram protestos e tudo mais, para tentar tirar o carro de circulação. Esse movimento acontece sempre em mercados inovadores, em mercados “oceano azul. Então ser um inovador é uma tarefa muito árdua, porque você vai ter que lidar não só com fatores tecnológicos, mas com fatores de legislação, de treinamento do mercado, o seu produto precisa ser extremamente bem feito e ter uma divulgação absurda, além de ter que trabalhar o lobby, para fazer com que esse produto entre no mercado. Um exemplo recente são os carros autônomos. Essa é uma tecnologia que não se discute de agora, existem protótipos de carros autônomos há mais de 10 anos, mas sempre existiu uma discussão muito grande com relação, por exemplo, à responsabilização por um acidente: se um carro autônomo bater, quem é o culpado, a empresa que desenvolveu o carro, a empresa que fez a IA? Quem é o responsável? Hoje, quando bate um carro, a pessoa dirigindo é responsabilizada e você tem alguém para culpar, e as legislações sempre buscam uma culpabilidade, você precisa ter alguém para culpar, seja uma empresa, seja uma pessoa.
Tirando esse aspecto de inovação, tem um cenário que é pegar mercados que já existem, mercados que já foram “capinados” e inovar dentro desses mercados, que foi basicamente o que eu fiz a minha vida inteira: pegar produtos que já existiam e fazer eles melhores, e ganhei muito dinheiro ao longo do processo, reconstruindo o mercado que já existia e trazendo inovação. E, no meu ponto de vista, essa é a melhor opção média, se você quer fazer alguma coisa, não precisa ser inovador demais, tente fazer melhor alguma coisa que já existe, é uma forma muito boa de você ganhar dinheiro. E existe um terceiro cenário, que é quem copia descaradamente das pessoas que estão criando inovações. Quando surgiram os primeiros navegadores, por exemplo, um deles se destacou muito, o Netscape, e a Microsoft literalmente copiava todas as funcionalidades para tentar derrubar a empresa, que era pequena em comparação à Microsoft, que praticamente monopolizava a indústria de tecnologia daquela época. Então a Microsoft utilizou de tudo que podia para poder estrangular a empresa, mas eu já contei melhor essa história em outro post e vou deixar ele fixado no final. O problema de quando você só copia e não inova é que, se você mata o seu concorrente que está inovando, você não tem mais de quem copiar. Por isso que inovar dentro de um mercado que já existe é a melhor opção dentre essas três.
Mas, pois bem, vamos supor que você já tem sua ideia revolucionária, de uma nova rede social sensacional, que vai destruir o Facebook, que é uma ideia que eu sempre ouço as pessoas falando, nós temos outros fatores que não só tecnologia e dinheiro: tem uma questão muito relevante, que é imprevisível [e não tem como ser diferente], que é o tempo do mercado. Provavelmente se alguém chegasse com essa ideia no mercado dos anos 2000, iam falar que você era maluco, porque ninguém tinha tido contato com uma rede social. Toda vez que você tem uma visão muito à frente de todo mundo, normalmente as pessoas não consegue entender onde você está enxergando, mas isso não quer dizer que você está errado, só que o mercado vai ter que passar por uma transformação até conseguir se adaptar a essa nova realidade. Por isso que eu falo para quem me perguntam sobre cripto que, quando as pessoas entenderem que o mercado de cripto é muito semelhante ao mercado bancário que a gente tem hoje, e o PIX é a prova disso, você começa a tirar barreiras das pessoas comuns, que acham que é um universo muito doido, muito difícil, mas é o problema da inovação, a inovação sempre parece muito doida, parece extraterrestre.
E a variável do mercado é tão poderosa que pode impulsionar um produto ou pode destruir também esse produto. Lançar um produto no momento errado pode causar a destruição da sua empresa, ela pode cair no ostracismo e pode parecer que aquilo ali não fazia sentido mesmo. Diversas vezes eu fiz projetos, lancei, encontrei uma resistência absurda do mercado e acabei deixando o projeto de lado, só para, tempos depois, ver algum produto muito parecido tendo sucesso. Por que isso acontece? No meu ponto de vista, é porque o mercado passa por um amadurecimento constante. Em 2007/2008, eu tinha um projeto muito parecido com o Booking.com, para fazer reserva de hotéis, mas os hotéis falavam que não tinham interesse, que não precisavam disso, que tinhas as agências de turismo, e tal. E eu tentei durante vários meses e não consegui fechar cliente nenhum, até que eu desisti do projeto e, algum tempo depois, o Booking.com e o Decolar.com viraram gigantes. E mesmo se eu tivesse dinheiro pra tentar manter o projeto, existe todo um lobby que é preciso fazer.
Eu estava assistindo a um documentário muito interessante da Netflix, que lançou recentemente, que conta a história, sob vários pontos de vista, do Spotify. Eu quero destacar alguns pontos aqui, sem dar spoiler, que ele mostra como é que uma empresa de forma e os pontos de vista que cada pessoa do processo tem. Então, a série coloca a visão do fundador, a visão dos advogados, dos programadores que fizeram o Spotify, a visão dos sócios do Spotify, e a visão dos artistas, dos músicos que estavam tendo suas músicas sendo reproduzidas. E você percebe que nunca dá para agradar todo mundo, toda vez que você direciona para um lado pro negócio dar certo, vai desagradar outra área. Parece que o Spotify é um produto de tecnologia pura, ele é super inovador, ele é rápido, ele é bonito, ele á clean, e tudo mais, mas o Spotify não existiria se não fosse o lobby. Assista ao documentário, que você vão entender o que eu estou falando. E, por causa desse fator do lobby com a indústria fonográfica, o fundador do Spotify teve problema com a equipe técnica, ele teve problema com os artistas, e isso acontece com frequência, de esbarrar numa barreira que parece intransponível e você tem que se dedica à resolução daquele problema. Eu falo com certeza que tecnologia é 10% do problema, sempre tem muita coisa além de um bom sistema, um bom site, você tem o marketing, o comercial, você tem o lobby, tem o mercado, tem o timing, você precisa investir e constantemente captar dinheiro para crescer, e sempre tem risco de concorrentes, que podem surgir ao longo do processo e te matar.
Essas variáveis todas do negócio não são tão previsíveis assim, é muito difícil você tentar chegar a um plano de negócios com todas as variáveis, ou fazer uma análise swatch completa, tem muita coisa que vai passar, que você nem sabe que existe até chegar a determinado patamar. Quando você é uma empresa pequenininha, que não está criando expressividade dentro de um mercado, você consegue trabalhar como se estivesse de férias, tudo é maravilhoso. Quando você começa a ter uma expressividade dentro de um mercado, começa a incomodar os gigantes que estão mantendo um monopólio ou oligopólio desse mercado, aí você começa a entender a politicagem que existe em todos os mercados, e essa politicagem pode te destruir. Eu quase fali a minha empresa por negligenciar justamente a questão política, por demorar a entender que, quando você está numa disputa de concorrência de alto nível, com vários concorrentes milionários, essa disputa nunca é justa e ela não é aberta nem é limpa. É muita fofoca, é conversa de bastidor, é tentar controlar as pessoas, controlar os contratos, e isso é em todos os mercados, não é só em um mercado específico. Todo mercado vai ter lobista, vai ter gente corrupta, clubinhos, porque quem está lá no topo, em qualquer mercado, não quer perder o seu posto de top1 pra ninguém que está chegando, principalmente se é uma empresa de 15 anos de mercado, com 400 funcionários, e está chegando uma empresinha, com meia dúzia de pessoas, mas que está inovando mais.
Quando há uma movimentação assim, que os grandões tentam fazer o que? Ou eles tentam destruir os pequenos ou eles tentam comprar aquele negócio menor, pra ele ficar cada vez maior, cada vez mais pesado. E essa tática canibal do mercado é combatida em países mais sérios, que não tem o risco jurídico como tem aqui no Brasil. Aqui o judiciário, em vários níveis diferentes, tem problemas com sentenças que beneficiam alguns poucos que tem contatos estreitos com alguns juristas. A gente não tem certeza se a lei vai ser aplicada como deveria, existem muitos recursos, você pode sufocar financeiramente só com processos e recursos, fora a pressão psicológica. Algum dia eu e o Douglas [Mesquita, o Rato Borrachudo, meu sócio em diversos empreendimentos] vamos falar mais abertamente sobre um caso que aconteceu com a gente, uma tentativa idiota de sufocamento jurídico, que não deu em nada, mas foi uma tentativa. Nos EUA, por exemplo, que é um mercado mais maduro, a prática de monopólio/oligopólio dá cadeia, por mais que seja um processo caro, geralmente processos de antitruste gira em torno de 2 a 3 milhões de dólares, mas quando uma empresa é culpada, mesmo sendo uma Big Tech, como a Microsoft, ela sofre punição, paga bilhões em indenização, e tal.
Isso, aqui no Brasil, não acontece, vários mercados são verdadeiros monopólios/oligopólios e nada acontece. Chega ao ponto que os órgãos que deveriam fiscalizar esses monopólios indicarem o presidente desse órgão, é bizarro. Tem até uma entrevista do Luiz Barsi, que, para quem não sabe, é o maior investidor pessoa física do Brasil, e ele fala como é a organização da Bolsa de Valores brasileira, quem é que manda. Teoricamente tem um órgão chamado CVM [Comissão de Valores Mobiliários], que deveria regular essas práticas de mercado, mas o cargo de diretor da CMV é uma indicação política. Os caras que deveriam estar fiscalizando os monopólios e toda a manipulação do mercad, estão mancomunados com o restante da galera que manda nas coisas, isso é um exemplo do que tem no Brasil. O pessoal costuma reclamar muito da política no Brasil, mas a política é só um reflexo de todo o resto. Para mim, a indústria privada é tão corrupta, se não mais, do que a pública, que ainda sobre algum tipo de punição. Na indústria privada tudo fica por de baixo dos panos e as empresas aparecem ilibadas na bolsa de valores.
Tem uma frase que eu acho ótima, que é “a ignorância é uma benção”. Antes de saber como as coisas funcionam, como o Brasil funciona, eu tinha a impressão que dava pra entrar em qualquer mercado com tecnologia nova e mudar tudo, ganhar muito dinheiro e tal, mas hoje eu tenho uma visão completamente diferente. Antes de começar qualquer negócio você precisa entender todas as variáveis ao longo do seu caminho, precisa saber quem é que manda no mercado que você está entrando e tomar uma decisão muito difícil: se você vai se alinhar com esse cara ou se você vai ser concorrente dele. Entenda que essa decisão é super importante para a vida da sua empresa, pra ser mais fácil ou mais difícil. Tem pessoas que optam pelo caminho mais fácil, que é se fechar num clube e ter todos os benefícios de estar protegido por um cara gigantesco, mas vai ter uma série de limitações de até onde você pode ir. E outras pessoas, como eu, talvez sejam mais burras, sei lá, mas eu gosto de criar coisas que eu não tenha rabo preso com ninguém, eu quero a liberdade de tomas as minhas próprias decisões e, obviamente, aceitar as consequencias das decisões que eu tomo, para bem ou para mal, e não é fácil tomar essa posição, é muito mais fácil você fazer parte do clube. Lutar contra esse sistema é muito difícil, você toma porrada de tudo quanto é lado, você vê claramente coisas erradas acontecendo e não pode fazer nada.
Pra esse post não virar um desabafo da minha tristeza de ver tudo isso acontecendo, saiba que empreender é uma tarefa difícil, que exige muita energia, muita persistência e uma análise muito frequente de como estão as coisas, porque quando as coisas parecem muito calmas, geralmente você está sendo negligente e podem estar acontecendo coisas que você não está vendo, mas que podem destruir a sua empresa. Por ser empreendedor é uma tarefa complicada, que exige muito das pessoas, você precisa estar o tempo todo olhando pro lado e vendo o que é que está acontecendo, o que os seus concorrentes estão fazendo, se estão surgindo novos concorrentes, você tem que ter um mapeamento estratégico do negócio. Só que, por mais que seja difícil, a tecnologia nos permite uma coisa sensacional, e eu provo por case próprio: meia dúzia de pessoas numa sala consegue desenvolver coisas tão fodas a ponto de incomodar os gigantes, em pouco tempo. Só não seja tão bobo, igual eu fui, de não olhar para todo esse cenário de uma forma como se você estivesse lutando uma guerra, porque você está num cenário de guerra. É por isso o livro “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, por mais antigo que seja, é tão atual e tão recomendado entre os empreendedores, pra entender que você está lutando uma guerra e a qualquer momento você pode ser assassinado.
Ninguém está feliz por você estar ganhando dinheiro, porque se você está ganhado dinheiro, alguém está deixando de ganhar. E, às vezes, para um cara gigante, que fatura milhões, aquele dinheiro não vai fazer falta, mas ele não vai deixar você ganhar, não pelo fato de fazer falta no faturamento dele, mas porque você representa um risco futuro pro negócio dele. Toda vez que uma empresa grande deixa um concorrente crescer, ela corre o risco de ser passada por esse cara. Por mais que seja difícil vencer o lobby, por mais que seja difícil vencer a burocracia, e tudo mais, é possível, desde que você consiga entender que isso existe. Antes de combater um inimigo, você precisa saber que ele existe, se você não sabe que ele existe, pode ser pego de surpresa, e um inimigo poderoso te pegando de surpresa, é só uma facada no coração e acabou, entendeu? Vou deixar essa reflexão aí pra vocês.
Eu vou ficando por aqui. Se você estiver gostando do conteúdo, compartilhe com seus amigos. E me sigam no Twitter, para acompanhar mais novidades.
Eu já fiz outros posts falando sobre a vida de empreendedor, vou deixar alguns recomendados aqui:
O conteúdo deste post foi baseado no vídeo “Variáveis de negócio”: