Hoje eu vou falar o que os ricos não te contam, o que só quem já teve lá em cima sabe. Eu vou falar sobre o meu caso pessoal, obviamente existem posições que eu ainda não alcancei, eu nunca fui bilionário, mas já fui milionário e existem regras não ditas nesse mundo que você só descobre quando você chega lá.

No começo eu achava que ser um bom profissional e fazer um bom produto era suficiente para que tivesse sucesso na minha trajetória. Então minha vida inteira eu trabalhei, estudei, me especializei, me tornei muito bom no que eu faço, para construir produtos muito bons e, assim, ter sucesso. As coisas começaram a se direcionar, começaram a dar certo, e a minha empresa começou a crescer, eu conheci pessoas influentes, pessoas famosas, e tal. Quando você começa a crescer, começa a esbarrar no topo da cadeia alimentar, que está lá em cima, controlando o mercado. Todo mercado tem alguém controlando, que está em primeiro lugar, e você começa a perceber que você precisa escolher se você quer fazer parte do clubinho que manda, que vai ditar regras de como deve ser seu modo de operação. É uma escolha muito complicada, honestamente, mas é o caminho “mais fácil”, você vai lá, baixa a cabeça, faz o que eles mandam, e você vai ter sucesso, vai ter dinheiro, vai conseguir crescer. Mas você vai crescer até quando eles quiserem, sempre vai ter um teto, quem está no controle não vai deixar você crescer tanto assim. É burrice pensar que esse grupinho quer o seu sucesso, mas eles preferem que você esteja com eles a estar do outro lado, competindo contra eles.

Do outro lado estão pessoas, provavelmente de médio porte, querendo chegar ao topo. Quando você começa a entrar nesse estágio do seu negócio, o jogo começa a ficar muito baixo, tudo que antes você achava importante, paridade, competência, etc., cai por terra e começa a virar uma briga de oratória, de relacionamentos, de lobby, começa a virar um conflito de destruição bipolarizado. Tem alguns livros que falam que você tem que eliminar completamente o seu inimigo, não pode dar chance desse inimigo voltar para tentar cortar a sua cabeça, e isso eu concordo plenamente. Se você está numa briga velada com um concorrente seu, tenha sempre isso em mente, ele não vai ter piedade da sua empresa, de você, ele não quer saber se você vai ter que demitir pessoas, ele vai destruir seu negocio e ele vai até o final, ele vai tirar tudo que você tem. Então você tem que jogar com os seus concorrentes da mesma forma como eles jogam com você e, se tiver a possibilidade, você tem que destruir eles, é uma questão de sobrevivência. O mundo é assim, pequenos grupos, nas sombras, manipulando, controlando, para sempre permanecerem no controle, nada diferente do que a gente já não saiba. Todo mundo sabe, só não quer acreditar que é assim. E se você vai pro mercado despreparado, achando que sempre vai ter um lugarzinho pra você ali, você vai morrer, sua empresa vai falir, você vai perder seu tempo. É melhor nem tentar fazer nada, fica sentado na sala vendo Netflix, se você não tem estomago pra lidar com a realidade do mercado.

São raríssimos os casos em que você vai criar de fato um mercado novo e vai ser o cara no topo, mas você vai conviver com outras pessoas tentando entrar no seu mercado e tomar seu posto. No começo pode parecer que é uma métrica de vaidade, por todo o trabalho que você teve, mas é uma questão de controle. O ser humano adora estar no controle, adora o poder, passa do espectro de financeiro. Chega determinado momento em que você está faturando legal, seu concorrente está faturando legal, vocês até poderiam coexistir, mas não, ele vai querer te matar para ficar com tudo, porque ele vai ganhar mais, ele vai ter mais poder, ele vai controlar aquele mercado.

Esses grupos se fortalecem puxando outras pessoas. Eu não vou citar nenhum em específico aqui, mas o Brasil é cercado por esses grupos, e não são muitos, deve ter uns 3 ou 4 grupos grandes de empresários e políticos que mandam no Brasil. Esses grupos rivalizam, mas há certa ética quando se está na casa dos bilhões, porque eles sabem que podem se auto-destruir. Mas com qualquer pessoa abaixo eles agem com uma agressividade bizarra, e eu estou falando isso por experiência própria. Eu senti isso na pele, um concorrente fez de tudo para destruir a minha empresa e quase conseguiu. Foi um jogo baixo durante anos, jogo de fofocas, de intrigas, de plantar informações falsas para ir minando os relacionamentos, minando financeiramente a minha empresa, para eu ficar sem possibilidade de reação. Mas o outro lado nunca sabe o que vai acontecer de fato, com quem você pode se aliar e às vezes você pode se aliar com alguém mais poderoso que eles e acaba revertendo o jogo. No meu caso em específico, eu cometi um erro muito grande de querer focar no produto, porque eu achava que o meu produto era muito superior (e realmente era) e que, em algum momento, a superioridade do produto iria fazer a gente ganhar o jogo, ou pelo permanecer vivo. Mas o jogo era muito mais complexo, envolvia muito mais relacionamento e lobby do que propriamente só um produto bom, e esse foi o meu erro. Enquanto eu estava pensando em melhorar o meu produto, do outro lado estavam pensando como me destruir, e era fácil me destruir, era só tirar as pessoas que me davam poder, por isso tiraram meu sócio da empresa, depois começaram a minar minhas fontes de receita, até que eu fiquei contra a parede e tive que vender a empresa. Se eu tivesse entendido o jogo como eu entendo hoje, o meu esforço teria que ser destruí-los e não só focar em fazer um produto bacana. Não que não seja importante ter um produto legal, ele que vai encantar e vai fazer com que os seus clientes te amem, mas o jogo de bastidor também é estratégico. As pessoas não entendem que a parte estratégica da empresa não existe só para ditar como os processos e produtos precisam ser encaminhados, a parte estratégica existe justamente para conseguir entender quem são os seus concorrentes, se eles são nocivos ao seu negócio e como contrapô-los, como combatê-los, como destruí-los, se for necessário. Os concorrentes são o maior risco para qualquer empresa, os concorrentes são seus inimigos e vão utilizar de qualquer técnica que for necessária pra te prejudicar de alguma forma, seja comercialmente, seja financeiramente, seja em relacionamentos, tirar algum contrato.

Quem já trabalhou em empresas grandes sabe disso, a diretoria se preocupa muito mais com como exterminar ou comprar os concorrentes do que propriamente fazer melhorias no produto. Melhorias no produto podem até melhorar a receita, mas depois que você já está estabelecido, isso vai se tornando mais difícil, você vai crescer +2%, +5%, enquanto um concorrente fazendo lobby pode fazer com que você perca muito mais que isso. Então, normalmente, as empresas grandes deixam a “baixa staff” e os funcionários “enfeitando o pavão” e os diretores e os altos escalões da empresa ficam preocupados com como vão fazer para destruir outros negócios, como vão fazer aquisições, justamente para permanecerem lá no topo das suas colinas, dos seus Olimpos. E eles também não se importam com as leis contra monopólios, a gente está no Brasil e as coisas aqui são complicadas, para dizer o mínimo. Até que a justiça efetivamente faça alguma coisa… Isso se o judiciário também não estiver envolvido nesses clubes, porque tem membros do judiciário próximos a algumas empresas. Quando eu falo de gente poderosa, desses clubes de poderosos, envolve altas cúpulas do judiciário, do executivo, grandes empresários, ou vocês acham que essa briga que acontece no Brasil por questões políticas que envolvem empresários e artistas é simples e puramente por questões ideológicas? No meu ponto de vista, isso é puramente por questões de interesse. Que interesse um dono de uma empresa poderia ter num presidente ou num governador? Incentivos, redução de impostos, poder, influência, lobby, facilitar importações, até mesmo incentivos à cultura. Para mim é tudo uma briga de interesses, não tem nada de ideológico nessa história, mas se você gosta de ficar se iludindo e achando que todo conflito é puramente por ideologia, você é mais uma pessoa que, no meu ponto de vista, está sendo manipulada por toda essa estrutura e não esta ganhando nada no final do processo (ou pode ser que esteja ganhando também, sei lá).

Se a gente começa a entender como é que funciona o mundo, como é que funciona o Brasil, a gente começa a tomar decisões um pouco diferentes do que a gente normalmente tomaria. Quando vou começar um projeto novo, eu começo pensando que preciso ter pessoas influentes para conseguir tocar o projeto, senão o negócio não vai andar, ou pode até andar, mas vai chegar determinado momento que eu vou esbarrar em fulano ou cicrano e começar uma briga. Eu pessoalmente não gosto de fazer parte de clubinho e isso me prejudica pra caramba, obviamente, eu não gosto de ver coisa errada, eu não gosto de ver diretor de empresa recebendo propina, nem nada do tipo, eu já vi muito isso acontecendo. Aí eu acabo migrando para projetos que são totalmente fora do espectro comercial que existe atualmente, tentando buscar novos caminhos em cenários que não existem aqui no Brasil, ou que são pouco explorados, para sair um pouco dessa politicagem que existem nos mercados tradicionais. Eu vivi isso nos últimos anos e é uma merda, você perde muito tempo se estressando, com risco iminente de acontecer o que já aconteceu comigo e só depois que você passa por uma dessa, que você sabe como é. Eu até evito entrar muito nesse assunto, porque eu sei que os meus inimigos, mesmo eu tendo vendido a minha empresa, continuam me seguindo no LinkedIn, vendo os meus conteúdos, tendo contato com os meus sócios, me mapeando, para entender se em algum momento eu vou voltar a atacá-los. Eu até falei num post que eu fiz recente, que inimigo é para a vida inteira, toda vez que você tem a oportunidade de dar uma cutucada em alguém que te fudeu, você não vai perder essa oportunidade, principalmente porque, da mesma forma como me fuderam, eu tenho muita informação da operação dos caras, porque eu também procurei saber do outro lado, conversei com pessoas e tudo mais. Mas honestamente, hoje em dia eu estou muito mais preocupado em fazer coisas novas e me distanciar o máximo possível desses 5 anos que eu tive aí, que foram extremamente desgastantes, me deixaram muito estressado, com muito cabelo branco, para acabar do jeito que acabou. Quem me conhece sabe que foi um período muito estressante da minha vida, muito mesmo.

Para quem pensa que empreender é uma coisa simples, eu gosto de uma reflexão da Monja Coen, quando ela foi no Flow, ela falou que a espiritualidade é como se fosse escalar uma montanha, no começo tem graminha, é verde, você consegue caminhar de boa, a medida que você vai subindo, a montanha fica cada vez mais íngreme e perigosa. O empreendedorismo é exatamente dessa forma. No começo é tudo lindo, é maravilhoso, você conhece pessoas. À medida que você vai subindo, vai ficando cada vez mais tortuoso, frio, sem oxigênio, qualquer errinho pode te fazer cair ladeira abaixo e é uma queda grande. Quando mais você sobe, maior a queda, já diz o ditado, se você cai, você pode morrer, é simples assim. Hoje eu tento falar desse assunto mantendo nomes e tudo mais em sigilo, porque eu sei que, na prática, para mim não vai adiantar de nada, o máximo que vai acontecer é eu tomar um processo por estar falando.

Se eu fosse deixar uma mensagem, é que o mundo é muito diferente do que a gente pensa, ele é muito mais sujo, ele é muito mais sangrento. Pessoas vão te receber bem, vão te tratar bem, vão rir da sua piada e vão estar te esfaqueando pelas costas, e você vai demorar a entender isso. Acho que muito raramente tem algum tipo de vínculo de amizade nos negócios, sempre existe muito interesse envolvido, tanto de um lado quanto do outro. É muito raro de você conhecer ume pessoa que é realmente boa, que você consegue conversar e de fato a pessoa quer ter uma troca de informação. Normalmente o que acontece, principalmente com empresários que estão muito lá no topo, é que eles vão estar muito mais preocupados com quanto dinheiro podem ganhar com o seu conhecimento e com a sua capacidade do que propriamente fazer alguma coisa para te colocar lá em cima. É idiotice pensar que as pessoas vão ter ajudar porque são boas, normalmente elas vão ter ajudar porque têm medo de você, ou porque têm interesse no que você sabe e no que você pode fazer para elas.

Obviamente, eu sofri disso também, porque eu sou um programador razoavelmente bom, acredito eu, e muitas pessoas chegam para conversar comigo justamente por entenderem que eu tenho uma capacidade de criar produtos e soluções das quais elas podem se beneficiar. Honestamente, quando é uma relação transparente, que ficam bem claros os interesses dos dois lados, você não precisa ser amigo de todo mundo quem faz negócio. Mas a relação precisa ficar muito clara, eu estou entrando com o meu conhecimento de um lado, você está entrando com X coisas do outro, e está tudo certo, não tem nenhum problema quanto a isso. O problema é quando a relação não é clara, a pessoa te explora e não te ajudar a atingir os objetivos que você quer, mesmo que vocês tenham acordado. É uma situação que acontece com certa frequência e já deve ter acontecido com todo mundo por aí, de se sentir usado pelas pessoas, pelos empresários, por isso eu acho que tem esse estigma que os empresários são pessoas más, que só querem sugar o trabalhador. Uma grande parcela, sim. Uma grande parcela são usurpadores, querem sugar o máximo e ainda pagam mal. Existe uma pequena quantidade de bons gestores que pensam um pouco melhor em manter o funcionário com certa tranquilidade financeira, não por uma questão de bondade, porque nenhum empresário dá aumento porque acha que a pessoa é maravilhosa e que merece, ele quer é que a pessoa se mantenha produtiva. Uma fração mínima de empresários de fato entendem o mundo de uma forma diferente e realmente vão se importar com o bem estar das pessoas. Mas quando você tem muito dinheiro, esse sentimento de se importar com o bem estar alheio fica muito reduzido. São raros, raríssimos, a maior parte dos empresários estão mais preocupados em reduzir os custos e aumentar os lucros, e não sei se estão certos ou se estão errados. Eu já passei por várias fases, eu tive fases em que eu só me preocupava com o dinheiro, e isso não me fazia tão bem, mas também deixar de me preocupar com o dinheiro me fez muito mal, perdi muito dinheiro sendo bonzinho demais, milhões, achando que ia montar um cenário utópico de uma empresa com liberdades e o caralho a quatro. É sempre uma faca de dois gumes, você pode se dar bem ou pode se ferrar, independente da forma como você vai agir, mas saber da realidade e de tudo que acontece esclarece um pouco como é que o mundo funciona, e aí você toma as suas decisões de que caminho quer seguir, se você consegue botar a sua cabeça no travesseiro no final do dia e consegue dormir. Eu, pelo menos, mesmo que tenha acontecido uma série de coisas na minha vida nos últimos anos, consigo botar a cabeça no travesseiro e dormir em paz, por saber que fiz o melhor que eu podia fazer, fui honesto, eu sempre tratei muito bem as pessoas e sempre trabalhei para fazer um serviço de qualidade, nunca paguei ninguém de outra empresa para me beneficiar. Eu me prejudiquei muito pela postura que eu tinha, que eu tenho até hoje, de ser assim, jogar às claras, e falar na cara das pessoas quando eu não gosto delas, mas eu não me arrependo, acho que se eu tivesse feito de forma diferente eu não estaria bem comigo mesmo.

Empreender é uma tarefa muito difícil, muito complicada, você precisa ter muito sangue frio para conseguir conviver com esse dia a dia. Às vezes é extremamente desmotivador, chega ao ponto de dar vontade de desistir da porra toda. É uma coisa que o Igor 3K fala muito lá do Flow, “cara, eu penso em desistir todo dia”. Eu também penso em desistir todo dia, mas o que me mantém com a cabeça pra cima, tentando, é poder proporcionar uma qualidade de vida para a minha família, poder ajudar as pessoas que eu amo. Para mim parece que acabou virando um vício fazer coisas e conhecer pessoas. Não são só flores, não são só dias bonitos, é bem solitário, é complicado, enfim, esse post está se estendendo demais… Eu vou só deixar uma mensagem final: se você quer empreender no Brasil, ou até mesmo se você não tem vontade de empreender, mas quer entender um pouco mais como é que o mundo funciona, estude, escute pessoas boas, que realmente vão falar a verdade para você, não fique vivendo nesse fluxo de ilusão, nem fique fora das discussões importantes, porque você vai viver sem nenhum sentido e não estará acrescentando muita coisa na sua vida nem no mundo, você está só seguindo o fluxo. Eu, pelo menos, não me sinto confortável em estar apenas seguindo o fluxo, e acho você também não deveria.

Para incentivar quem quer dar o primeiro passo, eu vou deixar alguns posts como sugestão de leitura:

O conteúdo deste post foi retirado do vídeo “Como funciona O Mundo? O Que Os Ricos Não Te Contam”: